Em seu último livro, o escritor
português José Saramago, ninguém me-
nos do que o único autor em língua por-
tuguesa até hoje agraciado com o Pre-
mio Nobel de Literatura, aborda o tema
da morte, presente inclusive no título a
obra, que se denomina Intermitências da
morte. Pois bem, sem querer tirar o pra-
zer de quem pretende se debruçar sobre
o texto magnífico, e todos devem fazê-
lo, permito-me adiantar que se trata de
uma história de superação. E a supera-
ção se dá por meio da arte. Mais precisa-
mente, da música. Mais precisamente,
ainda, da música de Johann Sebastian
Bach. Mais precisamente, por último, da
Suite N.°6.
Feito este intróito, chego aonde
desejava: antecipadamente prestar a mi-
nha homenagem solitária ao compositor,
que tem no dia 15 de janeiro a sua data
mundial.
Não distingo, no tempo-espaço.
este ou aquele gênero, esta ou aquela na-
cionalidade, porque a música, como
aliás, todas as manifestações artísticas, é
atemporal e universal. Mas o Brasil, sem
dúvida, foi sempre um terreno fértil para
que grandes talentos se desenvolvessem,
não fossemos nós donos de uma multi-
culturalidade e uma multirracialidade
CLIENTE: GILBERTO GIL
VEÍCULO: A GAZETA - CUIABÁ
OPINIO
SEÇÃO:
DATA: 09.01.2006
PÁG: 3A
impressionantes, que, desde sempre,
prodigiosamente, compuseram a identi-
dade nacional.
Costuma-se reconhecer, a distân-
cia, um brasileiro, sobretudo pela ine-
quívoca musicalidade
Musicalidade, que produziu uma
constelação
eclética, feita de mana
estrelas tanto do
erudito quanto
do popular: de
Villa-Lobos
a
Veloso;
de Carlos Go-
mesa Chico
Buarque: de
Chiquinha Gon-
zaga a Gilberto Gil; de Ernesto Nazareth
a Antônio Carlos Jobim. E mais Pixin-
guinha, Edu Lobo, Lamartine Babo, Lu-
picínio Rodrigues, Noel Rosa, Paulinho
da Viola, Braguinha, Paulo Vanzolini,
Ari Barroso, Aldir Blanc, Cartola, Luís
Gonzaga, Vinícius Moraes, Raul Sei-
xas, o "Maluco Beleza", Dorival Caym-
mi, Gonzaguinha, prematuramente desa-
parecido, Antônio Maria, Renato Russo,
que também morreu muito cedo, Garoto,
Bororó, goiano, portanto, meu conterra-
neo, de quem faço questão de lembrar
pelo virtuosismo.
Musicalidade, que produziu o
samba, o mais emblemático entre os rit-
mos brasileiros, ritmo onipresente, no
país e no mundo, que tem figuras como
os já citados Pixinguinha, Cartola, Pau-
linho da Viola, Aldir Blanc, Paulo Van-
Ozolini,
Noel Rosa
e tem tam-
bém Don-
ga, Dona
Ivone La
costuma-se reconhecer, a
distância, um brasileiro,
sobretudo pela inequívocara, Noca
da Portela,
musicalidade
Elton Me
deiros, Nei
"Lopes,
Martinho da Vila, João Bosco, Zé Kéti,
João Nogueira, Adoniran Barbosa, Silas
de Oliveira e uma infinidade de nomes,
uns mais, outros menos conhecidos, to-
dos responsáveis pela "desmarginaliza-
ção" do samba, por via do resgate das
genuínas raízes musicais brasileiras, cu-
ja expressão mais elevada não é outra.
Musicalidade, que chegou a in-
ventar um gênero: a bossa-nova, com
seu estilo econômico, racional, despoja-
do, atravessando fronteiras, a ponto de
mudar a música norte-americana, pela
influência exercida sobre o
jazz, por si já
algo formidável, mas tornado ainda me-
Thor, com o advento do novo ritmo. Cita-
mos há pouco Vinícius e Tom. Estes, de
fato, tornaram-se grandes proceres bos-
Sa-novistas, e a seus nomes acrescen-
tem-se os de Johnny Alf, João Donato,
Wilson das Neves, Oscar Castro Neves,
Carlinhos Lyra, Roberto Menescal, Ro-
naldo Bôscoli, Chico Feitosa, Luís Bon-
fá e outros. Juntos, reinventaram a músi-
ca popular brasileira.
Seja do ponto de vista cultural,
seja até mesmo social e econômico, o
Brasil deve muitíssimo a todos.
Receba, portanto, as minhas ho-
menagens, compositor brasileiro. Que
essas se estendam a quantos mais, aqui
ou alhures, viveram e vivem pela músi-
ca, da música, para a música. Desempe-
nham eles uma missão divina, qual a de
oferecer ao semelhante um pouco de es-
perança, entendimento e união, num
mundo que cada vez mais se despovoa
de tais valores.
Parabéns
JOÃO PAULO BORGES É JORNALISTA EM
BRASÍLIA E ESCREVE NESTE ESPAÇO ÀS
SEGUNDAS-FEIRAS. E-MAIL: BORGES-
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