SOCIEDADE HISTÓRIA
72 I REVISTA ÉPOCA 17 DE JANEIRO DE 2008
Em 1968
José Dirceu de Oliveira era um dos
principais rostos da geração 60. Como
lider estudantil, defendia a resistência
armada contra a ditadura. Em 1968, foi
preso no Congresso da UNE, em Ibiúna
Hoje
Ex-homem forte do PT, ministro do
governo Lula e deputado federal
cassado no escândalo do mensalão,
aos 61 anos presta serviços
de consultoria para empresas e tem
um blog sobre política
José Dirceu
"Continuo
socialista
"Toda a minha vida e minha atuação
política estão marcadas por 1968.
Naqueles anos de rebeldia, nós
sabíamos que as coisas podiam ser
mudadas. Não se tratava de mega-
lomania. Os vietnamitas acabaram
derrotando os americanos. Cuba fez
uma revolução e sobreviveu. Os afri-
canos conquistaram a independên-
cia. Se eles conseguiram, por que nós,
brasileiros, não conseguiríamos? Eu
fui totalmente favorável à resistência
armada contra a ditadura. Quando
entrei no Partido Comunista Bra-
sileiro e no movimento estudantil,
já tinha uma visão muito critica do
que tinha sido a atuação do parti-
do, que era o caminho pacífico. Eu
estava envolvido pelo ambiente que
existia na época, de descrença em
qualquer luta político-institucional.
Por isso, a resistência armada parecia
ser um caminho viável. No entanto,
sempre fui um dissidente das teses
mais militaristas. Eu não concordava
com as propostas de voluntarismo,
com um certo desprezo que alguns
militantes tinham pelo movimento
social. Embora socialista, eu não
apoiei a invasão da Tchecoslováquia
por tanques soviéticos. Por mais que
ouvisse argumentos convincentes do
ponto de vista de minha visão mar-
xista, eu achava impossível aceitar
aquilo. Continuo socialista até hoje,
mas os são outros. Mudei
s os tempos
muito. Não acredito no socialismo
totalitário, burocrático e antidemo
crático, que, infelizmente, continua
a seduzir muitos militantes brasilei-
ros. A luta da minha geração foi
fundamental para a redemocra-
tização do Brasil. Ela deixou
uma
contribuição extraordinária ao
transformar as relações políticas e ao
pregar o direito à liberdade. Isso sem
falar nas mudanças de padrões de
comportamento. Eu me considero
um privilegiado por ter sido um dos
estudantes da geração de 1968."
Fotos: Juan Esteves/EPOCA a AE e Andre Valentin/ÉPOCA