nquanto acaricia os dreadlocks do marido, Flora Gil derra-
ma-se: "Pê, fazia tempo que você não usava o cabelo sol-
to assim, né?" (Pê é como a mulher chama carinhosamen-
te Gilberto Gil). Essas tranças, antes presas em um rabo-de-
cavalo, agora se espalham pelos ombros do cantor e com-
positor. Todo vestido de branco, com sandálias folgadas nos
pés, pernas cruzadas sobre um banco de madeira na ampla
e tranqüila varanda carioca da sua GeGe Produções, onde
recebeu TAM nas Nuvens, é Gil inteiro - e não só o cabelo -
que se mostra mais à vontade.
Aos 66 anos, livre das amarras do Ministério da Cultura,
onde permaneceu por cinco anos, o ex-ministro tem conse-
guido dar mais atenção à sua musa inspiradora, a música, e
cuidar melhor da voz, prejudicada pela falta de descanso e
pelos discursos políticos freqüentes, que resultaram em um
calo nas cordas vocals.
Sua agenda, porém, continua pesada: nos últimos seis me-
ses ele passou por 44 cidades em 13 países das Américas, Eu-
ropa e Ásia para apresentar Banda Larga Cordel, o 51º álbum
de sua carreira. Desde Quanta, lançado em 1997, Gil não reu-
nia tantas novas composições em um só trabalho.
Nesta entrevista ele fala sobre a vida na estrada, a ins-
piração e, claro, sobre a Bahia, terra natal que tem "capa-
cidade de enfeitiçar". "Não preciso morar lá. A Bahia está
sempre comigo."
Você costuma dizer que os nativos de câncer (signo de Gil]
levam a casa pra onde vão. Assim é mais fácil encarar tantas
viagens? É. Eu gosto de ter o mínimo de condições de reproduzir
o meu cantinho, sabe? Tenho uma exigência muito pequena. Mi-
nha mala é coisa simples, levo meu violão, meu computador, mi-
nha pasta com meus papéis, algumas coisinhas de alimentação,
como biscoitos, queijos, barras de cereal. Tento fazer com que os
lugares onde estou sejam uma continuação da minha casa.
Fora do Ministério da Cultura e com um álbum
novo, Banda Larga Cordel, Gilberto Gil abre
um sorriso para dizer que a música voltou
a mandar nele // No longer the minister for
Culture, Gilberto Gil just released a new album,
Banda Larga Cordel, and is happy to say that
once again music is his master
POR / BY ADRIANA CARVALHO
FOTOS / PHOTOS LUIZ GARRIDO, DO / FROM RIO DE JANEIRO
Flora Gil is caressing her husband's dreadlocks and turns
Forsweet and soft open you haven't worea your hair flowing
free like this for a long time, have you?" (Pê is a tender nick-
name Gil's wife likes to call him by). These dreadlocks, previous
ly caught in a ponytail, now hang freely down the shoulders of
the famous singer-composer. Dressed in white, with comfort
able sandals on his feet, legs crossed over a wooden bench on
the ample and tranquil terrace of his GêGê Produções, in Rio
de Janeiro - where he welcomed TAM nas Nuvens - Gil himself
seems to be totally free and at ease, just like his hair.
At the age of 66, no longer attached to the Ministry of
Culture where he held his post for five years, the ex-min-
ister can now manage to be more attentive to his inspiring
muse, the music, and also to take better care of his voice,
damaged by lack of rest and frequent public speeches that
resulted in a callus on his vocal chords.
However, his agenda is still very busy during the last six months
he visited 44 cities in 13 countries in America, Europe and Asia to
present Banda Larga Cordel, the latest of the 51 albums of his en
tire career. Ever since Quanta, released in 1997, Gil has not col-
lected so many new compositions in one single recording.
In this interview he talks about life on the road, inspira-
tion and, of course, about Bahia, his birthplace with the "ca-
pacity to bewitch". "I don't need to live there. Bahia is with
in me at all times."
You are fond of saying that the natives of Cancer (Gil's star
sign) take their home along wherever they go. Is it easier to
face so many trips this way? It is. I like to have at least a few
minor conditions to reproduce my own nest, you see? I'm not
very demanding: my baggage is simple, I take my guitar, my
laptop, my briefcase with my papers, some things to eat like
crackers, cheese, cereal bars. I try to make the places away
from home a continuation of my house.
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