versão do Hino do Bahia em dueto
com Caetano Veloso.
- Pois é, eu nem sei porque Cultura
e Civilização não entrou no disco. Eu
fiz lá em Salvador, nesse período do
confinamento.
- Como foi a experiência em Lon-
dres? Você começou a compor em
inglês, mas já tinha domínio da lín-
gua quando foi pra lá?
- Não, eu não dominava nada. Eu
tinha os rudimentos do ginásio. E tinha
tido algum contato assim mais regular
com leituras em inglês, muito
dificultosas, na época da faculdade.
Muito da literatura disponível era em
inglês, então eu tinha que ler com o au-
xílio de um dicionário. Conseguia ler,
mesmo que mal, mas não falava nada.
Lá em Londres nós fomos pra escola,
Caetano também foi estudar inglês. Ti-
nhamos a expectativa de ficar lá e não
sabíamos por quanto tempo, então tí-
nhamos que começar a nos preparar
para ficar
Vocês viviam de que? De
royalties de disco?
- Sim, de royalties.
- Então naquela época disco dava
dinheiro?
Dava pouco... e a gente vivia com
pouco. Vivíamos basicamente com
isso, mas depois de um ano nós come-
çamos a tocar - com a perspectiva de
gravar lá, que surgiu através dos con-
tatos da própria Philips daqui. Ralph
Mace, que veio a ser o produtor dos
nossos discos lá, ele tinha relaciona-
mento com a Philips, e ficou sabendo
que nós estávamos lá em Londres e que
éramos dotados de um talento e de um
propósito artístico. Enfim, foi recomen-
dado a ele que cuidasse da possibilida-
de de nos aproveitar em gravações. Ele
foi, tomou contato conosco e arrumou
o selo Famous Music e se incumbiu da
produção. Foi aí que eu mandei cha-
mar o Tutty Moreno e o Caetano man-
dou chamar o Momó, Moacyr
Albuquerque, que haviam sido músi
cos nossos nas últimas realizações lá
na Bahia... antes de virmos para São
Paulo. E aí Caetano fez aquele primei-
ro disco, com músicos ingleses, e eu
fiz um disco com Tutty Moreno e um
baixista,
- O que aconteceu com seu dis-
co?
- Foi lançado em Londres e também
nos Estados Unidos, ocasião em que
fui aos Estados Unidos pela primeira
vez. Não aconteceu nada de excepcio-
nal, mas os discos nos introduziram na
área dos experts. Na verdade, no meu
caso o disco serviu para que eu me che
gasse com o conjunto de meu repertó-
rio. Eu fui convidado a fazer shows em
Nova Iorque, a propósito do lançamen-
to do disco, e eu cantei parte do reper-
tório do disco mas principalmente coi-
sas que não estavam no disco e que eu
trazia do Brasil. Eu tive a oportunida-
de de fazer um programa de televisão
chamado Camera 3, que ainda existe
até hoje na TV americana. Esse pro-
grama teve certa repercussão e eu me
apresentei num teatro off Broadway,
com uma ambientação produzida pelo
Hélio Oiticica. Esse disco abriu cami-
4
"Eu tocava com o guitarrista do King
Crimson e também com Dave Gilmour, do
Pink Floyd, além de Jim Capaldi e Alan White
- que era da Plastic Ono Band; ele trabalhou
com Lennon e Yoko, antes de ir pro Yes."
xe de Londres, num clima de quase
ao vivo.
Ele e Eu já tinha vindo de lá, Ex-
presso 2222 também. Aqui eu me re-
encontrei com a música nordestina e é
por isso que coloquei Pipoca Moder-
na no começo do disco. Sai do Sereno
também, eu tirei essa de um disco do
Abdias. Aí eu retomei a paixão pela
música nordestina
- Mas você voltou com uma ban-
da e começou a fazer shows, bem an-
tes de gravar o LP "Expresso 2222".
A impressão é de que foi gravado
praticamente ao vivo...
-É, mas ele foi todo montado no es-
túdio. Ele foi concebido e ensaiado no
estúdio, muito embora eu tivesse feito
apresentações com o grupo. Bruce
Henry era o baixista, Tutty Moreno era
o baterista e o Perna Fróes era o
tecladista etc. Brand New Dream tal-
vez fosse do repertório daquele segun-
do disco em inglês, mas ficou só no
show. Quando eu fui fazer o "Expres-
so 2222" com a produção do Roberto
Menescal, nós refizemos tudo no estú-
dio. Por exemplo, o Bruce não se adap-
tou com o samba e o Lanny, que era o
guitarrista, pegou o contrabaixo e gra-
vou Chiclete Com Banana. Lanny toca
baixo porque o Bruce ainda não estava
suficientemente integrado.
