GUIA NOVOS CDS
te, o horizonte promissor/Excitante
para um cabra tão galante / Intrigan-
te para uma cabrita em flor..."), abre o
álbum em grande estilo. O reggae "Os
Pais", que segue a nobre linhagem de
"Vamos Fugir", prova que, após tan-
tos anos, a parceria com Jorge Mau-
tner continua iluminada, ótima can-
ção, ótima letra ("...Os pais, os pais
/ Estão preocupados demais / Com
medo que seus filhos caiam nas mãos
dos narco-marginais / Ou então na
mão dos molestadores sexuais / E no
entanto mesmo tempo são a favor
das liberdades atuais..."). Depois de
uma pequena queda graças à fraca
"Não Grude Não" e seus backing
vocals femininos um tanto cafonas,
a recuperação
vem com as ótimas re-
gravações de "Formosa", de Baden e
Vinicius, e "Samba de Los Angeles",
música do próprio Gil que já havia si-
do lançada no grande Nightingale, de
1978. Se existem boas composições
por trás da maçaroca eletrônica de
"Le Renaissance Africaine" e "O Oco
do Mundo", elas foram desperdiça-
das. Gil não é o primeiro e nem será
o último artista a lançar mão desse
se ti-
po de artifício para tentar soar mais
moderno sem sucesso. Em compen-
sação, "Máquina de Ritmo", essa sim,
mostra como uma música carregada
de efeitos eletrônicos criativos e inte-
ligentes pode ser extremamente atual
no melhor dos sentidos.
Pagā de
, nela
Os ótimos arranjos não fazem de
"Olho Mágico" e da balada "A Faca
e o Queijo" as melhores canções do
disco. Grande canção mesmo é "Não
Tenho Medo da Morte" Definida
com perfeição pelo próprio autor
como "uma espécie de irmā
'Se eu quiser falar com Deus
fica evidente que a inspiração de Gil
continua apurada tanto na letra ("...A
morte já é depois / Já não haverá nin-
guém / Como eu aqui agora/ Pensan-
do sobre o além/ Já não haverá o além
10 além já será então / Não terei pe
nem cabeça / Nem figado, nem pul-
mão / Como poderei ter medo, hein
/ Se não terei coração?) quanto na
melodia primorosa. Sua ligação com
a bossa nova e o samba está presente
nas eficientes "Amor de Carnaval",
"Outros Viram" e "Gueixa no Tata-
me". "Cano" remete às suas grandes
músicas dançantes como "Toda Me-
nina Baiana". A também sacolejan-
te “Banda Larga Cordel" soa mais
"moderna", quase dance, prontinha
para tocar no rádio.
A voz de Gil hoje é mais fraca e
menos aguda, ganhou um timbre ave-
ludado, quase rouco, a voz de um ho-
mem que mais uma vez mostrou que
é capaz de vencer qualquer desafio,
apesar de não precisar provar mais
nada pra ninguém.
Doce Portal
Banda aprimora trabalho e abre
caminhos para doçura e melancolia
É NOTÁVEL A EVOLUÇÃO DO CÉREBRO ELETRÔNICO ENTRE
Onda Hibrida Ressonante, álbum de estréia lançado em
2003, e este segundo. A banda de Tatá Aeroplano, Dudu
Tsuda, Gustavo Souza, Fernando Maranho e Isidoro Co-
bra ganhou identidade, deixando de ser o outro projeto
dos caras do Jumbo Elektro". Vem aprimoradas as nuances
entre melancolia, fofura, humor e (auto) critica. O maestro
tropicalista Rogério Duprat permanece como referência
assumida - mais por sua filosofia libertária de criação que
por alguma influência musical prática. Mas quem dá as
cartas mesmo são os Mutantes, a jovem guarda, a música
mineira do Pato Fue agaúcha de Wander Wildner, Júpiter
Maçã e Frank Jorge (outros discípulos da banda seminal de
Rita Lee e do movimento liderado por Roberto Carlos nos
60). Citações ao "maldito" Sérgio Sampaio abrem e fecham o disco enquanto, lá
no meio, a doce "Portal dos Sonhos” metralha mais fontes psicodélicas: "Alice
no País das Maravilhas", Beatles, "O Mágico de Oz", Caetano, Raul Seixas. As
matrizes são tantas (e tão dispares) que, processadas, não se parecem com nada
que não seja o próprio Cérebro Eletrônico.
