CLIENTE: Gilberto Gil
VEÍCULO: DCI - SP
SEÇÃO:
Política
DATA:
04 a 06/08/2007
QUANDO OUVIMOS O ESTRONDO,
todo o restaurante se levantou apavo-
rado. O garçon que servia meu almo-
oço, com seus olhos miúdos de bandi-
do de filme de faroeste, deu um pino-
te, saltou por cima de mim, derrubou
-o vinho e correu gritando, desespera-
do: "Avionazzo! Avionazzo"!
. Eu não sabia o que era "avionazzo".
Corritambém. Todo mundo se empur-
crando, se atropelando, sem saber para
condeireo que estava acontecendo. Era
um desastre de avião. Dentro do aero-
porto do México
A Destrambelhado, o avião não conse-
guiu parar, saiu da pista, veio vindoein-
vadiu uma ponta do aeroporto. Ainda
bem que o bar e o restaurante, onde eu
estava, ficavam na outra ponta. Quan-
do cheguei perto, vi a cara dantesca da
tragédia. Tudo quebrado, gritos, desespero,
mortos.Eomonstro de aço parado.
Mas nenhum morto era passageiro. Salva-
ram-se todos, quase todos com algum feri-
mento. Os mortos, uma dezena, eram visitan-
tes ou funcionários do aeroporto. Recuperei
minhamala, mas a pequena e surrada Olivetti
portátil, nunca mais.... Transferimeu vôo para
Nova York, voltei para o hotel. Na porta, garo-
tos já vendiam jornais com a manchete grita-
da: "Avionazzo"!
México
Era 1979. Eu vinha de um Seminário Lati-
no-Americano de Imprensa Políticanas mon-
tanhas Catalinas da Costa Rica, cercadas de
pinheiros esguios e cobertas de bruma. Apro-
veitei para ver amigos exilados: Francisco Ju-
lião e Padre Laje ensinando na Universidade
de Cuernavaca, Betinho, Theotonio dos San-
tos e Wania Bambirra na Escola de Economia
da Universidade do México, o bravo Neiva
Moreira editando seus "Cadernos do Terceiro
Mundo". E fazendo mestrado de Agricultura
na Universidadeumjovem gaúcho com carae
barbicha de frade, João Pedro Stedile, prepa-
rando-se para o MST
No escritório da Varig, onde uma amiga me
emprestou uma maquina para escrever a co-
luna, fiquei sabendo das primeiras causas do
desastre:
SEBASTIÃO NERY
sebastiao@ig.com.br
www.sebastiaonery.com.br
O“avionazzo” da
TAM em São Paulo
O terrível no episódio da TAM
éque já se sabe que a tragédia foi
fruto de uma penca de erros
1) estava chovendo e com a água a pista fi-
couescorregadia;
2) os freios misteriosamente não responde-
ramaoscomandos da cabine;
3) piloto eco-piloto disseram que o milagre
de todos do avião se salvarem foi a pista de 4
mil metroseo saibro entre a pista eo terminal,
que foram aos poucos amortecendo a veloci-
dade atéo avião pararládentro.
Em Congonhas, não teria sobrado um. O
terrível no "avionazzo" da TAM é que todo
mundo já sabe que a tragédia foi fruto de uma
pencade erros.
PÁG.: A10
TAM
Em 1980, o Sindicato Nacional dos Aeronau-
tas e as associações de pilotos e comissários
das grandes empresas aéreas fizeram uma vi-
toriosa mobilização nacional para fixarem o
tempo de vôo das tripulações em um máximo
de oito horas e acabarem com os vôos "Jorna-
da nas Estrelas", que permitiam mais de seis
decolagens e aterrissagens em uma só via-
gem, fixando as decolagens (e aterrissagens)
emummáximo de seis porviagem.
Quase trinta anos depois, pilotos e comis-
sários reclamam que hoje "um mesmo avião
pode fazeratéoito vôosinterligados" (Globo).
Voltamos aos "Jornada nas Estrelas" e aos
cadáveres na pista. Na televisão, um diretor
não sei se da Infraero, Anac, TAM ou Gol diz
coma maior desfacatez que os vôos, ro-
tas, malhas e aeroportos "quem decide
é o mercado": "As resoluções do Conac
representam uma graveintervenção no
mercado" (Globo).A lei deles é o crimi-
noso e confesso cinismo da TAM: "Em
primeiro lugar está o lucro". Em segun-
do, os cadáveres.
De Saragoza, na Espanha, a Cora Ronai
conta que "a turnê de Gilberto Gil co-
meçou em 6 de julho em Aveiro e termi-
naem Marciacem 6 de agosto".
Um mês inteiro. Mais um, vários por
ano. Um mêsé nos Estados Unidos, ou-
tro na Europa, na África, na América do
Sul. A Bahiaachalindo, o Rio também, e
opaís todo certamente, que Gilberto Gil
cante e dance pelo mundo todo. Mas
seria bom que alguém do governo, ou ele, ex-
plicasse: Gilberto Gil continua ministro? Pas-
sa mais tempo no palco do que em Brasília.
Quando viaja e fatura seus milhões usando e
abusando do nome de ministro da Cultura do
Brasil, ele ainda porcimacontinuarecebendo
algum tipo de dinheiro ou vantagens do go-
verno, seja salário fixo, passagens mais bara-
tas, telefones oficiais, mordomias das embai-
xadas brasileiras láfora?
Nuncaseviuno país alguém misturartanto
os bolsos público e privado.
Vale
Em três meses, no trimestre de abril, maio e
junho, a Vale do Rio Doce "bateu o recorde e
lucrou US$ 4 bilhões" (R$8 bilhões de reais).
O que é que a Vale faz? Vende minérios, que
arranca do solo e exporta. Não planta, não in-
dustrializa, não produz. Tira do chão e vende
lá fora. Dirá que faz isso com competência.
Tudo bem. Mas muito mais competência
mostra a Petrobrás, que tira quase tudo do
fundo do mar, refina e vende. Quando Fer-
nando Henrique cometeu o maior crime de
lesa-pátria do século no Brasil (que os pode-
rosos militares jamais ousaram), doando a
Valepormíseros R$3 bilhões, alegou queaVa-
le privatizada daria mais lucro.
Nossos minérios e seus lucros vão-se em-
boraenão
voltarão jamais.
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