MARLI GONÇALVES
No pequeno camarim do Ginásio do Palmeiras
dezenas de pessoas amontoavam-se, transformando
o ambiente numa massa cinzenta de fumaça e
muito calor. Esse clima era criado pela presença de
"hare-krishnas", tietes, fotógrafos, músicos, atores,
ou aspirantes a, e mais uma dezena de elementos
isolados, sem classificação possível. Eram pouco
mais de oito horas da noite; às nove aconteceria o
último show da temporada Realce. Até sua
entrada no palco, Gilberto Gil permaneceria
sentado no centro da sala, rodeado por amigos, e
por esses admiradores que vinham dizer "alo",
pedir favores ou conselhos, “qualquer coisa”, ou
simplesmente para vê-lo de perto, estar por ali. Gil
dividia sua atenção por todos, que ouviam suas
palavras embevecidos. Havia um certo misticismo
no ar, como se na sala um "pai-de-santo” estivesse
em plena atividade.
Essa cena aconteceu num sábado, em seguida a um
dia movimentado, uma noite mal dormida e ao
cansaço acumulado de um show de mais de duas
horas no Festival de Verão do Guarujá, litoral
paulista, realizado no dia anterior. Eu, que o
acompanhava há quase dois dias, ainda estava um
pouco surpresa com sua energia e com seu carisma.
Mas eu teria muitas outras surpresas até a
segunda-feira, quando Gil embarcaria para
Salvador ainda mais decidido a descansar por um
ano, como já havia pensado. Os verdadeiros
motivos dessa decisão em Gil fui descobrindo aos
poucos, através de seu comportamento e de suas
palavras.
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