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CLIENTE: Gilberto Gil
VEÍCULO: Correio do Povo - Porto Alegre
SEÇÃO: Cultura
DATA:
25/12/2009
CULTURA
PERSPECTIVAS 2010
PÁG.: 06
"Acho que atualmente falto espaço para divulgação de musica nos grandes veículos de comunicação do pais, que são as
redes de televisão abertas e as redes nacionais de radio. No meu entendimento, não há quase espaço para a musica nelose
no caso dos radios, a questão negócio impede que se paute uma programação mais representativa do que acontece pelo pais
frente aos interesses maiores de faturamento, puro e simplesmente. Acredito que não estou sendo ingenuo em acreditar que
programar rádio é uma questão de utopia, mas existe um limite para o interesse económico quando você tem a posse de
uma concessão do governo que deveria exigir um minimo de contrapartida cultural dessas empresas." (Roberto Frejat)
Artistas querem ganhar por músicas na Web
ROGER MARZOCHI AE
ma de anuncios para eles, provedo-
DO SEXO participaçko de internautas, por
res.
exemplo. Na música, qual a pers-
pectiva que a Web abre para essa
produção colaborativa?
A tecnologia hoje permite que se
façam discos até sem artista (risos).
também viabiliza encontros fisica-
mente impossiveis e uma relação d
comunicação do artista com seu pú-
blico de uma maneira nunca vista
antes. Mas essa questão do público
virar artista, pra mim, em principio,
me parece uma deformação dessa
relação.
om o crescimento da distribuição de música por meio da Você também enfrenta algum
Web sites como o Google e o YouTube deveriam remune nivel de restrição na divulgação
rar os artistas que tem seu trabalho divulgado por esses do seu trabalho na Web? Digo is-
meios. A afirmação e do músico e compositor Roberto Frejat so porque, por exemplo, ao visi-
em entrevista por e-mail à Agencia Estado, "Sites como Youtu- tar o seu site, entrel por melo de-
be, Google e outros deste tipo tem de remunerar os autores e le no MySpace. E lá, na divulga
artistas pelo acesso ao conteúdo criado por eles, artistas, e ção do seu último disco "Intimi
que proporciona lucros enormes em forma de anúncios para dade Entre Estranhos", no vídeo
",
eles, provedores."
da música "Dois Lados" aparece
a mensagem: "Este vídeo não es-
tá mais disponível devido à rel-
vindicação de direitos autorais
WMG". Este tipo de restrição pre-
judica de alguma forma a divulga-
ção do disco?
Esse caso é um pouco mais es
tapafürdio do que você poderia ima-
ginar. Este video for produzido por
mim e cedido a Warner para promo
ver o meu disco que é licenciado pa-
ra eles, que, por uma questão de
politica internacional da compa-
nhia, proibe a exibição no Youtu.
be, mesmo que eu queira. É uma si-
Frejat, que já de tuação surreal que, certamente,
clarara sua guerra prejudica a divulgação do trabalho
em 1986, quando olha que já tratamos deste tema
lançou 'Declare em inúmeras reuniões com eles,
"
Guerra', o primeiro mas não saimos do lugar,
disco do Barão Ver- Há possibilidade de, no futu-
melho sem a partici-
pação de Cazuza. Web que possa levar em consideração tanto as preocupa
ro, haver uma convergencia das grandes gravadores para a
que havia deixado a cões do músico com o retorno financeiro do seu trabalho e
banda para sua car- ampliar sua divulgação quanto os interesses financeiros da
reira solo, agoratra indústria? Existe, portanto, uma tendencia ao equilibrio
va nova batalha pa dessa disputa?
ra conseguir tornar Não acredito muito nisso. Acho que eles estarão mais pre-
mais justo a relação sentes na Web, mas estão muito atrasados.
entre artistas, grava
doras e sites na
Web. Abaixo, a en-
Frejar prega acordo entre gravadoras e Sites trevista com o musi-
co, que também fez
críticas ao vale-cultura e à meia-entrada.
Reportagem - Em sua opinião, qual é o principal desa-
fio que os músicos devem enfrentar em 2010?
