CLIENTE: Gilberto Gil
VEÍCULO: Folha de Londrina - Londrina
CLIPPING SEÇÃO: Folha Gente
SERVICE DATA: 11/05/2008
Katia Michelle
Equipe da Folha
Curitiba-Um trágico - e inespe-
rado - acontecimento pode ser
encarado como um fim, mas tam-
bém pode ser apenas o início de
um longo e produtivo caminho. A
segunda opção foi a escolha do
advogado, professor e ensaísta
pernambucano
Marcos Vinicios
Vilaça. Membro da Academia Bra-
sileira de Letras, ele também é Mi-
nistro do Tribunal de Contas da
União
Pai de um dos galeristas mais
importantes do Brasil, Vilaça deu
novo rumo às artes plásticas bra-
sileiras depois que a família per-
deu, em circunstâncias que até
hoje permanecem obscuras, o pri-
mogênito de três filhos. Marcanto-
nio Vilaça foi encontrado morto no
apartamento da família, em 2000,
aos 37 anos
A morte precoce do filho que
amava as artes plásticas, e tinha
uma das coleções mais comple-
tas e cobiçadas no meio artístico,
fez com que a família iniciasse
uma longa trajetória para manter
viva a memória do colecionador.
Só para se ter uma idéia, dois dos
mais importantes prêmios de artes
plásticas atualmente vigentes do
País levam o nome do filho do mi-
nistro. Marcantonio também virou
nome de escola e de três galerias,
duas delas no Brasil e uma em
Bruxelas. O Museu de Arte Moder-
na de Miami também escolheu o
brasileiro para batizar uma das
duas salas.
Foi uma das premiações em
homenagem ao galerista, o Prê-
mio CNI Sesi Marcantonio Vilaça
para as Artes Plásticas, que trouxe
o ministro para Curitiba. Marcos
Vinicios Vilaça acompanhou, na
Capital, a abertura da exposição
coletiva que reuniu as obras dos
seis artistas contemplados na edi-
ção 2006/2008 do prêmio. A mos-
tra está em cartaz na Casa Andra-
de Muricy. Lançado em 2004, pela
Confederação Nacional das In-
dústrias e pelo Serviço Social da
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Em nome do filho
O ministro Marcos Vinicios Vilaça esteve em Curitiba para
participar da abertura da exposição de um dos prêmios mais
importantes do panorama cultural brasileiro e que homenageia
seu filho, Marcantonio Vilaça, morto em 2000
Marcos Frasson
Indústria, o prêmio distribui um in-
centivo em dinheiro que totaliza
R$ 150 mil, destinados a bolsas
det individuais no valor de
R$ 30 mil.
Além dessa homenagem, o pre-
sidente Lula e o ministro da Cultu-
ra Gilberto Gil assinaram, em
2005, a lei que criou o Prêmio de
Artes Plásticas Marcantonio Vila-
ça. Questionado sobre se o trânsi-
to facilitado como ministro no
meio aristocrático e político ajudou
a projetar o nome do filho e a criar
os incentivos culturais, ele é cate-
górico: "Os projetos que criaram
os prêmios não passaram por
mim, foram iniciativas distintas",
explica. Da parte do ministro, ele
comemora o fato de as premia
ções e outros projetos envolvendo
o nome do filho serem grandes in
centivos para a arte.
O ministro elogia a atuação do
colega Gilberto Gil, mas faz uma
ressalva. "O governo não pode
confundir cultura de massa com
cultura popular". A alternativa,
conforme salienta Vilaça, está na
educação. Foi esse o recurso que
os pais do ministro usaram para
despertar o pernambucano para o
mundo das letras e das artes. Ele
também lançou mão da educação
para ensinar os filhos a gostar de
ler e de observar. "Como meus
pais fizeram comigo, eu fiz com
meus filhos"
Nascido em Nazaré da Mata, in-
terior pernambucano, Marcos Vini
cios Vilaça é filho único. Seus pais
o ensinaram desde muito cedo a
apreciar a arte barroca e popular
"Eles tiveram o cuidado de me co
locar em contato com os mais va-
Duarte Vilaça e que teve seus três
filhos (Marcantonio, Rodrigo e Ti-
ciana), a educação aprendida em
casa e o círculo de amigos intelec-
tuais se estendeu para a própria
família. Foi o que despertou, se-
gundo acredita o ministro, o gosto
pelas artes do filho primogénito.
Ele lembra que no aniversário de
15 anos, Marcantonio pediu uma
gravura do pernambucano Gilvan
Samico, um dos mais importantes
gravuristas brasileiros
Foi com essa gravura - "A Vir-
gem da Palma" - que Marcanto
nio começou a sua preciosa cole-
ção de obras de arte. Hoje, as
centenas de obras estão divididas
entre salas brasileiras e estrangei:
família. O ministro ressalta que as
ras e muitas estão em posse da
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Meu filho
entendia que a
arte não era
para ficar
pendurada em
uma parede e,
sim, para
circular. Ele
acreditava que durada em uma parede e, sim, pa-
que estão expostas nas galerias e
museus estão em regime de co-
modato. "Doação eu não faço. As
obras são minhas", reforça. Acre
dita que, assim, pode manter a
premissa defendida pelo filho de
fazer as obras percorrerem dife-
rentes locais. "Meu filho entendia
que a arte não era para ficar pen-
ra circular. Ele acreditava que o
museu só funciona se aliado a um
programa didático"
o museu só
funciona se
aliado a um
programa
didático
Atualmente, o ministro obser-
va, sem tomar partido, uma dis-
puta entre os governos de Per-
nambuco e Rio de Janeiro para
criar condições para que toda
coleção adquirida por Marcanto-
nio Vilaça seja exposta em con-
junto. Enquanto isso não aconte-
ce, ele acompanha com gosto as
iniciativas em homenagem ao fi-
lho. Ele e a mulher chegaram a
publicar um livro: "Mensagens a
Marcantonio", com prefácio de
Ana Maria Machado. Mas quando
o assunto são novas publica-
cões, sobre o filho ou sobre qual-
quer outro assunto, o ministro cita
uma conversa que teve com Ra-
quel de Queiroz e uma frase dita
si: "Se eu escrevo perco tempo
pela escritora que ele toma para
de ler". O tempo, neste caso, é
sempre aliado.
riados estilos. Sempre tive um
olho na arte popular e outro no
barroco. Um ouvido na música
erudita e outro na sanfona de Luiz
Gonzaga"
A educação juntou-se ao fato
de que a família Vilaça transitava li
vremente no meio artístico e literá
rio. Marcos Vinicios foi amigo do
sociólogo Gilberto Freyre, a quem
considera uma grande (e, por si-
pos dentro da intimidade dos
nal, ótima) influência. "Gilberto me
intelectuais", conta. Depois que
se casou com Maria do Carmo