DE CONVERSA EM CONVERSA
grande transformação se algum dia visitar a Bahia."
E por falar em Bahia, entre os homens, eclético por
excelência é Gilberto Gil. Músico de fama mundial e
ministro da Cultura, Gil desempenha com prazer e
descontração seus múltiplos afazeres. Miguel Falabella
é outro nome que me ocorre. Ator, autor, produtor, em-
presário, bem-sucedido em todas, Falabella é também
o mais generoso dos beneméritos. Nesse campo, discre
to, deu (e dá dignidade habitacional a várias atrizes
de seu afeto e reconhecimento. Sem contar o tanto que
ele ajuda a Casa dos Artistas. E com tal classe que dis-
so não faz o menor alarde. Disso ficamos sabendo-eà
boca pequena – pelos próprios beneficiados. Falabella é
um exemplo a ser seguido. E assim alguns outros ecléti-
cos diferenciados.
Algumas moças (não ecléticas) se permitissem um
pouco mais de ecletismo em suas vidas até então imutá-
veis, com certeza iriam se deslumbrar com um fantás-
ticoleque de novas opções. Mas o insight-ou
ocair da ficha-muitas vezes só vem com
o tempo e com a quilometragem. Dai
que uma das garotas do [nosso] grupo
de estudos disse, com ênfase categorica:
"Eu não me encaixo nas ecléticas". "Bo-
hagem você pensar assim”, retrucou uma
senhora mais traquejada, "claro que se en-
caixa."O namorado da garota foi adiante:
"Você não trocou o outro por mim?". E
ela, fazendo a cabisbaixa: "É. Mas isso é
ser eclética?!". E o namorado: "Claro, sua
tonta!". Todos acabaram achando graça
no tratamento informal. Lindo aquele na-
moro. Daí a conversa esquentou. Um deu
seu parecer de que nem todo eclético é hibri-
do; outra, recusando-se a ser estereotipada
como eclética, jurou jamais abandonar o
estilo rígido do pretinho básico sem deixar
de envolver o pescoço [de cisne] com um fou-
lard vermelho-paixão, por conta da exigên-
cia da meia-estação.
Enfim, queira ou não, todo mundo
tem um côté eclético. A conversa
foi parar
na arquitetura. O ecletismo arquitetônico
210 J.P AGOSTO 2008
prevaleceu muito nas primeiras décadas do século
passado. Em São Paulo e mesmo no Rio, que eu sai-
ba, não sobraram exemplos dignos de apreço. Em
Buenos Aires, sim. Mas, com certeza, o mais vistoso
exemplo de arquitetura eclética do Mercosul está em
Montevidéu. É o Palacio Salvo, do arquiteto Mario
Palanti, na Plaza Independencia. É um marco ar-
quitetônico eclético ainda mais espetacular do que o
Pasaje Barolo, também dele, em Buenos Aires.
E, para encerrar este ensaio, lembro de uma idéia
que me ocorreu recentemente em Londres. Hosp
do em St John's Wood, em um condominio de frente
para o estúdio da Abbey Road, que os Beatles torna-
ram imortal, vi que a casa, do lado de fora, é ainda
um dos pontos turísticos mais visitados por jovens
de todo o mundo (e principalmente por
jovens brasi-
leiros, que deixam escritas suas mensagens no muro
sempre caiado para novas mensagens). Dal me veio
a idéia: Hebe Camargo), pouco dada ao ecletismo,
bem que podia dar uma guinada. Hebe podia gravar
nesse estúdio um CD simples, com quatro músicas
dos Beatles, uma delas "Ob-la-di, Ob-la-da", com
as letras em português. Na capa uma foto de Hebe
atravessando a famosa esquina e, como Paul
McCartney, bem vestida mas descalça.
E já que gravado na Abbey Road,
o disco da Hebe cantando os Be-
atles podia se chamar HEBE
ROAD. Não seria um sim-
pático hype eclético?
ANTONIO BIVAR É
ESCRITOR, VIAJANTE,
AVENTUREIRO E AU-
TOR, ENTRE OUTROS
LIVROS, DE BIVAR
NA CORTE DE BLOOMSBURY
(EDITORA GIRAFA) E
HISTÓRIAS DO BRASIL PARA TEATRO
(ED.NOVO SÉCULO)
BIVAR@GLAMURAMA.COM.BR
LEMOS/TV GLOBO
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