- Houve algum choque, quando
você entrou em estúdio com toda
essa carga inglesa com alguém como
Roberto Menescal?
Pra ele talvez, provavelmente te-
nha havido... (rindo) Pra mim não, eu
tava com a minha turma. O Perna tinha
se integrado também e o Lanny, que
nós tínhamos deixado aqui, havia sido
reintegrado ao grupo aqui. Só tinha vin-
do de la comigo, afinal o Bruce tam-
bém foi integrado aqui. Nós formamos
o grupo aqui e estreiamos em Recife,
no Teatro do Parque. Em seguida, nós
gravamos o LP com produção do
Menescal.
- Algum tempo depois você come-
çou a gravar um novo álbum, inici-
ando com Só Quero Um Xodó. A
música era de Dominguinhos e o
próprio entrou em estúdio contigo.
De onde surgiu esta aproximação?
- Eu conheci Dominguinhos quan-
do ele foi com Gal para uma apresen-
tação no Midem, no início de 1973. Foi
ali que ele me apresentou o Xodó e nós
apresentamos a música lá, daquele jei-
to mesmo. Eu me lembro que nós vol-
tamos e logo entramos em estúdio, para
gravá-la para um disco meu. Original-
mente a música tinha sido gravada pela
Anastácia, mas ela era um xote bem
regionalista. Comigo ela já ganhou uma
levada de blues e acabou virando um
xote-reggae, né? Eu cheguei a gravá-la
de uma forma bem reggae no show do
Tuca, lançado no disco ao vivo do ano
seguinte, mas ele acabou só tendo mú-
sicas inéditas. Ali a idéia era gravar um
disco inédito mesmo.
- É o disco menos comercial de
sua carreira.
- E, mas teve Lugar Comum, João
Sabino, Menina Goiaba e Herói das
Estrelas, além daquela música do Cae-
tano, Sim Foi Você. Esse disco mere-
nho pra mim na Europa também, por-
que eu me lembro que fui me apresen-
tar na Alemanha e na França. Éle saiu
em vários países.
Você então começou a gravar
um segundo disco em inglês, que
você largou para trás quando vol-
tou para o Brasil em 1972.
- Pois é, eu não me lembro nada des-
se disco. Eu tava dando prosseguimento
natural, da mesma forma como Caeta-
no fez "Transa" em seguida a seu pri-
quatro ou cinco músicas mas parei, não
meiro disco em inglês. Eu fiz umas
só porque estava voltando como tam-
bém porque não tinha material para
complementar. Eu não tinha orientação
suficientemente clara para prosseguir
,
mas estava sendo produzido por Ralph
Mace. Tutty Moreno e Chris Bonnettera
estavam comigo, mas eu já estava numa
outra fase. Eu já não estava tão na coi-
sa de ficar em casa compondo, eu já
Capaldi.
estava solto e já era amigo de Jim
- Não deu tempo de gravar nada
com esses amigos como Jim
Capaldi?
Não deu tempo, provavelmente
nesse momento teria rolado alguma coi-
sa. Eu saía muito, gostava de tocar
bongô nas jam sessions do Revolution
e do Speakeasy. Eu tocava com o gui-
tarrista do King Crimson e também
com Dave Gilmour, do Pink Floyd,
além de Jim Capaldi e Alan White -
que era da Plastic Ono Band; ele tra-
balhou com Lennon e Yoko, antes de ir
pro Yes. Terry Reed, um R&B branco
da tradição de Alexis Korner, e John
Mayall também. Minha turma era essa,
então eu já não tava muito no projeto
pessoal. Mas aí, quando esses desdo-
bramentos de relacionamentos iam co-
eu ia começar a realmente conhecer ou-
meçar, é que eu vim embora. Quando
tras pessoas, através do Jim Capaldi e
do David, eu voltei.
- O que fez você voltar? Você não
gostava de lá?
- Ah, mas a perspectiva de voltar
grande.
- Você não pensava em dividir seu
tempo, indo e voltando?
-Não, eu vim e reassumi. Viajar era
mais difícil
, era preciso que houvesse
os interesses manifestados claramente
a partir de lá. Eu voltei e me reintegrei
completamente à vida brasileira e à ex-
pectativa de carreira no Brasil. Eu só
fui retomar o interesse internacional em
1978, quando fui pra Montreux.
- "Expresso 2222” foi gravado
com muitas músicas que você trou-
INTERNATIONAL MAGAZINE - N° 52- ENCARTE
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