Hermano Vianna chegou
para a nossa conversa no Forte de
Copacabana acompanhado do sobri-
nho Lucas, filho de seu irmão Her-
bert Vianna, com quem tinha passa-
do a manhã estudando química.
Por mais insólito que pareça, esse
guru de uma geração de artistas fun-
damentais na cultura brasileira, o
homem que está por trás de boa parte
do que você viu, ouviu e dançou nos
últimos anos, antes de estudar ciên-
cias sociais e se tornar doutor em an-
tropologia social pelo museu nacio-
nal/ UFRJ, fez uma passagem de três
anos em química. Mas essa é apenas
uma faceta surpreendente desse in-
telectual que resolveu colocar a mão
na cultura de massa e cujo espectro
de informações vai do animé japonês
ao tecnobrega de Belém do Pará, pas-
sando pelo samba, o funk, a música
eletrônica e o que há de mais novo no
universo digital. “Se eu tenho um ví-
cio, é a informação", declara, com um
sorriso constante e iluminado, como
o de um monge budista.
ele, com sua curiosidade, já mapeou.
Se você não acredita, preste aten-
ção neste currículo:
Hermano é autor dos livros O Mis-
tério do Samba (Jorge Zahar, 1995),
O Mundo Funk Carioca (Jorge Zahar,
1998) e Música do Brasil (Ed. Abril,
2000). Na televisão, ajudou a conce-
ber e roteirizar os programas: African
Pop, Baila Caribe, Programa Legal, Na
Geral, Brasil Legal, Central da Periferia
e Minha Periferia É o Mundo. Na inter-
net, é o pai do projeto Overmundo,
um site de divulgação da cultura bra-
sileira, com foco em manifestações
populares fora do eixo Rio-São Paulo,
que recebe 1 milhão de visitas men-
sais e que no ano passado ganhou,
com a Wikipédia, o Golden Nica - o
principal prêmio da comunidade di-
gital no mundo. Não bastasse toda
essa produção de conteúdo, Herma-
no ainda encontra tempo para fazer a
curadoria do TIM Festival.
informação em tempo real para o seu
computador, cada vez que um deles é
atualizado -ele se alimenta das infor-
mações de aproximadamente 60 sites
e blogs, diariamente.
Outra das suas fontes de informação
são as lan houses de pequenas cidades
do país. “Em muitos lugares onde vou
a trabalho, a internet no hotel não é
boa. Aí vou à lan house e descubro um
monte de coisas. Tem gente que acha
que as pessoas ficam isoladas nesses
lugares. Nada! É um ponto de encon-
tro. Tem muita vida social.”
E é disso que Hermano gosta: con-
versar com todo tipo de gente. Foi
esse gosto pelas pessoas que definiu
sua vida. Recém-formado em ciências
sociais, procurou Gilberto Velho para
orientar a sua tese de mestrado. "Ele
fez uma pesquisa sobre o edifício 200
da Barata Ribeiro muito antes que esse
tipo de antropologia urbana existisse
em outros lugares do mundo."
Hermano Vianna tem cabeça ras-
pada, olhar claro, expressão sincera
e confiável e, pela tranquilidade e do-
çura, definitivamente não parece ser
deste planeta conturbado em que vi-
vemos. E veja bem: se realmente não
for, e estiver aqui em pesquisa, quan-
do os alienígenas chegarem, saberão
todos os pontos-chave da Terra, que
Do encontro com Gilberto Velho
saiu a dissertação de mestrado sobre o
funk carioca. "As pessoas dizem: 'Você
não gosta de funk, é interesse acadê-
mico'. Mentira. Eu fui ao baile funk
porque gostava daquele tipo de músi-
ca. Quando descobri o tamanho do fe-
nômeno, pensei: como é que ninguém
que eu conheço sabe que isso existe?"
Para estar ligado a tudo o que acon-
tece, seu principal canal é a internet.
Por meio de um leitor de RSS - um
agregador de notícia que cadastra
seus endereços preferidos e envia a
Em pouco tempo, graças à publi-
cação da tese e às idas às festas, como
fez com Fernanda Abreu quando le-
O GURU DO POP
De onde vem esse drive furioso
por saber tudo o que acontece? “O
impulso básico é curiosidade. Eu
gosto do mundo. Acho o mundo
muito interessante. Nesse período
curto de tempo no qual a gente está
vivo, seria desperdício ficar parado."