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Documentos do Arquivo Pessoal de Gilberto Gil

Instituto Gilberto Gil

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Brasil

  • Título: Documentos do Arquivo Pessoal de Gilberto Gil
  • Transcrição:
    CAPA Uma pessoa, um universo erótico "N osso casamento dura porque há muito afeto. A gente tudo junto. Há lealdade e necessidade um do outro. A gente sente que sem o outro não opera. A fonte do prazer tem que jorrar. E importante ter projetos juntos. A Flora participa muito do meu trabalho, somos muito unidos. Quan- do essas coisas deixam de existir, a fonte de prazer seca. Acho que o casamento é uma forma de eleição. Você elege aquela pessoa para representar o todo, o universo erótico, as suas fantasias. E você tem que ser parcimonio- so. Admitir a vida toda contida naquela pessoa. No casa- mento, há uma troca simbólica. Troca-se o simbolismo da variedade pela qualidade. Você não precisa da superabun- dância. Também tem que aceitar as imposi- ções do tempo. O tônus muscular dela vai mo- dificar e o teu também. É preciso aceitar essa mudança no tempo e no espaço dos dois. Acho que o casa- mento é a busca de uni- dade e ela, a unidade, passa a ser constituinte do seu parceiro. E tem que estar sempre alimentando. Eu e Flora nunca nos separamos e brigamos muito poucas vezes. Acho que tem que ter humildade para superar as crises. Eu digo sempre que os erros são meus porque, mesmo que ela esteja errada, meu aborrecimento é um proble- ma meu. Eu tenho que perdoar. Se você não souber amar a pessoa mais próxima, como vai amar os outros? Há períodos em que um está mais a fim de sexo do que o outro. Eu tenho uma música que diz assim: "A gente ama e o amor produz transformações. Novos de- sejos vão tornando nossos beijos mais azuis, menos car- mim." Porque uma pessoa de 56 anos tem que ter uma performance de 26? Seria absurdo. O desempenho se- xual exuberante vai dando lugar a qualidade. Para mim, sexo tem que ser cada vez mais simples, mais inteiro, penetrar na alma. O pecado capital do casamento é abandonar a relação a dois. Os dois têm que estar em tudo. Não pode esquecer que existe a unidade. superados com a ajuda dos dois. "Todo casamen- to tem altos e baixos." O médico Sérgio Bettarello, do instituto de psiquiatria da Universidade de São Paulo, reforça a visão de Teresa. Para ele, os ca- sais que delimitam a im. portância do casamento O desempenho sexual exuberante têm mais facilidade de dá lugar à qualidade. Sexo tem que ser cada vez mais simples, mais nio o lugar de realização inteiro, penetrar na alma 3 continuar juntos. "O pro- Gilberto Gil dividuais dos cônjuges. Interesses e projetos pessoais podem não ser atravancados pelo casamento, mas a escolha de vi- ver ao lado de uma pessoa implica renunciar a outras relações. A filó- sofa Terezinha e o jornalista Fernan- do Rios, ambos de 55 anos, estão jun- tos há 34 anos e nunca pensaram em provar relacionamentos paralelos. "Pode ser muito doloroso. E, se dei- xamos de viver outras experiências, temos a recompensa de poder ser to- talmente abertos um com o outro, e construir uma profunda intimidade", avalia Terezinha. Seu marido atribui a duração do casamento a um outro fa- tor: "Quando casamos, dissemos que não era para sempre. Tirar essa expec- tativa foi ótimo pois a escolha não pre- sume a eternidade", diz. "Outra coisa é que administramos os contrários, sa- bemos que nossos pontos de vista, di- ferentes em vários assuntos, tornam a relação mais rica", completa Fernan- do. Ele gostar de música atonal e ela de new age nunca os impediu de des- frutarem juntos dezenas de prazeres GILBERTO GIL, 56 anos, casado há 19 anos com Flora, 37. como sair com os ami- gos, conversar sobre tra- balho e dançar. "Isso se deve a um respeito mui- to grande e a vários in- teresses comuns", acre- dita Terezinha. Ao se falar de casa- mento, há quem aposte que a expressão "insti- tuição falida" caia em desuso no próximo sé- culo. Para esperança ge- ral, também têm surgi- do ingredientes favorá- veis à felicidade a dois. Nos anos 90, a emanci- pação financeira mais tardia dos jo- vens, a mentalidade mais aberta que não obriga a casar quem deseja ape- nas sexo e afeto, além da própria discussão da viabilidade do casa- mento, têm favorecido escolhas e de- cisões mais bem-fundamentadas. "Por tudo isso, e principalmente pela emancipação da mulher, não se casa mais no automático", diz o psiquia- tra Sérgio Bettarello. Colaboraram: Gisele Vitória, Marta Góes (SP) e Valéria Propato (RJ) ISTOÉ/1532-10/2/99
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