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Documentos do Arquivo Pessoal de Gilberto Gil

Instituto Gilberto Gil

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Brasil

  • Título: Documentos do Arquivo Pessoal de Gilberto Gil
  • Transcrição:
    recanto no meu sitio. E, por questão pessoal, tenho um interesse muito grande em acompanhar como ficará a música na rede. A primeira vez que usei a Internet foi para localizar, aces- sar e me comunicar com os Rolling Stones (http://www.stones.com), então acessei o sítio deles e enviei um e-mail para o Keith Richards, guitarrista do grupo (risos). IW: Por falar em e-mail, devem ser muitas as mensagens que chegam para você via Internet. Como elas são administradas? Gil: Meu e-mail pessoal é pouco divulgado, funciona como um telefone secreto que poucas pes- soas têm acesso. Já o e-mail do meu sítio é administrado pela minha filha Nara, que faz uma leitura diária e cuida para que, na medida do possível, as men- sagens sejam respondidas. É cla- ro que tudo que é visivelmente importante e interessante chega ao meu conhecimento. Na verda- de, esse contato do público faz parte de um processo natural, até então viabilizado pelo correio convencional e portas de cama- rim (risos). Não eram todos que tinham acesso ou resposta por- que não há capacidade física pa- ra isso. Mas como queremos fa- zer o sítio render, tentaremos fa- zer contatos mais intensos, den- tro da medida do possível, com todas as pessoas que nos aces- sarem. IW: Você já experimentou colocar seu nome em um mecanismo de busca co- mo o Alta Vista, por exemplo, para ver no que dá? Gil: Pessoalmente não, mas no mês pas- sado me disseram que foram encontra- dos cerca de sete mil sítios. IW: Já são cerca de dez mil... Gil: É (rindo), então cresceu em pelo menos três mil só no último mês. Isso só comprova a velocidade em que a coisa anda. 48 INTERNET WORLD MAIO 1998 IW: Como compositor, qual a sua posi- cão em relação à questão dos direitos autorais na Internet? Gil: Hoje a rede é um espaço democrá- tico e temos que navegar conforme as regras do jogo, ou seja, por enquanto a pirataria é franqueada na Internet. Não quero me preocupar se alguém do Ja- pão faz uso da minha música porque também não quero que alguém de lá se preocupe que eu utilize algo que seja de sua autoria (risos). Hoje o acesso é aberto, o caráter da rede é esse e eu acredito que a Internet vai exigir uma flexibilidade nesse sentido. Acho bem provável que a Internet esteja inaugu- rando uma nova área de dominio pú- blico em nível internacional. E essa questão é interessante porque vai de- sencadear um outro processo, que são as trocas de valor na Internet. IW: Como assim? Gil: A Internet propicia uma concep- ção de moeda virtual, que pode ser chamada assim por permitir a troca, ou seja, o tempo todo você dá e rece- be sem que haja usurpação ou apro- priação indébita. E o que determina o valor na Internet é o volume de aces- sos, a quantidade de pessoas que estão navegando neste ou naquele sítio. Só para exemplificar: o fotógrafo Mário Luiz Thompson, que está cedendo seus trabalhos para a utilização no meu sítio, recebeu em troca um recan- to próprio. São várias as pessoas que vão conhecer o seu trabalho através do sítio do Gilberto Gil e que não acessariam o Mário Luiz por desco- nhecimento absoluto ou desinteresse em relação a área. IW: Você acha que a Internet comporta alguma medida de censura? Gil: A Internet em si, como insti- tucionalidade global, não tem mecanismos para adotar esse procedimento, que é, antes de tudo, contra sua própria nature- za. Como não se pode impedir, hoje em dia, que as intercone- xões sejam abertas, ou seja, que eu possa acessar multiplamente e que todos possam me acessar, cabe às pessoas que elaboram e disponibilizam cada sítio terem um mínimo de vigilância sobre aquilo que estão levando ao co- nhecimento dos outros. IW: O que muda daqui para a frente com a chegada da Internet? Gil: Definitivamente não dá para não participar, porque a Internet está incorporada ao sistema in- ternacional, seja sob o aspecto cultural, político, econômico ou cientí- fico. A grande questão daqui para a frente é a vigilância constante que de- ve ser feita nas duas pontas do sistema. Numa está o desenvolvimento e o aperfeiçoamento tecnológicos, as polí- ticas que serão traçadas nesse sentido; na outra ponta está a democratização do acesso, a horizontalização de todos os povos. No meio de campo dessa tecnologia todo mundo vai dar seu pontapé e vai chutar cada vez mais e mais. A atenção, portanto, deve ser desviada para quem está chutando nas duas pontas, porque são elas que vão determinar ou não o avanço.
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