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NELSON MOTTA
COLUNISTA DA FOLHA
CLIENTE: Gilberto Gil
VEÍCULO: Folha de S. Paulo - SP
SEÇÃO:
Ilustrada
10/04/2008
DATA:
Nostalgia da modernidade
Desde os anos 60, pessoas reclamam que a música popular brasileira não é mais
a mesma; mas ela vem melhorando sempre, com muito luxo em meio ao lixo
Alexandre Campbell -3.jun 05/Folha Imagem
aço muitas palestras
F contando e comentan-
da música popular brasileira e,
no final, quando respondo a
perguntas do público, uma ja-
mais falta:
"Você não acha que a música
piorou muito de nível nos últi-
mos...".
Basta sacar a faixa etária da
pessoa para completar mental-
mente a frase. Se estiver nos 40,
é certo que se queixar de que
não se faz mais música tão boa
como nos anos 80...
Se for mais coroa, reclamará
de que não há mais uma música
de qualidade como a que Chico,
Caetano, Gil e outros mestres
da MPB faziam nos anos 70...
E assim por diante. Já come-
çam a aparecer os que, entran-
do nos 30, acham que do final
dos anos 90 para cá só se faz
porcaria...
Aliás, ouço essa queixa desde
os anos 60, quando reclama-
vam que a bossa nova era sub-
música e boa mesmo era a dos
anos dourados...
Mas a nossa música popular
não piorou; pelo contrário, vem
melhorando sempre, cons-
truindo um fabuloso acervo.
Eles só estão com saudades de
quando eram jovens e moder-
nos, tocados pela imensa capa-
cidade evocativa que tem a mú-
sica, como trilha sonora de nos-
sas vidas.
Se, em 1970, éramos 90 mi- Ed Motta, um dos artistas que despontaram na década de 90
lhões, mas sem nenhuma tec-
nologia e sob uma censura este-
rilizante, e produzimos uma
grande música popular, hoje,
que somos 180 milhões e dispo-
mos de tecnologia farta e barata
e absoluta liberdade de expres-
são, é razoável supor que esta
mos produzindo pelo menos o
dobro de músicas de qualidade,
Ou alguém imagina que desa-
Alguémimagina que desaprendemos a fazer
musica? Seria improvável como não sabemos
mais jogarfutebol. Não é toda hora que aparece
um Pelé ouum Tom Jobim, nias certamente a
quantidade de ótimosjogadores e músicos nos
mantém no primeiro mundo da música e da bola
Luciana Whitaker-7.990.07/Folha Imagem
A cantora Roberta Sá, nome de destaque no cenário atual
Desde os anos dourados, a maioria da produção
musical é puro lixo, como hoje em dia. A diferen-
ça é só na escala de lixo e deluxo. O que vale a per
na são sempre os 10% que fazem a história da
música popular de um país e sobrevivem como a
trilha sonora de nossa memória
prendemos a fazer música? Se-
ria tão improvável como não
sabermos mais jogar futebol.
Claro, não é toda hora que apa-
rece um Pelé ou um Tom Jo-
bim, um Zico ou uma Cássia
Eller, mas certamente a quanti-
dade de ótimos jogadores e mú-
sicos -dos mais diversos esti-
los e gerações, se multiplicou
e nos mantém no primeiríssi-
mo mundo da música e da bola.
Os grandes craques são sempre
exceções, em qualquer tempo,
em música e futebol.
É lógico: os grandes talentos
de gerações anteriores conti-
nuam produzindo com muita
qualidade, como provam os ve-
teranos João Gilberto, Caetano
Veloso, Chico Buarque ou Dja-
van. Os que vieram depois, co-
mo Lenine, Lulu Santos, Para-
lamas ou Lobão, continuam
muito criativos, assim como os
que começaram a brilhar nos
anos 90, quando se revelaram
Chico Science e Cássia Eller:
artistas como Marisa Monte,
Ed Motta, Adriana Calcanhot-
to, Carlinhos Brown, Marcelo
D2, Ivete Sangalo, Bebel Gil-
berto, Maria Rita, Vanessa da
Mata, Roberta Sá -a lista cres-
ce a cada dia, a cada clique do
mouse.
Luxo e lixo
É justamente esse
proble-
ma: é tão vasta a oferta, são tan-
tos os gêneros, os subgêneros e
as fusões em que se multiplica-
ram a música e o gosto popular,
que é muito mais difícil encon-
trar as de real qualidade dentro
de tanto lixo barulhento.
Mas isso não é novidade: des-
de os anos dourados, a maioria
absoluta da produção musical é
puro lixo, como hoje em dia. A
diferença é só na escala: de lixo
sempre aqueles 10% que fazem
a história da música popular de
um país e sobrevivem como a
trilha sonora de nossa memória
coletiva e pessoal.
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