TV PÚBLICA
camente e precisam recorrer
ao mercado publicitário. "Por
isso defendemos um projeto de
lei do deputado Walter Pinhel-
ro (PT/BA), que destina 2%
do Fundo de Fiscalização de
Serviços de Telecomunicações
(Fistel) aos canais e rádios co-
munitárias e às TVs educativas,
algo em torno de R$ 6 milhões
por ano", conta Trezza.
Outro ingrediente nessa sala-
da em que se transformou a dis-
cussão sobre televisão pública é
a perspectiva de poder fazer uma
programação independente e re-
gionalizada Cláudia lembra que
a TV Câmara exibe a produção
realizada por documentaristas
brasileiros, os canais universi-
tários costumam desenvolver
atrações com temas ligados às
instituições conveniadas e os
comunitários abrem espaço para
questões e programas locais
"Mas não considero Camara, Se-
nado ou Justiça canais públicos,
e sim expressões de poderes
constituidos."
EXPERIMENTAÇÃO
Na opinião de Paulo Miranda,
secretário executivo da ABC-
com, os modelos de emissoras
públicas e comunitárias nos
Estados Unidos e no Canadá
são referenciais por escaparem
da lógica comercial. "Aqui em
Brasília, na TV Comunitária,
,
recebemos excelentes roteiros
de produtores independentes,
que podem ser vistos também
na Telesur, na TV Câmara e na
TV Senado, mas não temos di-
nheiro para todos. Mal pagamos
as contas. Há alguns anos tive
de recusar o projeto de uma
pessoa interessada em produzir
um documentário sobre Clarice
Lispector. O que precisamos é de
mais investimento, não dá para
viver em um país somente com
mídia privada", defende.
O erro, segundo Melo, é
que o Brasil adotou o sistema
de produção própria, quando
deveria selar parceria com os
produtores independentes. "O
mais incrivel é que o Ministério
da Cultura, através de incen
tivos, possibilita a criação de
curtas e longas, mas as TVs
públicas não têm acesso. Hoje,
nas gavetas do ministério, re-
pousam mais de 4 mil titulos
que não podemos exibir por
questões de direitos autorais",
conta. O fato foi levado ao minis-
tro Gilberto Gil, que prometeu
criar uma espécie de biblioteca
multimídia e dar oportunidade
para os canais públicos transmi-
tirem seu conteúdo
Por não terem compromis-
sos comerciais, as emissoras
públicas deveriam apostar mais
na experimentação, como en
xerga o segmento. O que é bom
acaba sendo incorporado pela
TV em geral. "Quem assistiu às
intervenções dos canais piratas
no Rio de Janeiro e em São
Paulo nos anos 80 deve se lem-
brar que eles faziam programas
misturando entrevistas de run
reais com jornalismo-mentira,
denúncias verdadeiras e muitas
brincadeiras. Hoje vemos isso
no Casseta & Planeta e acha-
mos normal, mas a Globo pegou
meio&mensagem especial tv aberta 30 DE ABRIL DE 2007
Raio X do
sistema público
de TV no Brasil
58
emissoras
estatais
Seupapelprincipalélevar informações dostrés po-
deres públicos ao cidadão por meio da exibiçãodos
trabalhos do plenário e das comiss786. Entre elas
estão as Legislativas (TVS Senado, Câmara, as das
Assembléias e Camaras Municipais), a Executiva
(NBR, da Radiobrás) e a da Justiça (TV Justiça).
carona e escolheu o nome TV
Pirata para um programa de
humor diferente dos até então
produzidos", conta Cláudia.
Como o conteúdo é mais im-
portante do que a forma, uma TV
pública de qualidade pode apro-
fundar debates que não teriam
espaço nas comerciais, acredita
Trezza. "Fala-se muito da trans-
posição do rio São Francisco nos
canais comerciais, mas neles as
vos já operam em frequência
aberta desde seu nascimento
No plano de distribuição dos
novos canais digitais, o governo
reservou um para o Executivo,
outro para o Ministério da Edu-
cação e um terceiro para o da
Cultura. O quarto seria um ca-
nal da cidadania, que atenderia
os atuais canais comunitários e
universitários e emissoras ope-
matérias têm poucos minutos.
Em uma TV pública, pode-se
dedicar todo um programa para
essa questão
Nasceram na década de 60
para realizar teleducação e
aos poucos foram mudando o
seu perfil. Hoje têm natureza
educacional e cultural em um
sentido mais amplo. Foram as
primeiras que se apresenta-
ram como TV pública
122
canais universitários
e comunitários
Eles dão voz a sociedade civil orga-
a
nizada, permitindo que quaisquer
ONGs utilizemo espaço para difusão
de suas idéias. As redes universi-
tárias buscam aproximar o mundo
académico e a população, mostran-
dodescobertas, avanços, discussões
e pesquisas.
