CADERNOS DO DO-IN ANTROPOLÓGICO
seria também, por implicação lógi-
ca, fazer com que o Ministério fosse
um órgão voltado para uma cliente-
la preferencial, para o atendimento
exclusivo da assim chamada "classe
artístico-intelectual", com todos os
seus rituais de criação e consagração.
E não é para isto que estamos aqui.
Não foi para isto que nos engajamos
num governo cujo objetivo maior é
a recuperação da dignidade nacional
brasileira, o que, entre outras coisas,
significa uma concentração incansá-
vel no problema da inclusão social.
O que nós queremos é justamente
isto: incluir. Incluir na cultura, fran-
queando a todos o acesso à produ-
ção e ao consumo dos bens e servi-
ços simbólicos. E incluir pela cultu-
ra, como setor dinâmico da econo-
mia, como atividade econômica ge-
radora de emprego e renda.
Daí que a nossa visão de cultura
seja a mais ampla e realista possível,
levando em conta, radicalmente,
tanto a unidade quanto a multiplici-
dade cultural brasileira, em suas di-
versas regiões geográficas e camadas
sociais. Como disse no meu discurso
de posse, quando falamos de cultu-
ra, estamos empregando a palavra
em sua acepção plena. Em seu senti-
do antropológico. Cultura como a
dimensão simbólica da existência so-
cial brasileira. Cultura como o con-
junto dinâmico de todos os atos cri-
ativos de nosso povo. Como tudo
aquilo que, no uso de qualquer coi-
sa, se manifesta para além do mero
valor de uso. Como aquilo que, em
cada objeto que um brasileiro pro-
duz, transcende o aspecto meramen-
te técnico. Cultura como usina de
símbolos de cada comunidade e de
toda a nação. Como eixo construtor
de nossa identidade. Como espaço de
realização da cidadania. Cultura
como síntese do Brasil.
E isto num espectro amplo. Num
espectro que, para dizer sinteticamen-
te, vai da tradição à invenção, do cul-
tivo da memória à aposta no novo.
Porque temos de preservar o que de
melhor criamos e construímos ao lon-
go de nossa vida histórica, sob pena
de girarmos a vácuo, de nos perder-
mos num presente instantâneo e
desfigurador e de, assim, não reco-
nhecermos mais o nosso rosto. Na
verdade, tentaram nos fazer acredi-
tar, nesses últimos dez anos, que os
Estados e as culturas nacionais eram
seres em vias de extinção. Que a
globalização dissolveria os Estados e
converteria cada alma nacional num
mito inútil. Mas não é isto o que
estamos vendo. As questões e os in-
teresses nacionais se encontram hoje
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