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Documentos do Arquivo Pessoal de Gilberto Gil

Instituto Gilberto Gil

Instituto Gilberto Gil
Brasil

  • Título: Documentos do Arquivo Pessoal de Gilberto Gil
  • Transcrição:
    22 Uma imagem emocionante foi o senhor e o presidente Lula na África, dançando. Pela pri- meira vez um ministro da Cultura em todo o rigor formal, ao mesmo tempo num ritual in- comum. O ministro deu espaço ao artista. É natural. Não gosto que a farda de ministro iniba o indivíduo. Invoco testemunhos de cole- gas meus. Um foi o [Antônio Nóbrega. Na Or- dem do Mérito, na hora em que recebeu a co- menda, dançou e me chamou. Depois me disse: "Fiz questão de fazer aquilo e acho fundamen- tal que você tenha colocado essa coisa do cor- po na sua gestão. Você não é um político con- ceitual. Você bota seu corpo. Você dança, você canta." Outro foi o Djavan: "Você trouxe alegria para o Ministério. Você chupa cana e assovia." Encarno essa percepção quando não deixo o protocolo ministerial inibir o artista e o ser hu- mano. Fico ali o mais íntegro que posso. O secretário-geral da ONUJ Kofi Annan sabe tocar conga? (risos) Não, não sabe. Mas está no sangue. Ele é afri- cano. É como aqui. Se você botar um tambor na mão de 90% das pessoas, alguma coisa acontece. Foi engraçado. Cruzei com ele, dis- se: "Secretário, posso lhe chamar no final?" "Mas pra quê?" "Pra tocar alguma coisa com a gente." "Vamos ver, vamos ver." O que me le- vou a chamá-lo. Aí apontou para uma conga. Sentou e tocou. ALMAYALE BRASIL Presidente nenhum pode chegar com programa pronto para fazer governo. O que tem são linhas de atuação. E digo mais, a gestão moderna é feita por fluxo. Acho mais ainda, em alguns casos, a imprensa vem se configurando num oposicionismo Alguns jornais estão claramente se opondo ao governo Isso desmonta o convencionalismo. O que eu falava: a motivação de aceitar o convi- te. O significado de alguém como eu no Ministé- rio . Ainda que surpreendente por um lado, é es- perado que eu dê o tom, que utilize "provoca- ções" desse tipo. Alguns artistas se impacientam com o governo. Boa parte chegou a se manifestar, Caetano, Chi- co. Como o senhor vê essa "desilusão"? Acho que não é uma desilusão. No caso de Caeta- no, não é integralmente, no significado da quei- xa. Porque o próprio Caetano era enfático no di- zer "não devemos esperar demasiado, as expec- tativas estão acima da possibilidade humana de atendimento". O presidente Lula chegava com uma aura, por ser historicamente a primeira vez em que a eterna oposição às elites, a cha- mada esquerda, chegava ao poder. Portanto, depositários de uma expectativa enorme. Então, a queixa de muita gente é um pouco atenuada: "O que o presidente Lula pode fazer é um gover- no real, não um governo de sonhos." Tem outra questão. É um grupo que nunca fez alianças para governar, primeira vez que experimen- ta governar a máquina. Portanto, tem a inex- periência que deve ser descontada. Temos lá, claramente, esse sentimento. Agora estamos nos afeiçoando à máquina. Presidente nenhum no mundo pode chegar com programa pronto para fazer governo. Não existe isso. Não existiu no governo do presi- dente Fernando Henrique, no governo do pre- sidente Lula, no governo do presidente Bush. O que tem são linhas de atuação. Demandas sistematizadas, ou sistematizáveis em progra- mas, e você vai implantar no momento que to- ma conta da máquina. E digo mais, a gestão moderna não pode ser pautada unicamente pe- la visão cíclica. Ou seja, fazer o plano pluria- nual, qüinquenal. A gestão moderna é feita por fluxo. Claro que você tem que ter metas, mas 60, 70, 80% da energia tem que ser gasta na gestão por fluxo, na avaliação, a cada instan- te, de cada passo. No empirismo da ação. É um pouco assim. E para isso você precisa chegar, se acostumar, criar, treinar, capacitar as equi- pes de governo que estão lá. Claro que ainda você pode ter uma avaliação de desempenho: boa ou ruim. Descontados todos esses aspec- tos, não acho que no final a responsabilida- de por competência, etc. possa ser criticada demasiadamente como vem sendo. Acho mais ainda, em alguns casos a imprensa vem se con- figurando num oposicionismo. Alguns jornais estão claramente se opondo ao governo.
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