Bahia-Minas,
estrada
Gil e Milton concluem um dos mais
esperados projetos do ano com
homenagens a Ary Barroso, Dorival
Caymmi, Luiz Gonzaga, Beatles e o
argentino Fito Paez.
Por Evanize Sydow
Trabalhando o sal/É amor o suor que me sai/Vou viver
cantando/O dia quente que faz/Homem ver criança/
Buscando conchinhas no mar/Trabalho o dia inteiro/pra
vida de gente levar.
Os versos de Canção do sal representam um encontro
histórico na música neste final de século. Eles são o
simbolo da união do carioca, de coração mineiro, Milton
Nascimento e do baiano Gilberto Gil, que estão nos brin-
dando com um presente: "Gil & Milton", disco com parceri-
as inéditas e músicas de Ary Barroso, Dorival Caymmi,
Beatles, Fito Paez e Jorge Ben.
A inclusão de Canção do sal tem história. "É uma
música de muita importância pois, além de ser a minha
primeira canção a ser gravada por alguém famoso e me
abrir as portas, quando fui à casa de Elis Regina, pela
primeira vez, Gil estava lá”, conta Milton. O encontro
aconteceu numa noite de 1966. Foi Gil quem escolheu
Canção do sal para Elis cantar. E também para estar no CD
"Gil & Milton". "Sou louco por essa música", diz o autor de
Bom dia, outra composição que faz parte do novo disco e
que foi escolha de Milton. Foi no Festival da Record,
cantada por Nana Caymmi, co-autora da música, que
Milton ouviu Bom dia pela primeira vez. "Ouvi uma vez e
nunca mais esqueci. Passaram-se mais de 30 anos. Quando
nos encontramos para pensar no que iriamos fazer com o
disco, o Gil já tinha Canção do sal e eu, Bom dia. Além de
lindas, marcaram nossas vidas e é importante que os jovens
as conheçam."
Ary Barroso e Dorival Caymmi foram escolhidos por
serem, um mineiro um baiano, mestres de Milton e Gil.
"São a nossa ancestralidade, aqueles de quem descendemos,
Minas e Bahia. Eles são os maiores de todos." De Ary
Barroso está no disco Maria, que tem letra de Luiz Peixoto.
Dorival Caymmi foi homenageado com Dora.
Novembro 2000
Os Beatles são idolos dos dois e estão em Gil & Milton
com Something. Fito Paez (Yo vengo a ofrecer mi corazón) é
a presença dos músicos latino-americanos. “Representa o
bordado das relações de Milton com a América Latina,
especialmente a Argentina. Foi uma sugestão do Milton e
virou escolha nossa", conta Gil. Jorge Ben vem com a
belissima Xica da Silva, que era de Diamantina, região de
Milton. E Luiz Gonzaga, o mestre da sanfona, é cantado em
Baião da Garoa.
A idéia de gravarem juntos surgiu há quatro anos.
Milton e Gil viajavam de Salvador para o Rio e foram
convidados a visitar a cabine do piloto. Ao ver um clarão,
Gil perguntou que cidade era aquela. "Belo Horizonte".
O disco é prova de admiração mútua. Gil não economi-
za palavras para falar da parceria: "É reverência, alegria de
crianças cujo brinquedo principal é a música. A voz de
Milton é de uma abrangência extraordinária, no sentido
acústico e espiritual. O violão dele é de originalidade
extraordinária. Milton é criador de novas harmonias, é o
primeiro pós-moderno brasileiro no sentido harmônico e da
eloqüência da voz dele."
Milton expressa sua admiração por Gil por meio da
poesia da música que produziu neste trabalho. E lembra um
trecho de Procissão - "Olha lá vai passando a procissão. Se
arrastando que nem cobra pelo chão" -, contando que o
Tamba Trio foi sua base.
Gil volta a falar do parceiro, e enfatiza que ouvir Milton
provoca nele um deslocamento para outro universo. Hoje,
ao ouvir obras como Travessia e Paula e Bebeto, a emoção
se renovou. "Fiquei assombrado como tudo ainda era
novidade para mim."
Mesma geração, mesmas influências, mesmo arsenal - a
voz e o violão. Gil & Milton, nas palavras de Zuenir
Ventura, "é uma fascinante viagem que, como o Barroco já
havia feito antes, liga não apenas Bahia e Minas, mas o
Brasil e a América Latina, o Brasil e o mundo".
É disco que se ouve com pele e pêlos arrepiados, como
registrou Fernando Brant na ocasião da gravação da
lendária “Missa dos Quilombos", de Milton, dom Pedro
Casaldáliga e Pedro Tierra.
"Música é o hino da liberdade"
São cinco as composições inéditas que Milton e Gil
fizeram para o novo disco. Sebastian, com música de Gil e
letra de Milton, é uma homenagem a São Sebastião,
padroeiro do Rio de Janeiro, e que já tem clipe pronto,
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