MARCUS PRETO
Cérebro
Eletrônico
Pareço Moderno
Phonobase
Download: Singles
Coldplay **
"Violet Hill"
PSICODELIA
Tata Aeroplano
(ao centro) e os
demais integrantes
do Cérebro Eletrônico
Muito se falou da reinvenção musical
da banda. Mas este single do álbum
Viva La Vida or Death and All His
Friends, a ser lançado neste mês, não
cumpre o prometido. Já no primeiro
verso, Martin desafina no falsetto e
os arranjos soam como
ho a versão ruim
de um Paul McCartney solo. E para
quem ficou com saudades do britpop
convencional do CP, no final, aqueles
gemidos com o vocalista ao piano,
POR MÁRCIO CRUZ
Nine Inch Nails***
"Echoplex"
O primeiro single de The Slip, séti-
mo disco do NIN, traz a sensação de
déjà-vu: o que aqui não é problema. A
música, distribuida de graça na rede,
traz riffs psicóticos e versos contem-
plativos como "You chip away the old
version of you/You'd be surprised at
what you can do" (Você se desfaz da
velha versão de você / Você ficaria
surpreso com o que você pode fazer"
- além de um tenebroso "la-la-la-la".
Scarlett Johansson***
Anywhere I Lay My Head Warner
A atriz se lança na música em
muito boa companhia
VÁRIAS SÃO AS RAZÕES
pela qual atrizes experi-
mentam carreiras musi-
cais. Cada uma dá um
motivo, mas não há co-
mo negar que se trata de
superação. Após ser gongada por An-
drew Lloyd Webber nos testes da peça A
Novica Rebelde, em 2005, Scarlett Jo-
hansson quis dar uma volta
por cima. No
ano seguinte, The Jesus and Mary Chain
a convidava para subir ao palco no Coa-
chella. Não demorou muito para seu ál
bum de estréia. Não é tão reveladora as-
sim. Em Anywhere I Lay My Head, o con-
tralto Johansson fica disfarçado em meio
a uma muralha de instrumentos em anda-
mento lento, uma clara remissão a My
Bloody Valentine, Galaxie 500 e o dream
pop dos anos 80. Tudo ao gosto de Dave
Sitek, do TV on the Radio, que produziu
o disco. Johansson ainda se amparou no
repertório, quase todo de músicas de
Tom Waits, embora apenas "Green
Grass" seja facilmente reconhecível. Ela
ainda teve a ajuda de David Bowie em
três duetos. Um deles é "Fannin
Street", uma balada sobre arrependi-
mento e um dos pontos altos de um
trabalho que merece atenção. Fica a
dúvida se ela mandou uma cópia dele a
Webber, mas nem carece mais.
JOSÉ JULIO DO ESPIRITO SANTO
Mudcrutch ***1/2
Mudcrutch Reprise Records
Banda de Tom Petty resume
carreira em turnê e disco
MOND
A HISTÓRIA DO GRUPO É
curiosa. Depois de gra
var um par de compac
tos, a banda se separoue
parte dela seguiu para o
estrelato como Tom
Petty & the Heartbreakers. Quase 40
anos depois, Petty achou simpático reu-
niros músicos para um disco e uma turnê.
O resultado final não brilha tanto quanto
a história, mas não faz feio. O primeiro
single, "Scare Easy", poderia ser uma boa
faixa solo do líder do Mudcrutch. E ou-
tras, como "Shady Grove" e "Six Days on
the Road", têm mais a cara do disco: uma
imersão no country. Mesmo assim, a al-
ma é roqueira: as 14 faixas foram grava-
das em menos de duas semanas e em
pouquíssimos takes. O registro de "Crys-
tal River",
r", por exemplo, foi feito na
primeira e única vez que a canção foi to
cada em estúdio as músicas não são
tão empolgantes quanto as do Heart-
breakers, pelo menos a curiosidade de
uma reunião tão improvável faz com que
Mudcrutch proporcione uma audição
agradável e divertida.
PAULO TERRON
***** Clássico / **** Excelente / *** Bom/** Regular / * Ruim Rankings supervisionados pelos editores da Rolling Stone.
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