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CLIENTE: Gilberto Gil
VEÍCULO: O Estado de S. Paulo - SP
SEÇÃO: Caderno 2
DATA:
26/08/2008
Música Bossa Nova:
João é todo
sorrisos na
volta ao Rio
Cantor deixa em êxtase público que
lotou o Teatro Municipal no domingo
Lauro Lisboa Garcia
ENVIADO ESPECIAL
RIO
Muita gente do meio musical re-
clama da escassez de espaço pa-
ra boa música no Rio, da infra-
estrutura e acústica de algumas
casas, da falta de interesse por
novidades e do comportamento
do público carioca e tal. Mas o
que se viu neste fim de semana
foi algoredentor. Depois da pas-
sagem triunfal de Caetano Velo-
so e Roberto Carlos na sexta-fei-
ra, nada melhor para coroar a
programação do que João Gil-
berto, anteontem, no Teatro
Municipal, dentro do mesmo
projeto Itaúbrasil, para cele-
brar os 50 anos da bossa nova.
Acorreu ao show de João,
que começou com 54 minutos
de atraso, um número de gente
de música bem maior que no do
encontro de RobertoeCaetano.
O cantor baiano, aliás, era um
dos convidados. Comparece-
ramtambém Gilberto Gil, Fran-
eis e Olivia Hime, Olivia Bying-
ton, Sérgio Ricardo, Adriana
Calcanhotto, Jaques Morelen-
baum, Moraes Moreira, Davi
Moraes, Galvão, Carlinhos Bro-
wn, Roberta Sá, Moreno Veloso
e Pedro Sá, entre outros.
Muitos deles nunca tinham
visto João tocar ao vivo e, mais
do que fäs ou curiosos, entre
eles havia devotos. "João pra
miméum acontecimento perpé
tuo. Já está aqui no cerebelo",
exultava Caetano, ao final da
apresentação. "É sempre mara-
vilhoso. É muita filigrana, os me-
lismas de Rosa Morena e Samba
do Avião, que ele faz muito sutil-
mente, mas que hoje fez com
um pouco mais de exibição mes-
mo", observou Gil, ressaltando
ainda as qualidades de "grande
garimpeiro dos aluviões da mú-
sica de todas as épocas".
Sérgio Ricardo, de quem
João sempre cantou músicas
"nas intimidades", diz que ficou
surpreso quando o cantor in-
cluíu O Nosso Olhar no roteiro de
São Paulo, e repetiria anteon-
tem com resultado ainda mais
bonito. “Foi muito surpreenden-
te o fato de ele cantar uma músi-
ca minha, porque não é muito o
estilo dele. Mas tudo o que ele faz
tem sempre uma mágica."
Pedro Sá, guitarrista da ban-
da de Caetano, conta que chegou
às 8 horas da manhã do dia em
que se abriram as vendas de in-
gressos (que se acabaram três
horas depois). Artinha um cara
OS BAIANOS CAETANO,
GIL E MORAES FALAM
DAS MARAVILHAS
DO CONTERRÂNEO
SUTILEZA-Sempre afetuoso, cantor
na fila que tinha um ingresso so- mo se fosse a primeira vez. Ele
brando para o show de Caetano está cantando do jeito maravi-
e Roberto. Dei muita sorte." lhoso que a gente conhece, é
"É uma viagem em que João sempre emocionante demais."
leva a gente sempre para um lu- Pois a "viagem" começou
gar muito bom", definiu Moraes com um lindo tributo a Dorival
Moreira. "E por tudo que eu co- Caymmi, morto no sábado re-
nheço dele, posso dizer que esse trasado, com três clássicos-Vo
show de hoje foi muito especê Já Foi à Bahia?, que cantou
cial." Seu jovem filho Davi Mo- duas vezes seguidas, variandoo
pela quarta vez: "É sempre co-
raes, "graças a Deus", viu João andamento, Doralice e Rosa Mo-
rena - na seqüência. "Dorival
WILTON JUNIOR/AE
nem precisar afinar muito as -
cordas do violão, como aconte-
ceu no primeiro show no Audit-
rio Ibirapuera, João, do alto de
seus 77 anos, ainda impressiona
não só pela vitalidade, mas pelas
nuances criativas de interpreta-
ção e harmonias inesperadas.
