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CLIENTE: Gilberto Gil
VEÍCULO: O Estado de S. Paulo - SP
SEÇÃO: Caderno 2
DATA: 07/05/2009
Política Cultural Polêmica:
Teatro em pé de guerra contra Minc
Corte do direito autoral de dramaturgos em projetos de peças incentivadas causa revolta e manifestos irados dos autores
JF DIORIO/AE
Jotabê Medeiros
Uma microrrebelião teatral se
alastra pela internet. Desde o fi-
.nal de semana, dramaturgos e
artistas de teatro deflagram
uma corrente de e-mails, mani-
festos, mensagens de solidarie-
dade e adesões na rede. O moti-
vo é a decisão da Fundação Na-
cional de Arte (Funarte) de cor-
tar dos projetos de teatro apro-
vados pela Lei Rouanet a parte
relativa aos direitos autorais do
dramaturgo, do autor do texto.
O primeiro a se manifestar
foi o carioca Marcelo Pedreira,
do Rio de Janeiro, autor de Inevi-
tável História de Letícia Diniz.
Ele enviou seu projeto ao MinC
para receber o benefício em de-
zembro. Em fevereiro, o proje-
to foi aprovado com um corte-
o valor que destinaria parte da
captação para o autor da peça.
"Eu achava que era um caso
isolado, uma espécie de engano.
Mas logo depois eu estive como
Hamilton Vaz Pereira (diretor e
dramaturgo) e ele me disse que
ele também tinha tido o proble-
ma. Liguei para o Bosco Brasil
(autor) e ele me disse: 'Acabou
de acontecer comigo", conta
Pedreira. Com mais contatos,
descobriram-se diversos ou-
tros casos, e a revolta tomou
conta do povo do teatro.
O Ministério da Cultura in-
formou ontem que a orientação
de cortar o autor do projeto de
uma montagem surgiu infor-
malmente na Funarte - não há
um documento escrito disso -
na gestão anterior à de Sérgio
Mamberti (portanto, na gestão
de Celso Frateschi, afastado pe-
lo ministro Juca Ferreira).
"Realmente, houve uma orien-
tação, na gestão anterior da Fu-
narte, de cortar o valor de direi-
tos autorais de projetos", infor-
PÁG.: D13
SÉRGIO MAMBERTI, PRESIDENTE DA FUNARTE-Sim: critério vai ser revisto
Celso Frateschi, ex-presi-
dente da Funarte, reagiu com
indignação à acusação de teror-
denado o corte do direito dos
dramaturgos. "Eu sou um au-
tor, como iria fazer uma coisa
dessas?", disse. "Que coisa
mais nojenta. É revoltante.
Além de todas as burradas, co-
meçam a mentir desse jeito",
afirmou Frateschi. Ele desafiou
notonoun
cial do MinC, que acrescentou
queo ministério não estava cien-
te da orientação. "O problema
foi identificado agora, por meio
da imprensa, e será corrigido."
A Funarte funciona como
instituição de apoio
à Secreta-
ria de Fomento e Incentivo à
Cultura do Minc (Sefic), exami-
nando projetos em consonân-
cia com a Comissão Nacional de
Culun (CNI)
cumento que o responsabilize
pela orientação.
O atual presidente da Funar-
te, o ator Sérgio Mamberti, dis-
se que vai alterar a orientação.
Ele ainda não sabe dizer exata-
mente de onde surgiu a orienta-
ção, mas afirma que os parece
ristas que examinam os proje-
tos sepautam por normas geral-
mente estabelecidas por che-
fias. Mamberti também consi-
dera que, se os autores recorre-
rem, poderá retroagir os pro-
cessos e pagar o direito do au-
tor. "Se a gente paga o direito
autoral para os estrangeiros,co-
mo é que não pagaria para o au-
tor brasileiro?"
O dramaturgo Marcelo Pe-
dreira entrou com recurso esta
semana contra o corte no orça-
mento de sua peça. Segundo
ele, sua argumentação é basea-
da no fato de que, se essa orien-
tação se mantiver, o ministério
estará empurrando o autor pa-
raoamadorismo. "O MinC deve
ria
estimular e não colocar obs-
táculos para o autor de teatro.
