* marie Claire NO CANDOMBLÉ
candomblé salvou sua vida. "Aos 15
anos, caí de um trampolim e fiquei
mal. Conheci uma mulher que recebia
o espírito de um indio. Ela me disse
que, se eu saísse de Itabuna e fosse a
Salvador me operar, nunca mais anda-
ria. Meu problema era espiritual. Fiquei
um mês na casa dela, me tratando com
folhas até conseguir andar. Aí vim para
Salvador fazer fisioterapia e conheci
Mônica Millet, que me levou até Mãe
Menininha. Ela falou para eu fazer
meu santo, mas não liguei. Fui para
Itaparica e sofri um acidente. Ela me
disse que só não morri porque Oxóssi
me esperava. Hoje sou feliz. Se não
fosse o orixá, não teria essa energia."
ariene de Castro, can-
tora baiana, vencedo-
ra de dois prêmios de
música no ano pas
.sado (Tim e Rumos, do
Itaú Cultural, autora do CD "Abre Ca-
minbo"), também é filha do Gantois.
"Minha maior emoção foi quando ter-
minou a iniciação e eu estava careca
Ipara se iniciar, os filhos-de-santo ras-
M
No Gantois, há
mulheres de
todo o tipo: as
pobres, que
usam roupas de
rainha, e as
ricas, que tiram
o Rolex para
vestir chita
pam a cabeça). La me sinto em casa,
é muita entrega. Nem ligo para vaida-
de, que as unhas não estão feitas, que
existe batom, internet. Sinto como se
fosse uma missão e um privilégio.
Acho que todo mundo deveria fazer
santo, mesmo significando as respon-
sabilidades e o trabalho que dá."
Mas as maiores responsabilidades e
o maior trabalho quem tem é Mãe Car-
Um pas
mem. As vésperas da festa das orixás
femininas, ela preside uma reunião em
que mais de 50 pessoas se voluntariam
para comprar o que falta para o even-
to, de bujão de gás a detergente. Katia
Badaró, produtora executiva de Gal
Costa, assume vários itens da lista. Ela
é um dos esteios da casa, diretora de
religião da associação civil São Jorge
Ebé Oxóssi, braço administrativo da
instituição religiosa e protagonista de
uma história impressionante.
"Aos 24 anos, assisti a uma festa de
Oxóssi e fiquei emocionada. Contar o
que veio depois daria um livro. Mas co-
mecei a sonhar com um caçador. Leva-
va esses sonhos para a analista, e ela
não decifrava. E Oxóssi me cercando...
Em setembro de 1978, estava grávida e
perdi a criança. Desesperada, fui levada
até
Mãe Menininha. Ela me disse: Você
está pensando que santo é só para pre-
to? Sem isso, não poderá realizar nada,
nem ter seu filho. Em dezembro, entrei
para fazer o santo e tive meu filho dois
anos depois, no mesmo dia em que ha-
via perdido o primeiro. Como esse, te
(m passeio pelos sabores
e aromas da Itália.