CLIENTE: Gilberto Gil
VEÍCULO: Jornal do Commercio - Recife
CLIPPING SEÇÃO: Caderno C
SERVICE DATA:
08/10/2008
Frateschi lava a roupa suja
OB2You
Ao se demitir da presidência do órgão, Celso Frateschi alegou intolerância por parte de várias correntes que se ressentiram com suas decisões
Alessandre Belém/JC Imagem
isso fez com que os servidores se jun-
tassem e enviassem, no fim da sema
na passada, uma carta ao ministro
da Cultura, sugerindo mudanças na
Funarte
"Gilberto Gil foi o ministro que
me chamou. Então, meu compro-
misso principal partiu de um convi-
te dele. As mudanças que estão acon-
tecendo no ministério eu ainda não
consegui entender direito quais são.
De qualquer forma, eu não tenho
condições de ter confiança no nível
que eu tinha no ministro Gil", expli-
ca Frateschi.
Juca Ferreira, por sua vez, afirma
que a demissão foi um gesto sensato
do ex-presidente da Funarte, já que
vai evitar uma crise ainda maior no
Órgão. O próximo passo, segundo o
ministro, é nomear um presidente
interino, até decidir quem vai substi-
tuir Frateschi. "Eu não acredito que
tenha havido favorecimento no caso
do Ágora. O ministério estava com
um atraso muito grande, e o projeto
dele foi encami-
nhado num lo
te de propostas
que tinham in-
tenção de patro
cínio", afirma
Ferreira. "Havia
um conflito en
tre ele e os fun-
cionários. Fal-
tou uma certa
habilidade em estabelecer uma rela
ção, e houve uma certa resistência
dos funcionários a ele".
0
ator e diretor teatral
Celso
Frateschi pediu demissão da
presidência da Fundação Na-
cional de Artes (Funarte), numa car-
ta intitulada O transatlântico fan-
tasma, enviada na segunda-feira à
tarde ao ministro da Cultura, Juca
Ferreira, e divulgada por ele à im-
prensa no mesmo dia à noite. O pe-
dido foi feito dois dias depois de o
jornal O Globo publicar reportagem
sobre suposto favorecimento da fun-
dação a um projeto do grupo de tea-
tro Ágora, que recebeu um parecer
técnico em apenas seis dias para sua
aprovação na Lei Rouanet. O Ágora
foi fundado por Frateschi e é coorde-
nado por sua mulher, a cenógrafa
Sylvia Moreira, e pelo diretor Rober-
to Lage
Enviado à Funarte para ser sub-
metido a parecer técnico em 30 de
novembro de 2007, o projeto do gru-
po Ágora batizado Machadianas 2
adaptação de contos de Machado de
Assis, foi aprovado em 6 de dezem-
bro. Vinte dias
depois, obteve
junto ao Minc“A Funarte precisa
a autorização
para captação
de recursos. A
atuar em
tramitação foi todo o território
extremamente
rápida, segundo nacional"
profissionais da
classe teatral.
Frateschi argumenta que o ministé
rio e a Funarte fizeram um acordo
de excepcionalidade para analisar
projetos cujos produtores já apresen-
tassem cartas de intenções de patroci-
nadores manifestando interesse em
apoiar a sua realização. Frateschi
apresentou à reportagern um e-mail
da Petrobras como prova de que era
o caso do espetáculo do Ágora.
Frateschi esteve à frente da Funar-
te desde o início de 2007, quando
substituiu o ator Antônio Grassi. Na-
quele ano, enfrentou 73 dias de gre
ve dos servidores do Ministério da
Cultura (MinC), o que atrasou a rea-
lização de editais e a aprovação de
projetos na Lei Rouanet. Durante es
se tempo, o presidente da Funarte
manteve uma relação conturbada
com os servidores do órgão, o que le-
vou à exoneração de 20 funcioná-
rios de cargos comissionados. Tudo
A mudança na Funarte ocorreu
um dia antes da solenidade de con-
decoração da Ordem do Mérito Cul-
tural 2008, ontem, no final da tarde,
no Teatro Municipal do Rio de Janei-
To, com a presença de Juca Ferreira
e do presidente Lula. Em repúdio à
gestão de Frateschi, os servidores da
Funarte haviam programado uma
ato à porta do Municipal, em que le
variam faixas pedindo sua saída.
"Houve uma solução para a crise an-
tes que ela tomasse rumos maiores"
disse o ministro Juca Ferreira, que
ainda não escolheu o substituto pa-
ra o cargo.
CARTA
Na carta intitulada O transatlânti-
co fantasma, Frateschi afima que
HISTÓRIA Frateschi esteve à frente da Funarte desde o início de 2007
não resistirá ao "movimento articu-
lado de alguns funcionários e de al
guns setores do Ministério da Cultu-
ra para desestabilizar minha gestão
na presidência da Funarte".
"Aceitei assumir a presidência da
Funarte por acreditar na possibilida-
de de contribuir na construção de po-
líticas públicas para a área cultural.
Não vim para essa missão participar
de brigas intestinas, pois acredito
que o País espera e precisa de respos-
tas concretas para estimular o nosso
desenvolvimento cultural. Digo isso
tendo como foco muito mais o con-
junto de nossos cidadãos do que a
nossa comunidade artística", disse
Frateschi.
