CLIENTE: Gilberto Gil
VEÍCULO: Jornal de Brasília - DF
SEÇÃO: Viva!
DATA:
Biografia de Mãe Menininha
"Menininha foi a primeira
mãe-de-santo pop."O vaticínio
do ministro/cantor/compositor
Gilberto Gil, em depoimento a
jornalista Regina
Echeverria,
sintetiza a principal imagem
que resta após a leitura de Mãe
Menininha do Gantois, uma
Biografia, recém-lançado livro
sobre a vida da ialorixá, as-
sinada por Echeverria e a pes -
quisadora Cida Nóbrega.
livro vai além da imagem
pública e midiática da filha de
Oxum, sempre rodeada de
po
líticos, como o senador Antonio
Carlos Magalhães
ou meda
lhões da MPB como Gil, Cae-
tano Veloso, Maria Bethânia,
Gal Costa e os compositores
Vinicius de Moraes e Dorival
Caymmi, que a imortalizaram
nas canções Tatamirô e Oração
para Mãe Menininha.
A biografia recupera as ori-
gens históricas e pessoais, re-
tomando os caminhos que
transformaram a a mulher
Maria
Escolástica da Conceição Na-
zareth (1894-1986) num mito.
Echeverria ressalta que o livro
revela como Menininha ganha-
va a vida antes do sacerdócio,
costurando e vendendo doces e
vísceras em tabuleiros.
Explica o nome do terreiro
de Gantois, sobrenome de um
belga, traficante de escravos e
proprietário da área onde fica o
barracão da mãe-de-santo. E
sugere como a resistência dos
negros inspiraram e se incor-
poraram à política nacional. "O
candomblé segurou a barra do
negro no Brasil, ajudando-o a
manter sua cultura, por meio
do culto aos ancestrais. E ele até
hoje deixou marcas, como a
aliança, o conchavo e a ne-
gociação, na política brasileira",
observa a biógrafa.
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Chamamento
Mais de 60 depoimentos,
fora reproduções de entrevistas
de periódicos diversos, servem
à
reconstrução da trajetória de
Mãe Menininha, descendente
de escravos, que nasceu em
1894, em Salvador, já fadada,
contam suas biógrafas, a se
tornar ialorixá do Gantois.
Depois que sua tia-avó, a
ialorixá Pulquéria, morreu, Ma-
ria Escolástica tentou escapar
do destino. Casou-se, teve duas
filhas, morou longe do terreiro,
mas lá voltou, aos 28 anos, por
chamamento dos próprios ori-
xás: "Primeiro foi Oxóssi, de-
pois Xangô, Oxu, Obaluaê. Eles
que me deram este cargo de
felicidade", conta ela em en-
trevista reproduzida no livro.
A biografia também traz
passagens bem-humoradas,
exceção que
mãe-de-santo abria para Vi-
nicius fumar e beber no terreiro.
como
a
Ou o depoimento do jornalista
e produtor Nelson Motta que,
"apavorado, meio paranoico",
foi a Salvador pedir proteção à
ialorixá. No caminho do ae-
roporto para a cidade, "num
fusca dirigido insanamente pelo
motorista", escapou de um aci-
dente. "À tarde, fui visitar Mãe
Menininha e contei-lhe, dra-
maticamente, a história. Ela riu
e me disse: 'Que felicidade, não
é meu filho? Aconteceu tudo e
não aconteceu nada!'. E con-
tinuou a rir."
A autora também traz à tona
uma insólita e divertida faceta
da mãe-de-santo: seu fascínio
pela TV. Fã de Chacrinha, a
quem atribuía um "erê" – estado
posterior ao transe do orixá,
caracterizado por humor in-
fantil - Menininha deixava o
aparelho sempre ligado. "Ela via
coisas que associava ao jogo de
búzios", narra.
Por fim, o livro relembra os
anos de doença e revela um
personagem que teria ficado "a
sombra" na trajetória da ia-
lorixá: a filha-de-santo Alabá.
IALORIXÁ
INSPIROU
MÚSICAS DE
CAYMMI E GIL
"Ela era o anjo da guarda que
fazia tudo para Menininha, que
faleceu poucos dias após a mor-
te dela, pois não via motivo para
continuar vivendo."
Mãe Menininha
do Gantos
Mãe Menininha do Gantois,
Uma Biografia - De Regina
Echeverria e Cida Nóbrega. Editora
Corrupio e Ediouro 320 páginas.
Preço médio: R$ 60