CLIENTE: Gilberto Gil
VEÍCULO: O Estado de S. Paulo - SP
SEÇÃO:
Nacional
18/05/2008
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SERVICE DATA:
PÁG.: A18
MEMÓRIA
Zélia Gattai morre aos 91 anos
SI
Viúva de Jorge Amado estreou na literatura aos 63 anos, com “Anarquistas, Graças a Deus'; corpo será cremado
Antonio Gonçalves Filho
A estréia tardia da escritora
paulistana Zélia Gattai - morta
ontem à tarde, aos 91 anos, víti-
ma de falência múltipla de ór-
gãos, no Hospital da Bahia, em
Salvador - não impediu que sua
produção literária crescesse a
uma média de um livro a cada
dois anos desde 1979. Filha e ne-
ta de imigrantes italianos, a aca-
dêmica, memorialista, roman-
cista e fotógrafa estreou aos 68
anos, justamente com um livro
que conta a vida de seus ante-
passados, Anarquistas, Graças
a Deus (1979), relato da forma-
ção da Colônia Cecília, tentati-
va de criar uma comunidade
anarquista em pleno Brasil do
século 19. Seu maior éxito, o li-
vro foi adaptado para uma popu-
lar série de televisão ejávendeu
mais de 200 mil exemplares.
Nascida em São Paulo em 2
de julho de 1916, Zélia casou-se
aos 20 anos com o intelectual
Aldo Veiga, militante do Parti-
do Comunista, o que a tornou
próxima dos escritores da Se-
mana de 22, especialmente
Oswald e Mário de Andrade.
Em 1938, seu pai, Ernesto Gat-
tai, foi preso durante o Estado
Novo, atiçando a militância polf-
ticada futura escritora contrao
arbítrio getulista. Com Veiga a
escritora teve seu primeiro fi-
lho, Luis Carlos Veiga, em 1942.
Três anos depois, em 1945,
ela conheceu o segundo mari-
do, Jorge Amado, durante o 19
Congresso de Escritores. Os
dois trabalharam no movimen-
to pela anistia dos presos políti-
cos e decidiram morar juntos.
Um ano depois, quando Amado
foi eleito para a Câmara Fede-
ral, o casal mudou-se para o
Rio, onde nasceu o filho João
Jorge Amado, em 1947. Em
1948, o Partido Comunista foi
declarado ilegal, o escritor per-
deu seu mandato e o casal par-
tiu para o exilio. Jorge e Zélia
viveram na Europa por cinco
anos, dois deles em Praga, onde
nasceu a filha Paloma, em 1951.
Foi nessa época que ela come-
çou a se interessar por fotogra-
CASAMENTO-Dois dos livros da paulistana Zélia Gattai contam os 56 anos de convivência com Jorge Amado, que morreu em 2001
fia, atividade que renderia, no
futuro, a fotobiografia do mari-
do, Reportagem Incompleta, em
1987
Parte da produção memoria-
lista da escritora, que ocupava
a cadeira 23 da Academia Brasi- (1983)
leira da Letras-a mesma doma-
rido Jorge Amado, morto em
2001-, é dedicada ao período do
exílio europeu. Em Jardim de In-
verno (1988), Zélia reúne lem-
branças do continente europeu
ainda dividido entre Leste e Oes-
te. Antes dele, Senhora Dona do
Baile (1984) retrata esse mundo
separado pela cortina de ferroe
faz desfilar por suas páginas al-
gumas personalidades históri-
cas do século que passou.
Dois de seus livros contamos
56 anos de convivência com o
marido na Bahia, A Casa do Rio
Vermelho (1999) e Memorial do
Amor (2004). No primeiro, ela
relata fatos curiosos sobre osin-
Chão de Meninos (1992)
OS LIVROS PUBLICADOS
. Anarquistas, Graças a Deus
(1979)
. Crônica de Uma Namorada
Um Chapéu Para Viagem (1982) (1995)
Pássaros Noturnos do Abaeté
• A Casa do Rio Vermelho (1999)
Città di Roma (2000)
Jonas e a Sereia (2000)
• Códigos de Família (2001)
. Um Baiano Romantico e
Sensual (2002)
. Memorial do Amor (2004)
Senhora Dona do Baile (1984)
Reportagem Incompleta (1987)
Jardim de Inverno (1988)
. Pipistrelo das Mil Cores (1989)
• O Segredo da Rua 18 (1991)
ROGERIO ASSIS/AE
telectuais amigos que passa-
ram pela famosa casa do casal
de escritores no número 33 da
Rua Alagoinhas, em Salvador,
entre eles o poeta Pablo Neru-
da. Em Memorial do Amor, ela
conta a história da casa, desde a
compra do terreno (com os di-
reitos de Gabriela, Cravo e Cane-
la, de Amado) até a escolha dos
objetos de decoração adquiri-
dos em viagens dos dois.
REPERCUSSÃO
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente
"Zélia foi um símbolo da força, da
doçura e perseverança da mulher
brasileira. Características
presentes em toda a sua
literatura. Uma companheira de
todas as horas para Jorge
Amado"
Gilberto Gil
Ministro da Cultura
"Foi uma escritora de grande
sensibilidade e uma pessoa por
quem aprendi a ter todo o apreço
pelo seu amor por Jorge Amado e
pela Bahia e pelo significado de
seu trabalho para a mulher e a
literatura brasileira"
Lygia Fagundes Telles
Escritora
"Zélia e o Jorge eram para mim
como o mar de Salvador"
Moacyr Scliar
Escritor
"Ela era muito sensível.
arguta e fina observadora
da realidade. Uma mulher
inteligente, corajosa e autêntica"
morar a formação das famílias
Gattai e Amado. No primeiro,
Zélia relata a chegada de seus
avós italianos ao Brasil no sécu-
lo 19, a bordo do navio que dá
título ao livro. No segundo, ela
conta histórias divertidas e co-
moventes de suas duas famílias
e decodifica as mensagens dos
parentes. Zélia Gattai ainda es-
creveu livros infantis, como Pi-
pistrelo das Mil Cores (1989), O
Segredo da Rua 18 (1991) Jonas
e a Sereia (2000).
Um dos livros mais elogiados
Alberto da Costa e Silva
da escritora foi publicado em INTERNAÇÃO
1982. Chama-se Um Chapéu pa- Zélia passou por pelo menos
Escritor
ra Viagem. Nele, Zélia narra a quatro internações depois de so- "Escrevia muito bem, rigorosa no
queda da ditadura de Getúlio frer uma queda em casa, no ano seu coloquialismo"
Vargas, relembra a luta pela passado. Após cirurgia para de
anistia dos presos políticos e sobstruir o intestino, ela teve Affonso Romano de
conta como foi o processo de recomplicações pulmonares, re-
democratização do País. nais e arteriais. O velório será
realizado durante todo o dia de
hoje. O corpo será cremado.
• COLABOROU ALVARO FIGUEIREDO
Dois de seus livros, Città di
Roma (2000) e Códigos de Fami-
lia (2001), são dedicados a reme-
Sant'anna
Escritor
"A vida com Jorge a fecundou.
Os dois eram almas gêmeas"
Nélida Piñon
Escritora
"Registrou a história tão bonita
do Brasil a partir dos imigrantes
em São Paulo"
Luis Fernando Verissimo
Escritor
"É admirável ela ter sido grande
companheira do Jorge
e ter conseguido manter sua
própria identidade como
escritora"
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