Para pôr o projeto na rua, o ministro cer-
cou-se do "grupo dos cinco", que se reu-
niria na quinta-feira 10, mas não tinha
sido oficialmente anunciado até o fecha-
mento desta edição.
As duas últimas foram criadas pela lei que
regulamentou a tevê a cabo no País, em
1995, e abrigam todo e qualquer tipo de
interesse. Em 2004, havia mais de 30 ca-
nais de cabodifusão mantidos por 64 ins-
tituições de ensino superior. Os canais co-
munitários, nas mãos da chamada socie-
dade civil organizada, são mais de 80, se-
gundo a associação que as congrega.
São eles: os jornalistas Eugenio Bucci (ex-
presidente da Radiobrás), e Florestan Fer-
nandes Filho, o sociólogo Laurindo Lalo
Leal Filho, o assessor especial do MinC
Mario Borgneth e o assessor do gabinete
do presidente da República, Delcimar
Martins, braço-direito de Gilberto Carva-
lho, chefe de gabinete de Lula.
É tão surreal o quadro que, durante a
abertura do Fórum, o presidente da Asso-
ciação Brasileira dos Canais Comunitá-
rios (Abccom), Fernando Trezza, apro-
veitou o microfone partilhado com os mi-
O grupo terá, de um lado, as recomen- nistros para pedir uma audiência como
dações e sugestões da "Carta de Brasília", presidente da Câmara dos Deputados. Se
produzida pelo Fórum
divertiu os presentes, a
encerrado na sexta-feira
atitude imprevista não
11 e, de outro, um balaio-
deixou de causar des-
canais
de-gatos onde se mistu-
ram conchavos políticos,
estruturas jurídicas desa
finadas e interesses difu-
sos. Para entender o que
Para atrair
educativos,
o governo acena
com recursos
está em jogo, é preciso, para compra de
sobre o vasto campo pů equipamentos
blico da radiodifusão.
conforto em quem ten-
tava mostrar a seriedade
das emissoras públicas.
"Somos herdeiros de
um longo período his-
tórico em que o sistema
público foi colocado na
periferia das teves pri-
vadas. Criou-se assim
um gueto do sistema
público, ainda confundido com as esta-
tais, que estão sempre à mercê dos par-
tidos e governos", lamenta Celso Schroe-
der, coordenador-geral do Fórum Nacio-
nal pela Democratização das Comuni-
cações (FNDC), uma das 60 instituições
representadas no Hotel Nacional.
A tevê pública, conceitualmente, é
aquela que não está amarrada nem ao go-
verno nem ao mercado. A TV Cultura de
São Paulo chegou a aproximar-se do mo-
A CULTURA NA TELA. Depois de falar em tevê estatal, o ministro
Hélio Costa foi posto de escanteio. Gil, que defende um canal
público capaz de entreter, tornou-se um dos cabeças da discussão
O que o governo tem
em mira são, principalmente, as 19 ge-
radoras com outorgas de teve educativa
que congregam 1.885 emissoras e alcan-
çam 2.880 municípios. Entre elas há de
tudo: fundações de direito privado, au-
tarquias, fundações públicas, órgãos de
universidade e organizações sociais.
Além das educativas, existem as teves
legislativas (mantidas pelo Legislativo, As-
sembléias Estaduais e Câmaras de Verea-
dores), as universitárias e as comunitárias.
delo, mas basta ver o
que aconteceu nas duas
últimas eleições para a
presidência da Funda-
ção Padre Anchieta para
constatar que o projeto
fraquejou. Na segunda-
feira 7, Paulo Markun
foi escolhido o novo pre-
sidente depois de um
processo público de des-
gaste de Marcos Men-
donça (conduzido ao car-
go por Geraldo Alckmin),
encabeçado pelo gover-
nador José Serra.
Se na maior das redes
é assim, o que dizer das
demais? Um caso exem-
plar vem da TV Cultura do Pará, mantida
pela Fundação de Telecomunicações do
Pará (Funtelpa). Em 1997, a Fundação as-
sinou um convênio com a TV Liberal, afi-
liada da Globo, por meio do qual cedia 78
transmissores do interior do estado à rede
privada. Não bastasse isso, a Funtelpa pa-
gava 465 mil reais por mês à tevê das Or-
ganizações Rômulo Maiorana, sob a for-
ma de divulgação de serviços públicos.
Ao assumir a presidência da Funtelpa,
em janeiro deste ano, Regina Lima man-
dou suspender o contrato. Mas a briga ju-
rídica ainda não está resolvida. "Quere-
mos que a TV Liberal saia das nossas es-
truturas num prazo de seis a oito meses.
Mas eles vão perder mercado e, por isso, a
luta não é tão simples”, diz Regina. "Esta-
mos aqui discutindo a missão da teve pú-
blica, mas, como você vê, ainda não con-
seguimos nem resolver a relação entre pú-
blico e privado. No Pará, não conseguimos
ocupar nem os nossos transmissores."
Historicamente, nos estados, os gover-
nos preferem jogar a verba da comunica-
ção na publicidade e ficar bem com as
emissoras comerciais do que começar o
trabalho de formiguinha na emissora pú-
blica. De acordo com o coletivo Intervo-
zes, enquanto em países como Reino
Unido, Alemanha, Itália e França o orça-
mento dos sistemas públicos de radiodi-
fusão fica entre 0,2% e 0,3% do Produto
Interno Bruto (PIB), no Brasil, as teves
educativas ficam com 0,0025% do PIB.
"A ausência de uma televisão pública
forte no Brasil impediu a formação de um
público mais crítico em relação à tevê co-
mercial", anota o professor Laurindo Lalo
CARTACAPITAL 16 DE MAIO DE 2007 61
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