167
Emissoras
educativas
Coordenador executivo do
Instituto de Estudos e Projetos
em Comunicação e Cultura (In
decs) e membro do Intervozes,
Gustavo Gindre vai na mesma
toada. "Quando falamos em
sistema público não podemos
pensar apenas em emissoras,
Canais pedem regras claras para digitalização
As emissoras públicas hoje
alojadas no sistema cabo que
rem mudar para o sinal aber
to. Uma das razões é alcançar
as camadas mais pobres da
população, que não têm aces-
so ao espectro pago. Com a
digitalização a migração será
possível, mas, sem verba de
investimento, os canais mais
descapitalizados correrão o
risco de desaparecer quan-
do o sistema analógico for
desligado, em 2016. Os equi-
pamentos necessários para a
transmissão no novo formato
podem inviabilizar muitas
emissoras comunitárias. "Se
algumas já tem problemas
até para pagar a conta de
luz no fim do més, como vão
arrumar recursos para um
aparelho?", indaga Claudia
Verde, da TV Comunitária do
Rio de Janeiro
Para Gustavo Gindre, do
Indees e do Intervozes, o
dinheiro deveria vir de finan-
ciamento do Banco Nacional
de Desenvolvimento Eco-
nômico e Social (BNDES),
com desoneração fiscal.
"Vale lembrar que a im
plantação da TV privada
no Brasil foi fortemente
subsidiada pelo Estado,
através de importações fa-
cilitadas, subsídio para link
de satélites, publicidade
estatal. Então, por que não
garantir o mesmo direito às
emissoras públicas? Poste-
riormente, o fundo público
garantiria esses recursos",
defende. Só a TV Cultura,
de São Paulo, vai precisar Melo, da TV Cidade: comunitarias querem sinal aberto
de RS 150 milhões para se
digitalizar. Uma das propostas
em discussão é o governo facili-
tar a compra dos equipamentos
e as emissoras comunitárias
pagarem com mídia.
Fernando Mauro Trezza,
da ABCcom, diz que é preciso
atenção e articulação
muita
do campo público para que as
emissoras não percam o bonde
da história. Os canais educati
radas por prefeituras.
"Precisamos garantir
que essas emissoras sejam
realmente implantadas e
que os canais públicos que
hoje operam no sistema a
cabo consigam transmitir
também na onda aberta, o
que aguardam há mais de
dez anos", diz Trezza. "E
um contra-senso o esta
belecimento de um canal
comunitário apenas para a
parte mais rica da socieda-
de, aquela que pode arcar
com os custos de uma TV
por assinatura." Na visão
de Marcel Hollender, presi-
dente da TV aberta São Paulo,
ex-TV Comunitária, as redes
comerciais têm medo da força
das emissoras comunitárias.
"Nossa ligação direta com a
comunidade é tão poderosa que
assusta."
Jefferson Melo, da TV Cida-
de, acrescenta: "Queremos estar
no sinal aberto para mostrar a
diversidade do que produzimos
mas em um conjunto que reu-
na também produtores inde-
pendentes e centrais públicas
de produção que permitam a
multiplicação da capacidade
de gerar conteúdos", assinala,
Isso baseado em regras claras
de produção independente e
regional. "O DocTv, do Ministé
rio da Cultura, é uma primeira
experiência nesse sentido, mas
ainda é muito pouco."
e, principalmente, para atin-
gir o povão, nosso público-
alvo". Outro problema é a
resistência das operadoras de
TV por assinatura em digita-
lizar os canais públicos, man-
tendo-os no sinal analógico.
"Isso acabaria com a nossa
audiência, mas o Ministério
Público já chamou as opera-
doras para um acerto."
O receio do setor é que as
mudanças sejam levadas em
banho-maria, como diz Paulo
Miranda, da ABCcom. "Na
década de 70 prometiam a de-
mocratização da comunicação
com o advento da tecnologia.
Nos anos 80 a promessa foi
ruindo e, na década seguinte,
morreu de vez. Agora, piorou
tudo e os conglomerados es-
tão cada vez mais fortes." Em
sua opinião, o segmento terá
de se preparar para enfrentar
o governo, as operadoras, a
Agência Nacional de Teleco-
municações (Anatel) e até a
Polícia Federal