Caymmi que talvez não conheber uma gota de água sequer
çam muito."E
mandou outra pe-
drada: Você Não Sabe Amar. Al-
gumas canções do repertório
de São Paulo - basicamente os
clássicos da bossa nova de Tom
Jobim e parceiros - coincidi-
ram no roteiro carioca, mas é
claro que foi tudo diferente. E
até mais caloroso. Quebrando Oshow começou um tantoes-
umjejum de 14 anos sem se apre- tranho. João parecia rouco,
sentar no Rio, ele fez lindas ho- com a voz cansada, e se atrapa-
menagens à cidade com Sambalhou um pouco com a letra de
do Avião e Sinfonia do Rio de Ja-
neiro (ambas de Tom, a segunda
em parceria com Billy Blanco).
Samba do Avião foi um mo-
mento especial. João repetiu cin-
covezes a letra, trocando e supri-
mindo palavras, numa versão di-
ferente da outra, como se esti-
vesse depurando-a até encon-
trar o ponto exato. Fez até um
Doralice. Mas a partir de Medita-
ção (Tom Jobim/Newton Men-
donça), inserindo pausas e ono-
matopéias, já com a voz mais
aquecida, o show deslanchou.
Já no bis, ele dá uma leve derra-
pada no verso final de Da Cor do
Pecado, mas em vez da serieda-
de com que conduzia Doralice,
desta vez ele se divertiu com o
deslize, e o público mais ainda.
Estefoium dos vários momen-
tos de um João sorridente, como
em Disse Alguém (versão dostan-
dardamericano Allo Me), buliço-
so no remelexo de Isto Aquio Que
É? (Ary Barroso), De Conversa
em Conversa (Lúcio Alves/Harol-
do Barbosa) e Não Vou pra Casa
(Antônio Almeida/Roberto Ro-
berti). Teve Lígia, sem ele pro-
nunciar de novo o nome da musa
de Tom Jobim, e outras passa-
gens de grande delicadeza poéti-
ca como Chove La Fora (Tito Ma-
di), Caminhos Cruzados (Tom Jo-
bim/Newton Mendonça)e Sinfo-
nia do Rio de Janeiro, das maisen-
cantadoras do concerto.
A platéia conseguiu segurar
o impulso de cantar junto até
Desafinado. Mas quando veio
Chega de Saudade não resistiu e
começou a acompanhá-lo baixi-
nho. João adorou o "sussurri-
nho" de "vai, minha tristeza" e
convidou: "Vamos fazer de no-
vo."E toca outra vez, sem can-
tar, só fazendo de vez em quan-
do um contracanto discreto pa-
ra o vocal da platéia.
De Tomem Tom, antes de Ga-
rota de Ipanema disse que não
queria mais ir embora, earrega-
çou a manga direita da camisa e
do paleto, para mais um êxtase
geral. E não é que ele até aten-
deu ao pedido de uma fa e man-
douver O Patono fim?"Cadêvo-
cês?", convocou na hora de fazer
"quem qüem". Pela ovação final,
o público do teatro lotado queria
mais e mais. Não teve, mas vol-
tou pra casa com um sorriso tão
grande quanto o de João..
CANTOR GOSTA DO
"SUSSURRINHO DA
PLATÉIA E PEDE QUE
ELA CANTE COM ELE
belo solo instrumental, que po-
deria ser mais longo, de tão inte-
ressante que foi, para se notar a
dinâmica de seus acordes. A Sin-
fonia caiu como um bálsamo em
sua louvação a Copacabana.
Atéa taoesgarçada Waveres
surgiu como se estivesse levan-
tando fresquinha do mar, levada
por uma prazerosa brisa de ve-
rão. Foi uma daquelas interpre-
tações que superam todas as ou-
tras já feitas da canção, incluin-
do as do próprio João. O mesmo
pode-se dizer da italiana Estate.
Outra que deixou os fãs em
êxtase foio
bem-humorado sam-
ba 13 de Ouro (Marino Pinto/He
rivelto Martins), com que ele já
tinha surpreendido o público
paulistano. Para Caetano foi um
dos destaques do show. Não co-
fez significativo tributo a Caymminhecia "aquela da macumbei-
ra", como também foi novidade
Caymmi, vocês sabem", disse para eleetodo mundo um trecho
João ao terminar a primeira. Pa- de uma composição de Severino
ra os bons entendedores, bas- Filho, que nem João lembrou di-
tou. Melhor demonstração de reito da letra (e pediu desculpas
respeito do que o silêncio, pela por isso). Foi num dos dois mo-
memória do supremo baiano mentos em que exaltou as quali-
que prenunciou a bossa de dades dos Cariocas, "grande
João, só mesmo ele cantando. conjunto vocal", e os homena
Mais para o fim, no bis, vol- geou cantando só a parte final de
tou a abordar o conterrâneo: Tim Tim por Tim Tim, deixando
"Vocês me dão licença de can- um sabor de "quero mais".
tar uma música de Dorival Sem tapete no palco, sem be-
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