Lina Bo Bardi
O marido,
Pietro
Maria Bardi, foi critico de arte
e diretor do Masp
152
CLAUDIA Maio 2010
divulgação da arte brasileira. Hoje
é o Instituto Pietro e Lina Bardi. Na guerra,
que reúne parte da coleção particu-
lar do casal, incluindo objetos reco-
lhidos por Lina em suas andanças
E foi na Bahia, onde viveu de 1958
pelo
Brasil - o país que ela adotou.
Quando retornou para
São Paulo,
depois da demissão na Bahia, le-
vou sua experiência de simplifi-
cação" as últimas consequências
em um projeto inaugurado em
1977: o Sesc Pompeia, antiga fá-
brica transformada em centro de
a 1964. numa época de efervescên-
cultura e convivência. "Foi um de
cia cultural, e entre 1986 e 1990.
seus maiores exercícios de sim-
que ela se encontrou para valer. Na
plicidade”, diz o arquiteto André
primeira temporada, deu aulas na
Vainer, parceiro de inúmeros pro-
Universidade Federal da Bahia, fez cenografias, produ- jetos. "Quando ficou pronto, parecia que nada tinha
ziu peças teatrais e, com o apoio do governo, construiu e sido feito. No entanto, ela virou do avesso o lugar, em
dirigiu o Museu de Arte Moderna e o Museu de Arte termos de uso." Ali, segundo Vainer, Lina atingiu seu
Popular, sediado no Solar do Unhão, reformado por ela. grande objetivo arquitetônico: a melhoria da vida na
Às exposições de Lina compareciam Caetano Veloso, cidade. Ao ver as crianças correndo pelas áreas de
Gilberto Gil. Tom Zé.... "Ela fez a cabeça de nossa gera- lazer do Sesc, ela, que não teve filhos, sentia-se ple-
ção”, afirmou Caetano. "Lina foi a fundadora da cultura namente realizada. "Lina dizia que era mãe de todas
baiana à qual pertenço." No escritório dela, o jovem as crianças do Brasil", afirmou sua irmã Graziella.
amigo Glauber Rocha escrevia seus primeiros roteiros. Tanto quanto do Sesc, Lina se orgulhava de seu pro-
O sonho acabou em 1964. quando foi demitida por se jeto para a Igreja Espírito Santo do Cerrado, em Uber-
recusar a promover uma mostra de armamentos do Exér- lândia, Minas Gerais (1982). "Talvez a minha obra
cito no museu. Dizem que enfrentou os militares com a mais importante seja a capelinha miserável de Uber-
frase: "Não tenho medo de vocês. Já fui presa pela Ges- lândia, feita sem dinheiro, com os padres franciscanos
tapo". A declaração continha um fundo de verdade - e as prostitutas”, declarou. É fácil compreender, por-
ela teria escapado dos nazistas por milagre usando os tanto, a dor que Lina sentiu ao ver abandonadas, por
abrigos subterrâneos antibombardeios. Nessa época, se questões políticas, as obras de recuperação do centro
deu conta do sentido mais profundo da
arquitetura. "Foi histórico que concebeu em Salvador, quando tentou
então, quando as bombas demoliam sem piedade a traduzir a alma da cidade em edifícios como o restau-
obra do homem, que compreendemos que a casa deverante Coati, na ladeira da Misericórdia - um de seus
(...) servir, deve consolar, e não mostrar, numa exibição
teatral, as vaidades inúteis do espírito humano”, afir-
mou na obra Lina por Escrito, da Editora Cosac Naify.
projetos mais marcantes, hoje entregue as moscas.
Mesmo assim, ela continuou trabalhando até a morte,
em 1992, aos 77 anos, na sua mágica Casa de Vidro.
A Casa de Vidro, ex-moradia
do casal, abriga hoje o Instituto
Pietro e Lina Bardi
entendique uma
casa deve
servir, consolar, e
não exibiras
inúteis vaidades
humanas