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DVD duplo resgata idéias
e teorias de Darcy Ribeiro
CLIENTE: GILBERTO GIL
VEÍCULO: A NOTÍCIA - JOINVILLE
SEÇÃO:
DVD
DATA:
07.01.2006
São Paulo - Há dez anos, o
antropólogo mineiro
Darcy Ribeiro
(1913-1997), criador do Parque
Indígena do Xingu e da Universi-
dade de Brasília, lançou "O Povoca
Brasileiro, livro que conclui a
coleção de seus "Estudos Antropo-
logia da Civilização". Nesse mesmo
ano, ao dar os originais para uma
de suas assistentes, Isa Grinspum
Ferraz, esta sugeriu fazer uma série
para a televisão. O depoimento de
Ribeiro viria a ser a base dos dez
documentários integrantes da
série homônima, agora lançada
pela Versátil Home Video em asso-
ciação com a Superfilmes e Funda-
ção Darcy Ribeiro. Apresentada em
DVD duplo, com mais de quatro
horas de duração e muitos extras,
com legendas em três línguas
(inglés, francês e espanhol), a série
já está à venda nas lojas com preço
sugerido de R$ 59,00
Além da entrevista com Darcy
Ribeiro, a série traz depoimentos
de respeitados intelectuais como
Antonio Candido, Antonio Risério,
Ariano Suassuna, Azis Ab Saber e
Paul Vanzolini, entre outros. Parti-
cipam também os músicos Chico
Buarque (que lê trechos de "O Povo
Brasileiro"), Gilberto Gil, Luiz
Melodia e Tom Zé.
Apresentada há cinco anos
pela TV Cultura e GNT, "O Povo Bra-
sileiro" provocou impacto não só
por sua realização como pelas idéias
polêmicas defendidas pelo antropó-
logo, educador, romancista e políti-
co, entre as quais a contestação das
teorias marxistas sobre a Península
Ibérica. Marx, segundo Darcy, nun-
entendeu como Portugal e Espa-
nha foram capazes de se expandir e
criar um mundo só, transformando-
o num único mercado
Marx entra de contrabando na
série. O principal conceito defendi-
do pelo antropólogo diz respeito ao
advento de um "povo novo", que
surge como gênero humano com a
fundação do Brasil. Aqui, desindia-
nizaram o índios, desafricanizaram
o negro e deseuropeizaram o euro-
peu. Resultado, segundo o antropó-
logo: o povo "novo" que surgiu não
se apegou ao passado nem
repro-
duziu nenhuma civilização. Conse-
Iho final de Darcy: como não somos
nada e somos tudo, ao mesmo tem-
po, temos todas as chances de criar
o futuro."Nós temos que inventar o Depoimentos gravados pelo antropólogo mineiro são a base dos documentários da série, exibida há cinco anos pela TV Cultura e pelo GNT
Brasil que nós queremos."
to prestanda na selo como Série e livro desfazem o mito da sociedade colonial "atrasada"
meiro
no da utopia. Já existia muito antes
da chegada dos portugueses, mas
precisava ser reinventado. Nesse
primeiro programa, "Matriz Tupi",
são exibidas
cenas filmadas pelo
próprio Darcy e Franz Forthman
entre os índios urubu-kaapor, em
1950, imagens históricas que prepa-
ram o espectador para outros sur-
preendentes registros captados por
isa Grinspum Ferraz junto a acer-
vos brasileiros e europeus.
Tanto o livro como a série nele
baseada levantam questões que des
fazem certos mitos consagrados pela
história, como o de que a sociedade
colonial brasileira era "atrasada".
Balela, defende o antropólogo. Na
série, Darcy lembra que produzimos,
no período muito mais riqueza de
exportação que a América do Norte,
além de termos edificado "cidades
majestosas como Ouro Preto, que
eles jamais conheceram". Se houve
atraso, defende, a culpa cabe a uma
'elite retrógrada", acrescenta, antes
de fazer um discurso irado sobre o
genocídio de índios e negros.
A série tem outro mérito, além
dos já citados. A premiada realizado
ra, que prepara um especial sobre o
fotógrafo Sebastião Salgado, assume
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que "traiu" o antropólogo ao convi-
dar os portugueses Agostinho da Sil-
va e Judith Cortesão para falar sobre
as teorias antropológicas do brasilei-
ro, que, vaidoso, não gostava da
idéia do confronto. "Eles tinham
outro ponto de vista e, como queria
muito ter seus depoimentos, assumi
essa traição", diz Isa.
"O Povo Brasileiro" chega num
momento em que o mundo globali-
zado luta para definir o que seja
identidade - O que explica, de certo
modo, os conflitos na Europa e,
mais recentemente, na Austrália,
com os migrantes. É, enfim, uma
boa hora para se pensar sobre as
vantagens da mestiçagem, tendo
como guia Darcy Ribeiro. (Antonio
Gonçalves Filho/AE)