Clipping Service
CLIENTE: GILBERTO GIL
VEÍCULO: O ESTADO
SEÇÃO: CADERNO 2
DATA: 22.01.2007
Música Shows:
"Não me prendo em preto-e-branco'
ra ele, que quer ir ainda até Fer-
nando de Noronha.
A turnê segue para o Rio, na
quinta, e se encerra em Salvador,
nosábado. Osshows terão abertu-
ra de Donavon Frankenreiter
(leia abaixo), um de seus discípu-
los musicais, ao ladode Jack John-
son, Matt Costa e outros. Em en-
trevista exclusiva ao Estado, an-
tes de iniciar a viagem, Harperfa-
lou sobre sua relação com o Bra-
sil, de política, surfe, de espirituali-
dade de seu processo de criação.
DE S.PAULO-SP
Em conversa exclusiva com o Estado, Ben Harper, que toca hoje e amanhã na Via Funchal, fala de negritude, surfe e política
VINCENT WEST/REUTERS
Vocêtemos braços ecostas inteiros
tatuados. O que significam esses de-
senhos para você?
Essas tatuagens maoris são
as minhas linhas da vida. Con
Felipe Lavignatti
Muitos artistas internacionais
vêm ao Brasil para shows. Al
gunsvêm para se divertir somen-
te.Ben Harper, que toca hoje em
São Paulo, no Via Funchal, apro
veita a ocasião para fazer os dois.
Em turnê pelo Brasil, que come-
çou na quinta em Porto Alegre, o
cantor e compositor vai usar o
tempo livre para conhecer as
praias do País. Eoturismo não se
limita apenas à costa
brasileira.
Mesmo sendo um apaixonado
pelo surfe, ele reservou espaçofo-
ra do litoral em sua passagem penhum político. Você tem de pro-
Você acha que Barack Hussein
Obama, Jr., único senador com as-
cendencia africanana
atual legisla-
tura dos EUA, pode vir a ser uma
boa opção para as próximas elei-
ções presidenciais?
Não quero associar meu nome a
nenhum político. Prefiro não opl-
nar sobre futuros nomes. Você
tem de tomar cuidado com quem
se associa. Não acredito em ne-
la América do Sul. Harper troca-
rá a prancha por uma motocicle
ta, com a qual pretende cruzar o
sul do Brasile chegar até a Argen-
tina, onde planeja encontrarami-
gos. Nesse percurso, um pontotu-
rístico está garantido, as Catara-
var para mim.com suaspalavras
e suas ações, que se importa.
Eles destruíram minha cultura e
meu meio ambiente. Onde esta
vam os políticos quando eram
realmente necessários em New
Orleans? Desculpas nunca aju-
Jotabe Medeiros
Donavon Frankenreiter é a ver-
são mais bem-acabada deumneo
hippie. E não é só por causa do bi-
godão ao estilo Kris Kirstofferson
ou deum roadie Hell's Angels que
ele cultiva, nem pelas batinhas
de pano florido transparentes
justinhas, ou pelo chapéu amar-
fanhado. Há outros indícios.
Por exemplo: ele batizou o fi-
lho de Hendrix. Tem algo mais
ripongo? "É um dos grandes
músicos da história", justificou
tam a história de minha vida
e o que é importante para
mim. De onde eu vim e para
onde estou indo.
nenhum. Para mim, políticos,
grandes corporações e entida-
des têm responsabilidade pelo
que acontece. Mas não toda a res-
ponsabilidade, pois o povo tem
de querer mudar também. Ou é
revolução. Não há meio-termo.
Equal sua opinido sobre o presiden-
te George W. Bush?
Quem é ele? Ele me envergonha.
Os EUA merecem algo melhor.
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Você vai encerrar a turné em Salva-
dor, cidade que você fez questão de
incluir em sua passagem pelo Bra
sil. O fato de ter uma grande popula-
ção negra influenciou na escolha?
Escolhi tocar lá porque não é um
lugar em que as pessoas costu-
Donavon, de 34 anos, falando ao
Estado por telefone, na sema-
na passada. Dar ao filho o nome
de Hendrixé sua forma de fazer
um tributo à maestria do gran-
de guitarrista de Seattle.
Surfista contumaz, ex-profis-
sional das ondas, Frankenreiter
conta que já veio ao Brasil cinco
vezes, boa parte delas apenas pa-
ra pegar uns tubos, o que deve
fazer novamente ao lado do cole-
ga(e mestre) Ben Harper. Para
tocar, esteve na Bahia, há al-
guns anos, num daqueles balned-
PÉ NA ESTRADA-Músico se divide entre a guitarra, a prancha e a moto em sua turnê pelo Pals, até sábado
mam ir. Talvez as pessoas na Sepultura, Mutantes, etc., etc.
América do Sul costumemircom
mais frequência. Minha cor era
marrom, agora, com as tatua-
gens, virou uma grande mistura.
Não me prendo em preto-e-bran-
co. Para mim, essa é a maior fra-
queza humana. Fazer julgamen-
tos pela cor de uma pessoa. Claro
que há importância
em ser preto,
branco ou marrom. Mas ondeis-
so acaba? Qual o beneffclo? Ouvi
dizer que Salvador é um das
maiores cidades negras do mun
do. É fantástico. Mas quero
tocar
para todos em todo lugar. Tenho
muito o que aprender sobre a mú-
sica de Salvador. Eu me envergo-
nho de conhecer apenas o óbvio
de música brasileira Gilberto Gil,
Donavon faz luau para animar platéia na abertura
Músico diz que maconha é parte da cultura dos surfistas, mas também dos advogados, dos golfistas...
