Não. Estudava em São Paulo e fui tra-
balhar num shopping. Arrebentei e ga-
nhei o prêmio de melhor vendedora
do ano. Aí me perguntaram para onde
eu queria ir. Respondi: "Pra Salvador."
Quer dizer que você sempre teve
jeito para ganhar dinheiro?
É verdade (risos). Acabei vindo pra
Salvador e reboquei uma amiga como
acompanhante. Encontrei umas ami-
gas de Moema (SP), que estavam na
Bahia. Fomos parar num show da Ba-
by e do Pepeu. Era um lugar meio es-
tranho, isolado. Não tínhamos como
voltar. Comecei a pedir carona pro ho-
tel. Quando levantei a mão, o Gil pa-
rou. Ele estava com a Regina Casée
eu tinha apenas 18 anos.
Ah, mentira?! Ele parou para te dar
carona?
Sim, o Gil me deixou no hotel. No dia
seguinte fui pra praia e o encontrei lá.
Verão na Bahia, aquela turma toda.
Conheci muita gente naquele ano. Fi-
quei amiguinha do Gil e do Caetano. el 129150g
Amiga só, Paulinha! Nunca tive nada com o Caeta-
no! Era tudo muito gostoso, conheci muita gente.
Fui passar 10 dias e acabei ficando 45. Completa-
mente bicho solto. Quando acabou o verão, voltei
pra São Paulo, convertida à religião baiana. O Gil
começou a me paquerar, fez Flora pra mim... 519
Uma vez fiz um comentário que os baianos eram
iguais aos judeus e o João Ubaldo deu uma entre-
vista dizendo que concordava comigo. Sinto que
baiano dá preferência a casar com baiano, baia-
no tem muito orgulho da sua terra, das coisas da
Bahia, bota tudo pra cima. Você sentiu alguma
dificuldade por não ser baiana quando se casou
DE DIVISIO 56
com o Gil?
Eles dizem que baiano não nasce, estréia (risos). Por
não ser baiana e por não ser preta, não. Se bem que
o Gil nunca casou com nenhuma preta. Minha maior
dificuldade não foi por ser paulista ou por ser bran-
ca. Mas por eu ser jovem e ele ser famoso, e ser tu-
do o que ele é. Vivemos coisas parecidas, né? A gen-
te também estreou...
O fato do Gil ser famoso, e você ser casada com
ele, mais ajuda que atrapalha ou mais atrapalha
que ajuda?
Mais ajuda que atrapalha, porque eu não tinha uma
profissão antes de me casar. Aí comecei a tomar con-
ta do dinheiro dele, a fazer um trabalho empresarial
em cima dele. Se eu tivesse uma profissão antes, co-
mo você, se eu fosse atriz, poderia me atrapalhar,
porque as pessoas tem aquela velha mentalidade de
"a gente tem que engolir fulaninha porque é mulher
do Caetano, ou mulher do Gil". Ao mesmo tempo,
tem a Marieta, que é também mulher de uma pessoa
famosa, e conseguiu...
Mas a Marieta também passou por
tudo isso e ainda hoje se surpreen-
de com algumas situações. Outro
dia contou que foi ser entrevistada
para uma revista e a primeira per-
gunta que fizeram foi: "Como é ser
mulher do Chico Buarque?” As
pessoas têm muita fantasia. Acham
que se eu estou numa novela, é ób-
vio, é porque sou mulher do Caeta-
no. Como se o Caetano fosse bater
numa emissora para pedir empre-
go pra mim...
No meu caso, continuo a achar que
ser mulher do Gil me ajuda. Nessa
história dos bytes, por exemplo, tenho
muito mais facilidade junto às grava-
doras. É bom saber que posso contar
com isso e conduzir isso de uma ma-
neira que não me atrapalhe. Quando
ligo pra as pessoas falo que sou a Flo-
ra da GG. Mas quando preciso usar a
Flora mulher do Gil, aproveito. Ora,
tem tanta coisa chata em ser mulher
do Gil que eu tenho mais é que apro-
veitar quando preciso. É muito chato ser mulher de
gente famosa.
Uma pergunta que todo mundo faz pra mim, mas
que faz parte: como é conciliar a vida de mãe, de
empresária, de mulher do Gil...
É difícil. Quando tinha só o Bem era mais fácil. Via-
jávamos muito os três. Com a Isabela e o José ficou
quase impossível acompanhar o Gil nas turnês. Pre-
cisei criar uma boa infra-estrutura em casa. Minha
irmã Fafá veio morar comigo. Ela é minha mão di-
reita e esquerda. Viajo com o Gil quando posso. E
quando tem um filho doente, ou um filho com prova
na escola, fico naquele dia, pego o avião no dia se-
guinte, volto no terceiro para uma reunião numa pro-
dutora de Internet. É uma loucura. 19ducts
Você é muito obsessiva como mãe?
Já fui bem mais. Com o Bem, era muito estressada,
preocupada com tudo. Com a Bela foi melhorando.
Com o José sou completamente relaxada. Por isso
que o José é a criança mais despachada que conhe-
ço. Primeiro filho é barra. No segundo, a gente vai
relaxando. E o terceiro é melzinho na chupeta.
Queria saber de seus projetos futuros...
Tem a home page do Caetano, do Milton, da Gal, da
Elba e do Tom. Esses trabalhos já vão me tomar o
ano todo. Durante a feitura desses sites estarei fazen-
do também o Addresses 98. E estou fazendo também
um site para Aninha Jobim, de uma loja que vai ven-
der discos fora de catálogo e de gravadoras indepen-
dentes. Vou continuar tomando conta da GG, que é a
editora do Gil, administrando a minha vida, a dele, a
das crianças.
E viveremos todos felizes pra sempre...
De preferência, na Bahia, debaixo de um coqueiro
(risos).
"Tem tanta coisa
chata em ser a
mulher do Gil que
tenho mais é que
aproveitar quando
preciso. É muito
chato ser mulher
de gente famosa"
Flora Gil
DOMINGO 5
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