"Foi coisa
de amador”
"O Grito", de
Much, foi roubado
não uma, mas
"O Retrato de Suzanne Bloch", pintado por Picasso
em 1904, sumiu juntamente com o Portinari do Masp
O carioca Pedro Correa
do Lago, um dos maiores
colecionadores de documentos,
fotos e livros raros do país,
acredita que a solução para os
museus brasileiros s passa pelo
aperfeiçoamento dos sistemas
de vigilância humana, com
equipes que supervisionem
outras equipes, para evitar
trocas de turno e suborno.
Corrêa do Lago é conhecido
por ter feito uma das mais
polêmicas gestões da
a Fundação
Biblioteca Nacional, quando
foi seu diretor, entre 2003
2005. Ele reformou o estatuto,
mudou o organograma e abriu
dinheiro
caminhos para que
privado fosse investido. Por
telefone, do Rio, ele falou sobre
o roubo de arte no Brasil,
duas vezes: em
1994 e em 2004
| Entrevista Pedro Corrêa do Lago
EX-PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL E COLECIONADOR
Dois ladrões, disfarçados de policiais,
renderam seguranças e levaram "O
Concerto", de Johannes Vermeere, de
um museu de Boston (EUA), em 1991
Zero Hora - O furto desta
semana no Masp se asseme-
lha ao histórico de roubos de
arte no Brasil?
tentavam vender aqui,
porque naquele caso
não havia demanda fo
ra do país. A primeira
vez que um dos ladrões
Corrêa do Lago - É com-
foi preso, ele chamou a
pletamente diferente. Há vários
atenção por vender mui-
tipos de furto no país. Há o de igre- to barato um livro importante.
jas e obras sacras, que são realizados
por diversas quadrilhas e em diver-
sas ondas que ocorreram intercala-
das nos últimos 60 anos. Em certos
momentos, é pior. Em outros, é me-
lhor - quando chega a haver pri-
sões. Outro tipo foi a onda recente,
dos últimos cinco anos, de roubos a
bibliotecas, em que levaram papéis,
livros, documentos, fotografias. Fo-
ram obra de uma mesma quadri
lha. Um dos integrantes chegou a
ser preso em flagrante, ficou cinco
meses detido e voltou a furtar. Eles
-atacaram o Itamaraty, a Biblioteca
Nacional, o Museu Nacional.
ZH - O que os ladrões preten-
diam com esse tipo de furto?
Corrêa do Lago - O produto
do furto era repassado em feiras
Eles não queriam muito dinheiro,
ZH - As obras do Masp se en-
quadram em outro tipo de furto?
Correa do Lago - É um terceiro
tipo. O furto de quadros no Brasil
é geralmente, ou sempre, obra de
amadores. São pessoas que ouvem
falar que Picasso e Portinari são va-
liosos, vêem que eles estão no mu-
seu e os roubam achando que vai
surgir receptador - assim como há
para jóias e celular. Roubam antes e
vão se preocupar com o destino de-
pois. E geralmente acabam ficando
com ele. Por exemplo: um Portinari,
roubado há dois anos de uma ga-
leria de São Paulo, foi reproduzido
em todos os jornais. Depois de du-
as semanas, alguém viu os ladrões
tentando vendê-lo numa pracinha
do interior do Estado por R$ 10 mil.
Eninguém comprava.
"Maya com
Boneca" e
"O Retrato de
Jacqueline
estavam na
casa da neta de
Picasso quando
despareceram
criminosamente,
em 2007
Assaltantes armados carregaram uma
das cinco versões da "Madonna", outra
pintura de Much, em agosto de 2004. A
pintura foi recuperada dois anos depois
Hollywood
já explorou
bem o tema
A idéia de furto de obras de arte
remete não só a iniciativas ousadas,
mas a planos intrincados e, não rara-
mente, mirabolantes. Ou seja, um de-
leite para filmes de ação ou suspense.
Hollywood já explorou bem o te-
ma. Noutros tempos. O último thriller
de sucesso sobre roubos em museus Pierce Brosnan em "Thomas Crown"
data apenas de 1999: Thomas Crown
- A Arte do Crime, de John McTier-
nan, que é inspirado no furto de sete
pinturas de Pierre-Auguste Renoir
do Louvre, em Paris, pelo milionário
belga Tomas Van Der Heijden (inter-
pretado por Pierce Brosnan). Ainda
assim, trata-se de uma refilmagem
- de Crown, o Magnifico, lançado em
1968 com Steve McQueen no papel
do ladrão e Faye Dunnaway como a
investigadora que não sai da sua cola.
A década de 60 teve ainda pelo
menos dois outros filmes marcantes
sobre o assunto. Como Roubar Um
Milhão (1966), de William Wyler,
narra as aventuras da filha de um co-
lecionador de arte (Audrey Hepburn,
em um de seus papéis mais elogia-
dos) em busca de um assaltante pro-
fissional (Peter O'Toole) que a ajude a
furtar uma escultura de Benvenutto
Cellini. O tom é de comédia - mas
bem mais açucarada que o escracha-
do Topkapi (1964), de Jules Dassin,
que conta a história da montagem de
uma bizarra quadrilha internacional,
liderada por uma falsa loura (vivida
pela grega Melina Mercouri).
Entre as produções recentes sobre
furtos de obras de arte, duas outras
comédias são os maiores destaques:
o objeto do Desejo (de Michael Lin-
dsey-Hogg, 1991), com John Malko
vich e Andie MacDowell, e Hudson
Hawk (de Michael Lehmann, 1992).
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