DIVULGAÇÃO
The Blind
Boys of Alabama?
Como foi gravar com o grupo gospel
Foi incrível. Uma mudança de vi-
da. Uma afirmação de vida. Para
mim, há o gospeleo religioso. Sto
duas coisas totalmente diferen-
tes. Gospel music me faz acreditar
no esplrito que me motivaemeins
pira para estar vivo. Religião é bem
diferente. Sempre gostel de gospel
music. É realmente dal que o rock
androllvem. Seique ter a oportuni-
dade de fazer gospel music com os
Blind Boys, quetēmumafortetradi-
çãonessetipodemusica,meafetou
Como é sua relação com a religião?
É fácil acreditar em Deus quan-
rios fake, de cenário de filme.
"Para mim, é uma honra eum
prazer tocar com Ben (Harper).
Eum sonho que se torna realida-
de", disse Donavon, rasgando se
Ambos adoram aquela fusão de
da para seu maior inspirador.
folk com coisas remotas de Cur-
tis Mayfield e Stevie Wonder.
Frankenreiter não demonstra
chateação com o fato de ser as
vezes considerado uma espécie
de genérico de Jack Johnson, e
até arrisca uma diferenciação.
"Toco mais guitarra elétrica
do se está bem e difícil quando
se está em dificuldade. Não gos-
to quando vejo atletas agrade.
cendo a Deus por um resultado
"Obrigado Deus porter me per-
mitido vencer. Isso significa
que Deus condenou os que per
deram? Acho que Deus não tem
muito a fazer para interferir em
eventos esportivos. Mas não
sei. Realmente acho que há um
lugar para o espírito humano. A
maneira como as pessoas mani
pulam Deus não é sadia. Deus é
mais uma maneira de viver do
que uma maneira de falar. Quer
saber? Acho que sou Jedi.
Como é seu processo de criação?
Para mim, música é um processo
VARIAÇÕES -Folk, soul, gospel...
do que esses caras. Eles tam-
bém têm sua marca. Acho que
não é possível comparar, o ou-
vinte que faça seu julgamento",
afirmou. Ele conta que come-
çou a cantar quando tinha ape-
nas 16 anos. Misturando um ti-
po de abordagem do soul que se
ouvia no tempo da black music
da Stax (como em These Arms),
ou fazendo canções com umas
tintas gospel (Let it Go),
Frankenreiter tornou-se muito
conhecido no ano passadojusta-
mente com uma música, Free,
natural. Nunca sentei e falei:
"Vou escrever uma música hoje."
Não é assim que eu componho.
Faço quando o processo natural
me leva a pôr as idéias no papel
Vocêencontratempo para surfardu-
rante a agenda de shows e estúdio?
Essa é a pior parte. Minha vida
está tão ocupada com as crian-
ças. Tenho 4 filhos. Mas descul-
pas não vão me fazer melhorar
no surfe. Antes de vir para cá,
treinei por três dias para me pre-
parar. Em um desses dias, as on
das estavam tão enormes que fui
jogado como uma boneca de tra-
po. Botipo de coisa que você tem
de fazer todo dia para ficar real-
mente bom. Não estou prepara-
do para grandeondas, mas estou
preparado para surfar no Brasil.
Para qualquer lugar que eu te-
Como é a sua relação com o Brasil?
nha ido, Alemanha, Turquia, No-
va Zelandia ou Londres, encon-
tro muita gente do Brasil repre-
sentando o País de uma forma
grande. E incrível notar as pes-
soas com bandeiras, mostrando
orgulho brasileiro. Tenho de
agradecer ao Brasil por ajudar a
divulgara musica por meio do bo-
ca-a-boca. Ea maneira que a mu-
sica viaja pelo mundo. Pode não
ser a melhor publicidade, mas
acho que é a que mais dura..
Serviço
.Ben Harper, abertura com Do-
navon Frankenrelter. Via Fun-
chal. R. Funchal, 65, Vila Olim-
pia, 3089-6999. Hoje e amanhã
às 22 h. De R$ 150 a R$ 300
em dobradinha como amigo Ja-
ck Johnson. Tem dois discos: 0
primeiro de 2004, leva seu no-
me, e o segundo, Move by Your-
self, é do ano passado.
"Maconha é parte da cultura
do surfe. Mas também faz parte,
hoje em dia, da cultura dos golfis-
tas, dos jornalistas, dos advoga-
dos, dos médicos. Naofagoumju
gamento sobre a predileção des-
sa ou daquela classe, se gostam
mais de álcool
, o que for. Édiverti-
do fumar". Sente-se parte da cul-
turado surfe, mas não necessaria-
mente de todo seu arcabouçoesti-
listico. "Um monte degentefolin-
fluenciada pelos Beach Boys, o
que é incrível. Eles conseguiram
nasse parte da cultura de praia
Mas eu faço todas as minhas can-
ções com o violão acústico. Mi-
nhas referências são outras.".