O ex-presidente da Funarte apro-
veitou para fazer um balanço de sua
gestão: "Durante esse ano e meio de
trabalho, procuramos mudar alguns
conceitos apontados e acordados
Avançamos muito, apesar da conjun-
tura às vezes adversa, tanto no Minis-
tério da Cultura quanto na própria
Funarte", escreveu.
Segundo Frateschi, apesar da gre
ve de 73 dias, "a Funarte regulari-
zou o trâmite de processos da Lei
Rouanet". "Atualmente o processo
leva no máximo 21 dias para ser
analisado pela Funarte e isso fere to-
da uma indústria de atravessadores
que 'facilitavam' as aprovações que
eram de seu interesse. Uma legião
de lobistas perdeu o emprego e isso
os perturba", escreveu o ator.
Ao criticar o cariocacentrismo da
instituição que presidia, Frateschi
reafirma que "a Funarte precisa ser
nacional, precisa atuar em todo o
território nacional, precisa manter
um diálogo permanente com os ou-
tros entes federativos". Frateschi tam-
bém dispara contra os funcionários
do que chama "navio fantasma"
cheios de "piratas do Caribe": "Acar-
caça carcomida dessa embarcação
serviu durante
muitos anos de
alimento aos ra
tos da burocra-
cia e do corpora-
tivismo"
As reações ao
anúncio da saí
participar de
da de Frateschi brigas intestinas"
Funarte e do Ministério da Cultura
são grandes e não podem ser atribuí-
dos a uma só gestão: "Tenho muita
admiração pelo Celso. Sinto muitíssi
mo que tenha transcorrido dessa ma-
neira. A questão maior é a falta de
Orçamento.",
O diretor teatral Sérgio Carvalho,
da paulista Cia. Do Latão, observou
que Frateschi pagou o preço de se
confrontar com a inércia privatista
que movia a Funarte: "De um lado,
se indispôs com o baixo clero do tea-
tro comercial do Rio, que fazia da
entidade o seu quintal. De outro la-
do, não teve o apoio do movimento
de teatro de grupo, por despolitiza-
ção deste"
Cerca de 70 funcionários da Fu-
narte comemoravam ontem de ma-
nhà, na sede da fundação, no centro
do Rio, a saída de Frateschi e do dire-
tor-executivo, Pedro Braz. "Foi a
pior gestão da Funarte. Houve assé
dio moral aos funcionários e foram
destruídos programas que deram cer
to", disse Paula
Nogueira, presi-
dente da Asso
ciação de Servi-
dores da Funar-
te (Asserte)
A Asserte acu-
sa Frateschi
também de des
caracterizar pro-
jetos Antes
uma caravana de artistas que viaja-
va por cidades brasileiras, agora os
espetáculos do projeto Pixinguinha
acontecem só dentro dos Estados
com dois artistas locais, e resultarão
na gravação de um CD com tiragem
de mil cópias, Frateschi justifica que
a divulgação musical hoje não de
pende apenas de shows e que o inten-
to é fortalecer as cadeias produtivas
locais. O projeto Rede Nacional de
Artes Visuais, cujos participantes
eram escolhidos por convites, agora
adotou a seleção por edital e recebeu
críticas por isso. "Quando a gente
abre o edital, a gente é autoritário?",
questiona Frateschi. "Se eu indicasse
quem eu quero é que seria um con-
tra-senso."
"Não vim para
essa missão
da Funarte va-
riaram do alívio ao pesar. O presi-
dente da Associação dos produtores
Teatrais Independentes, Odilon Wag-
ner, disse que a instituição que repre
senta não sentirá saudades do demis-
sionário: "Estamos aliviados com a
saída dele. A gestão foi caótica, carac
terizada pelo autoritarismo e pela
falta de diálogo. Tudo o que ele é
bom como artista ele não é como
gestor. Vínhamos mostrando há tem-
pos a dificuldade de acesso aos meca-
nismos que a Funarte disponibili-
com o ministério: 1) Descentralizar
as atividades da Funarte, deixando
de lado a sua característica histórica
de um "cariocacentrismo" radical.
O antigo Secretário da Cultura Aloy.
sio Magalhães dizia que a Funarte
era um grande transatlântico enca-
lhado na Rua Araújo de Porto Ale
gre. Deram-me a tarefa de pensar as
atividades da instituição em escala
nacional, como deve ser, e fazer zar-
par o 'transatlântico encalhado por
muitas décadas. 2) Institucionalizar
nossos programas, tirando-os da fra-
gilidade dos mecanismos esquizofre- A produtora teatral carioca An-
nicos da Lei Rouanet. 3) Reinventar dréa Alves avalia que faltou uma pro
institucionalmente a Funarte. 4) Res ximidade maior de Frateschi com os
ponder aos desafios colocados por segmentos. "Houve conversa, mas
nossa produção artística nacional, sem continuidade. Não vimos resul-
dentro de conceitos definidos pelatados práticos". Para Bianca de Feli-
gestão Gilberto Gil. 5) Implantar poppes, vice-presidente da Associação
líticas estruturantes em nível nacio dos Produtores Teatrais do Rio de Ja-
nal para todas as áreas artísticas. neiro, os problemas estruturais da