Eles vêema gente como milioná-
rios. Mas, se a gente for sobrevi-
"SE O AUTOR FOR
SOBREVIVER SÓ DE
BILHETERIA, NÃO DÁ",
DIZEM DRAMATURGOS
ver unicamente de bilheteria,
não tem a menor condição."
A rebelião ganha dia após
dia maiores contornos. O dra-
maturgo Cassio Pires, autor de
Peça de Elevador, escreveu um
manifesto contundente dizen-
do que "o Ministério da Cultura
não
faz, nem nunca fez, política
cultural com os artistas brasilei-
ros, mas, sim, apesar deles."
artistas do teatro se deixa-
ram transformar em umali-
nha de orçamento", e é preci-
so mudar
essa postura. "Que
nós não falemos apenas em
nome dos interesses dos pro-
fissionais que somos. O nos-
so problema é maior que es-
se veto absurdo. Sevamos fa-
lar juntos, que falemos a to-
dos que temos urgência de
políticas democráticas, que
respeitem necessidades ar-
tísticas e finalidades públi-
cas", escreveu.
Samir Yazbek, que tam-
bém teve orçamento corta-
do, foi ponderado em sua re-
clamação. "Eu não chegaria
ao ponto de indiscriminada-
mente atacar a lei, realmente
não acho que seja o caso. Sin-
to necessidade de conhecer
melhor as propostas de alte-
ração na lei, por parte do mi-
nistério, para poder opinar."
"Talvez até estivéssemos
precisando dessa chacoalha-
da para nos posicionarmos e
procurarmos caminhos pa-
ra a produção e evolução da
dramaturgia nacional", dis-
se Lucio Mauro Filho. "O tea-
tro no Brasil ainda é um sub-
produto cultural", diz Dioni-
sio Neto. "Nem mesmo sei se
os redatores da lei sabem
que nem todos os autores es-
tão mortos, ou mesmo que
Nelson Rodrigues, Shakes-
peare, Plínio Marcos e tan
tos outros, além de serem ci-
dadãos, também tinham con-
tas a pagar."
Celso Frateschi disse que
sua gestão jamais estabele-
ceu nenhuma regra do tipo.
"Nunca mexemos em ne-
nhum critério. Apenas con-
tratamos mais pareceristas,
cerca de 40, e eliminamos o
vínculo promiscuo entre pro-
tonnnnlicto "
Presidente Lula
dá posse à
chefia do Ibram
O presidente Lula dará posse,
no próximo dia 11, às 17 horas,
no Palácio do Planalto, à direto-
ria do recém-criado Instituto
Brasileiro de Museus (Ibram)
O antropólogo José do Nasci-
mento Jr., atual diretor do De
partamento de Museus do
Iphan, será o presidente do
Ibram. Entre os convidados, est
táo nome do ex-ministro
Gilber
to Gil, que lutou pelo estabeleci.
mento do novo instituto. O de
creto que regulamenta o Ibram
sairá nos próximos dias.
A partir da criação do
Ibram, o Iphan passa a cuidar
apenas da preservação do pa-
trimôniocultural brasileiro, na-
tural, simbólico e arqueológi-
co. Já o Ibram será responsável
pela normatização e fiscaliza-
ção do patrimônio dos museus
brasileiros e aplicar o novo Es
tatuto dos Museus. O estatuto
rege funcionamento do setor
além de fiscalizar acervos de in
teresse público nacional (a ade
são ao sistema não é obrigatół
ria, mas quem não aderir terá
situação desfavorável na hora
de pedir verbas de leis
de incen-
tivo). Os museus brasileiros
têm 5 anos para se adequar ao
estatuto. Para a instalação do
Ibrame a criação de 425 cargos
efetivos, foram necessários R$
22,2 milhões a mais no Orça
mento de 2009 do Ministério
da Cultura. Cerca de 30 mu-
seus federais, com 400 funcio-
nários, serão inicialmente in
hornorndor nolo Ihrem
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