Abrindo o Coração
Vista parcial
da cidade
de Santo
Amaro
da Purifica-
ção/BA.
E realmente o talento ia fluin-
do de maneira natural, em meio
às brincadeiras de criança: "Cae-
tano tocava, o dia inteiro, piano!
Ele chegava do colégio, nem
entrava direito em casa, e esta-
va ao piano. Eu dizia: Caetano
chegou!' (risos). Uma loucura
pela música que tem até hoje. E
compunha, a gente nem sabia.
Só quem tinha conhecimento
era Mabel, porque ele dava (as
letras) a ela para guardar”. Há
mesmo uma gravação única feita,
em 1952, por Caetano na casa dos O talento dos filhos ganha
de Ouro do feliz casamento.
Seu Zeca e dona Cano na missa em comemoração às Bodas
os palcos
O fato é que os filhos
de
dona Canô tinham
razão, e a primeira
grande oportunida-
de surge para Maria
Bethânia quando ela
é convidada para
substituir, em 1965,
a cantora Nara
Leão (1942-1989)
no show Opinião,
no Rio de Janei-
ro. "Aconteceu
pelo valor dela
pais, cantando Feitiço da Vila (de
Vadico e Noel Rosa) e Mãezinha
querida (de Getúlio Macedo e
Lourival Faissal), que fez muito
sucesso com Carlos Galhardo
(1913-1985), sendo acompanha-
do ao piano pela irmã Nicinha.
De Caetano ainda rememora a
aptidão para o desenho e a pintu-
ra a óleo. "Ele pintava e tocava
muito, o dia inteiro, ou (estava
ao) piano ou pintando, nunca
ficava parado”.
Fiquei preocupadíssima, ir para
o Rio. Caetano falou: Minha
mãe, eu levo ela'. Bethânia can-
tou uma música dele no show e
foi depois procurada para saber
quem tinha feito aquela letra.
Então, eles começaram".
Neste espetáculo, a cantora
baiana estreou com destaque ao
interpretar, de forma diferenciada
e forte, Carcará, que se tornou
sucesso nacional. Foi também
pioneira ao registrar em disco a
música do irmão É de manhã, em
compacto simples pela RCA Vic-
tor. Daí por diante os dois tiveram
cada vez mais êxito, participando
da Bossa Nova, dos grandes fes-
tivais e, posteriormente, criaram
com outros artistas, a exemplo de
Gilberto Gil, Tom Zé, Torquato
Neto, Gal Costa, o Tropicalismo,
movimento de vanguarda que
sacudiu as estruturas culturais
da época. Seguem até hoje como
grandes nomes da Música Popu-
lar Brasileira (MPB).
Esses passos foram acompa-
nhados de perto pela carinhosa
mãe, que sempre que podia via-
java pelo Brasil e Exterior para
assistir aos shows dos filhos.
"Todos me emocionavam muito,
porque eu nunca esperei que eles
chegassem onde estão. Ver meus
filhos, o Povo, aquela multidão
aplaudindo, gritando, é uma
coisa muito séria. Não sou de
chorar, mas havia músicas que
eu chegava a parar pra...".
E confidencia: "O meu maior
orgulho é meus filhos serem uni-
dos a mim ainda hoje, mesmo
com a posição que ocupam, prin-
cipalmente Bethânia e Caetano.
Isso é muito bom! Se eu gemer,