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Documents from Gilberto Gil's Private Archive

Instituto Gilberto Gil

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Brazil

  • Title: Documents from Gilberto Gil's Private Archive
  • Transcript:
    SOCIEDADE HISTÓRIA ÉPOCA - Os protestos contra a ditadura, o vanguardismo estético e a irreverência comportamental transformaram mesmo o mundo? Ventura - Do ponto de vista político, essa geração, essa garotada, queria mudar o mundo. Achava que se podia mudar tudo através da ruptura, da revolução. A ironia da história é que eles não fizeram a revolução política, mas acabaram fazen- do uma revolução cultural. Realmente eles mudaram os costumes, mudaram os hábitos, mudaram a maneira de pensar, a maneira de ser, valores. Movimentos como o ecológico, o movimento feminis- ta, o movimento gay, o movimento negro foram movimentos que ou nasceram em 1968 ou adquiriram uma importância muito grande nesse momento. ÉPOCA - Que balanço pode ser feito, seja positivo ou negativo? Ventura - Há hoje duas maneiras de ver 1968, a apologética, de dizer que foi tudo maravilhoso, o que eviden- temente a gente sabe que não foi; e rejeitar 68 com a mesma radicalidade com que o movimento surgiu. Ni- colas Sarkozy (presidente da França) disse que ia acabar com o projeto de 1968". Mas tem no governo o que eles chamam de "herdeiros de 68". Você encontra argumentos para mostrar que muita coisa boa aconteceu - a valorização das minorias, a preocupa- ção com o outro, os movimentos cole- tivos, a generosidade, a entrega a uma causa a ponto de você arriscar a vida por ela, a ética na política, a paixão pela causa pública foram valores de 68 que são inestimáveis até hoje. Mas por outro lado houve o que eu chamo de degeneração de 68, um desvirtua- mento de algumas coisas que naquele momento eram positivas. As drogas, por exemplo: naquele momento se acreditava que eram um instrumen- to de ampliação dos horizontes, de conhecimento, de avanço da mente. Hoje as drogas são um instrumento de morte, servem para matar. @ www.epoca.com.br Leia a integra da entrevista de Zuenir Ventura 76 I REVISTA ÉPOCA 17 DE JANEIRO DE 2008 O que terminou - e o que não Em texto exclusivo para ÉPOCA, Zuenir Ventura faz um balanço do legado de um ano único O que terminou Transar sem camisinha - Os anos 60 haviam tornado o secular preservativo de borracha um inútil anacronismo. Gra ças às pílulas anticoncepcionais, aquela geração inaugurou o prazer sexual sem a ameaça da gravidez indesejada. Nos anos 80 a aids acabou com a farra, trazendo de volta o uso obrigatório da incômoda camisa-de-vênus. Em matéria de anticon- ceptivo masculino, a ciência ainda não descobriu nada que fosse mais eficaz que a popular camisinha. Segundo o psicana- lista Contardo Calligaris, o sexo protegi- do destruiu a revolução sexual. "Para um adolescente de 20 anos, transar significa ter uma ereção, colocar a camisinha, não poder retirar antes e tirar com cuidado para evitar que o preser- vativo fique dentro. Para alguém que tem 50 anos, transar é transar um pou quinho, parar, recomeçar recolocar, enfiar, se beijar se chupar." Marcuse era mais popular que Marx e Mao. Os filmes de Godard - Fora os freqüentadores de fes tivais e cineclubes, quem entraria hoje numa fila para assistir a um filme de Jean-Luc Godard? guém acertaria uma questão sobre o que pensavam os "3 Ms" que fizeram a cabeça dos jovens de 68 - mesmo sem tê-los lido. Dos três, o mais popular foi o professor universitário Herbert Mar- cuse, de 70 anos, que o New York Times chamou de "o mais importante filósofo vivo". Dos três, atualmente, o menos procurado no Google é Marcuse, com 1,15 milhão de acessos. O campeão é Marx, com 33,2 milhões. Mao tem 6.2 milhões. Nenhum se compara a outro agitador, recordista com 179 milhões de citações, embora tenha morrido com apenas 33 anos: Jesus. Hoje quase ninguém sabe quem foi No entanto, ele foi um dos principais personagens do cinema em 68, pelo que criava nas telas e pelo que aprontava fora delas (parou o Festival de Cannes, depen- durando-se na cortina do palco). O seu filme A Chinesa, lançado um ano antes, "foi, como maio de 68, uma revolução na linguagem", escreveu a crítica Ivana Ben- tes, que acrescentou: "Um acontecimen- to-signo que indicava a potência do cine ma como pensamento e intervenção, uma outra forma de fazer política". Ele continua um cult para os cineastas, mas terminou como moda para o público em geral. O que não terminou Nélson Rodrigues - Resistiu tanto e tão consensualmente que corre o risco de sucumbir ao que decretou em 68: "Toda una- nimidade é burra". Amado e odiado, é agora só admirado. Continua sendo o frasista mais citado do país, até por- que, como ele mesmo disse, As idéias de Mao, Marx e Marcuse - Se caisse num vestibular hoje, quase nin- "o brasileiro mata e morre por uma frase". Felizmente, quem não terminou foi o Nél- son Rodrigues subversivo em arte e não o reacionário em política. Pílula anticoncepcional - Desenvolvi- da em 1957, licenciada em 1960, chegou aos campi das universidades em 68. Hoje pode ser comprada sem receita médica e é distribuida gratuitamente por muitos governos. A ela, mais do que às idéias, se deve a revolução sexual da época. No Congresso da UNE em Ibiúna, a polícia exibiu para a imprensa as pílu- las apreendidas, a exemplo do que faz agora com os comprimidos de ecstasy recolhidos em festas raves. Apesar de condenadas pela Igreja Católica, que as considera um pecado, quando não um crime, são um dos medicamentos mais vendidos no mundo,
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