mono-
a retomada de grandes obras de infra-
estrutura na Amazônia sem planeja-
mento integrado; o licenciamento das
usinas hidrelétricas no Rio Madeira;
a expansão desordenada dos agro
combustíveis; a expansão de
culturas de eucalipto para a produção
de papel
1 e celulose em imensas áreas:
o apoio incondicional ao agronegócio
exportador, o principal vetor do des-
matamento. E, agora, a retomada do
Programa Nuclear.
Conclui-se que a prioridade deste
governo é o crescimento a qualquer
custo, ainda que sem o devido cuida-
do com os impactos sobre as popula-
ções e o meio
ambiente, colocando o
pais em um protagonismo perverso,
contra a corrente das preocupações
globais e locais. É essa fraca política
para o meio ambiente que tem provo-
cado tantos conflitos na Amazônia-a
revolta da população contra os fiscais
do Ibama ou a agressão dos indios
caiapós ao funcionário da Eletrobrás
no interior do Pará, como exemplos.
"A saída de Marina do ministério
demonstra que as causas ambientais
estão, cada vez mais, perdendo força
dentro do governo, principalmente
quando se constata que a questão
ambiental não é levada a sério.
Lula
Lula elogiou Marina Silva, mas
a desautorizou publicamente
dando a Mangabeira Unger a
administração do PAS
58 ROLLING STONE BRASIL, JUNHO 2008
POLÍTICA NACIONAL
e seus ministros sempre foram desen-
volvimentistas a qualquer custo e esse
distanciamento das questões ambien-
tais acabou repercutindo na perda da
ministra", escreveu o deputado fede
ral Fernando Gabeira.
Em dezembro de 2006, enfraquecida
por uma disputa com a Casa Civil
, que a
acusava de atrasar licenças ambientais
para a realização de obras de infra-es-
trutura, a então ministra avisara: não
estaria disposta a flexibilizar a gestão
da pasta para permanecer no governo.
Antes de deixar o ministério, afirmou
que desde a reeleição de Lula projetos
ção de áreas protegidas na floresta ama-
zônica, haviam sido pratica
praticamente para
lisados - durante o primeiro governo
do PT (2003-2006), foram delimitados
24 milhões de hectares verdes contra
apenas 300 mil hectares em 2007. Re-
centemente, agravaram-se as divergên-
cias com a ministra Dilma Rousseff da
Casa Civil pela demora da liberação das
licenças ambientais pelo Ibama para as
obras no rio Madeira, em Rondônia.
Essa demora e o rigor na liberação das
licenças foram considerados um blo-
queio ao crescimento econômico.
Marina Silva denunciou pressões
dos governadores de Mato Grosso,
Blairo Maggi, e de Rondônia, Ivo Cas-
sol, para rever as medidas de combate
ao desmatamento na Amazônia. Mas
em 13 de maio de 2008, cinco dias após
lançamento do Plano Amazônia Sus-
o
tentável (PAS), cuja administração foi
atribuída ao ministro extraordinário
de Assuntos Estratégicos, Roberto
Mangabeira Unger,
Marina Silva en-
tregou uma carta de demissão ao Presi-
dente da República - "jogou a toalha”,
como disse o novo ministro, Carlos
Minc - oficialmente em razão da falta
de apoio à política ambiental. Agora, o
futuro da Amazônia e da natureza bra-
sileira corre o risco de virar uma árvore
seringueira e sangrar aos poucos.
Conclui-se que
a prioridade
deste governo
é o crescimento
a qualquer custo Guaribas (P), símbolo do Fome Zero,
ANDRÉ Pessoa escreveu e fotografou
a reportagem sobre o municipio de
na RSIO (nov. 07).
A Despedida
Marina Silva disse:
"Quem é forte e quem é fraco só se
mede na história. E com certeza a
história está a favor de quem está a
favor da sustentabilidade da econo-
mia e dos recursos naturais."
"Foi uma saída pensada, madura,
com intenção de constituir um novo
pacto, em que a agenda ambiental
saísse fortalecida. Não tenho dúvi-
da de que isso aconteceu."
"Na vida é assim, você não pode
ficar gesticulando. Quando você
percebe que não dá mais para fazer
o gesto, você faz o ato. Talvez o ato
tenha criado o fato, e nós temos
agora a clareza de que la política
ambiental não vai mudar. É fun-
damental que possamos preservar
os avanços e que não tenhamos
retrocessos nessa politica."
"Que ele [Carlos Mind possa contar
com todo o apoio para consolidar
as conquistas já existentes. O com-
promisso ele já tem. Eu vou lutar
para que essas conquistas sejam
mantidas e que sejam ampliadas,
sobretudo sobre como viabilizar
crescimento com responsabilidade
ambiental. Só mudei de endereço."
A Chegada
Carlos Minc disse:
"A Amazônia não vai virar carvão."
"[Marina foi] a melhor ministra do
Meio Ambiente que o Brasil já teve."
"A Marina não saiu pelos seus
defeitos, mas pelos seus méritos."
"Vou conversar longamente com o
ministro Lobão. Para dizer que não
sou Chapeuzinho Vermelho. E que
as hidrelétricas são uma boa matriz.
uma energia limpa, que o setor elé-
trico pode ajudar a preservação."
"Tive longas conversas com a
ministra Dilma Rousseff e disse
que nossa música será dois pra
lá, dois pra cá: duas licenças, dois
parques ambientais'. o desenvol-
vimento vai andar, e a preserva-
ção ambiental também."
"Quem gosta do Raul Seixas vai
lembrar da música. Não serei o
carimbador maluco, o carimbador
da improbidade administrativa.
Podemos dar licenças mais ágeis e
com mais rigor. Começar as várias
fases do licenciamento ao mesmo
tempo, suprimir as que não são tão
importantes. Encurtar prazos. Já
encomendei indices mais restritivos
em relação à poluição atmosférica.
Nossos padrões são frouxos em re-
lação aos dos países desenvolvidos."
"O ministério não pode ficar
fora da política industrial do Brasil."