recanto no meu sitio. E, por questão
pessoal, tenho um interesse muito
grande em acompanhar como ficará a
música na rede. A primeira vez que
usei a Internet foi para localizar, aces-
sar e me comunicar com os Rolling
Stones (http://www.stones.com), então
acessei o sítio deles e enviei um e-mail
para o Keith Richards, guitarrista do
grupo (risos).
IW: Por falar em e-mail, devem ser
muitas as mensagens que chegam para
você via Internet. Como elas são
administradas?
Gil: Meu e-mail pessoal é pouco
divulgado, funciona como um
telefone secreto que poucas pes-
soas têm acesso. Já o e-mail do
meu sítio é administrado pela
minha filha Nara, que faz uma
leitura diária e cuida para que,
na medida do possível, as men-
sagens sejam respondidas. É cla-
ro que tudo que é visivelmente
importante e interessante chega
ao meu conhecimento. Na verda-
de, esse contato do público faz
parte de um processo natural, até
então viabilizado pelo correio
convencional e portas de cama-
rim (risos). Não eram todos que
tinham acesso ou resposta por-
que não há capacidade física pa-
ra isso. Mas como queremos fa-
zer o sítio render, tentaremos fa-
zer contatos mais intensos, den-
tro da medida do possível, com
todas as pessoas que nos aces-
sarem.
IW: Você já experimentou colocar seu
nome em um mecanismo de busca co-
mo o Alta Vista, por exemplo, para ver
no que dá?
Gil: Pessoalmente não, mas no mês pas-
sado me disseram que foram encontra-
dos cerca de sete mil sítios.
IW: Já são cerca de dez mil...
Gil: É (rindo), então cresceu em pelo
menos três mil só no último mês. Isso
só comprova a velocidade em que a
coisa anda.
48 INTERNET WORLD MAIO 1998
IW: Como compositor, qual a sua posi-
cão em relação à questão dos direitos
autorais na Internet?
Gil: Hoje a rede é um espaço democrá-
tico e temos que navegar conforme as
regras do jogo, ou seja, por enquanto a
pirataria é franqueada na Internet. Não
quero me preocupar se alguém do Ja-
pão faz uso da minha música porque
também não quero que alguém de lá se
preocupe que eu utilize algo que seja
de sua autoria (risos). Hoje o acesso é
aberto, o caráter da rede é esse e eu
acredito que a Internet vai exigir uma
flexibilidade nesse sentido. Acho bem
provável que a Internet esteja inaugu-
rando uma nova área de dominio pú-
blico em nível internacional. E essa
questão é interessante porque vai de-
sencadear um outro processo, que são
as trocas de valor na Internet.
IW: Como assim?
Gil: A Internet propicia uma concep-
ção de moeda virtual, que pode ser
chamada assim por permitir a troca,
ou seja, o tempo todo você dá e rece-
be sem que haja usurpação ou apro-
priação indébita. E o que determina o
valor na Internet é o volume de aces-
sos, a quantidade de pessoas que estão
navegando neste ou naquele sítio. Só
para exemplificar: o fotógrafo Mário
Luiz Thompson, que está cedendo
seus trabalhos para a utilização no
meu sítio, recebeu em troca um recan-
to próprio. São várias as pessoas que
vão conhecer o seu trabalho através
do sítio do Gilberto Gil e que não
acessariam o Mário Luiz por desco-
nhecimento absoluto ou desinteresse
em relação a área.
IW: Você acha que a Internet comporta
alguma medida de censura?
Gil: A Internet em si, como insti-
tucionalidade global, não tem
mecanismos para adotar esse
procedimento, que é, antes de
tudo, contra sua própria nature-
za. Como não se pode impedir,
hoje em dia, que as intercone-
xões sejam abertas, ou seja, que
eu possa acessar multiplamente
e que todos possam me acessar,
cabe às pessoas que elaboram e
disponibilizam cada sítio terem
um mínimo de vigilância sobre
aquilo que estão levando ao co-
nhecimento dos outros.
IW: O que muda daqui para a
frente com a chegada da
Internet?
Gil: Definitivamente não dá para
não participar, porque a Internet
está incorporada ao sistema in-
ternacional, seja sob o aspecto
cultural, político, econômico ou cientí-
fico. A grande questão daqui para a
frente é a vigilância constante que de-
ve ser feita nas duas pontas do sistema.
Numa está o desenvolvimento e o
aperfeiçoamento tecnológicos, as polí-
ticas que serão traçadas nesse sentido;
na outra ponta está a democratização
do acesso, a horizontalização de todos
os povos. No meio de campo dessa
tecnologia todo mundo vai dar seu
pontapé e vai chutar cada vez mais e
mais. A atenção, portanto, deve ser
desviada para quem está chutando nas
duas pontas, porque são elas que vão
determinar ou não o avanço.
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