A falta de um acordo entre gravadoras e sites sobre as ques-
tões relativas ao direito autoral, aliás, já prejudicou a divulga-
ção do trabalho do músico. Um video da música "Dois lados.
do último disco de Frejat, "Intimidade Entre Estranhos", foi im-
pedido pela Warner, gravadora do artista, de ser divulgado
num episódio considerado por ele como "estapafürdio'. Este
video for produzido por mim e cedido à Warner para promover
o meu disco que é licenciado para eles, que por uma questão
de politica internacional da companhia, proibe a exibição no
MIROSLA / NE / YouTube, mesmo
que eu queira. E
uma situação sur
real que, certamen
te, prejudica a divul
gação do trabalho
O Congresso também discute o
projeto apresentado pelo governo
que institui o "vale-cultura", que
subsidia o consumo de bens cultu-
rais de trabalhadores que ganham
até cinco salários mínimos e apo-
sentados. Essa iniciativa pode aju-
dar no aumento do público em
shows, por exemplo? Ou é uma
medida paliativa?
Pode ajudar, mas é um paliativo,
melhor seria ele assumir a contra
partida de nos remunerar aquela
metade da bilheteria que a meia-en-
trada impõe aos artistas.
O artista tem conseguido remu-
nerar seu trabalho com shows?
Há uma sensação difundida entre
crise, piorou. Muitos shows estavam sendo produzidos
a classe que, se a coisa não era tão boa no
pelo poder público, a iniciativa privada se recolheu, e as
bandas tiveram que se adaptarem, reduzindo número de
músicos em apresentações. Há uma perspectiva de melho-
ria no próximo ano?
Muitos que baixam música sem pagar por meio da Inter-
net argumentam que fazem isso por causa do custo do CD.
Você acha que seria necessário a redução da cargn tributá-
ria incidente na produção de CDs para reduzir o preço e
quebrar a cópia pirata e o compartilhamento de música
sem qualquer remuneração ao artista? Há até no Congres-
so as discussões sobre a Proposta de Emenda Constitucio-
nal sobre o tema, chamada de PEC da música, que reduzi-
ria em até 40% o preço de CDs e DVDs, segundo seus defen-
sores. Isso resolve?
A unica perspectiva à vista é se a iniciativa privada reforçar
o seu apoio, porque além deste quadro que você mesmo pin-
tou na pergunta, temos hoje a meia-entrada como uma gran-
de vila para a sobrevivência dos artistas, especialmente da mu-
sica, teatro e cinema. Não sou contra o utilização da meia-en-
trada, muito pelo contrário. Mas a considero uma iniciativa do
Estado de incentivar o consumo de cultura e por isso mesmo,
é ele quem deve arcar com esse custo e não os artistas, como
acontece agora.
Você fez várias parcerias, passando pelo rock, o man-
gue beat, o rap, a jovem guarda. Com essa visão, gostaria
de saber sua avaliação sobre o porque o jazz, o chorinho, o
samba e o rock nacional parecem ter perdido terreno para
outros estilos e formas. Falta divulgação desses estilos? O
rock nacional "errou", parafrascando o Lobão?
Frejat - Temos vários. Um dos mais importantes e como
sobreviver economicamente quando algumas das nossas fon-
tes de renda estão sendo diluidas ou desintegradas, como as
discussões sobre direito autoral, desoneração fiscal sobre a
fiscal sobre a
venda de música, a questão da meia-entrada, entre outros.
A principio, parece-me que a questão do direito autoral na
Web é um dos grandes desafios da
porque o consumo de música de forma digital val se intensifi-
car cada vez mais e, até agora, muito pouco foi feito para regu-
lamentá-lo. Algumas pessoas vilo dizer que não se deve regu-
lar a Internet, mas não se pode confundir facilidade de acesso
à Informação com propriedade sobre ela ou seu uso desautori-
zado pelo autor.
A PEC ajuda, pois equipara a música à literatura que tem
essa Isenção, assim como os jornais, como representante da
cultura brasileira e também aquece a cadeia produtiva que es-
tá muito abalada pela pirataria, mas para area stadionilo da
de policia e a a repressão é uma obrigação do Estado, não dá
pra roubada.
Acho que falta espaço para divulgação de música hoje nos
grandes veículos de comunicação que são as redes de televi-
são abertas e as redes nacionais de radio. Não há quase espa
Ao mesmo tempo em que coloca em xeque os negócios co para a música nelas e, no caso das rádios, a questão "nego-
Ir com mercadoria a ea
da indústria fonográfica, a Web abre novas possibilidades cio impede que se paute uma programação mais representati-
de produção musical, facilitando a chamada produção cola- va do que acontece pelo pais frente aos interesses maiores de
borativa. Na literatura, já foram produzidos livros com a faturamento. Não estou sendo ingenuo em acreditar que pro-
MIRIS BROE/EVRON 70 gramar rádio é uma questão de utopla, mas exis
te um limite para o interesse económico quando
você tem a posse de uma concessão do governo
que deveria exigir um mínimo de contrapartida
cultural dessas empresas.
A sensação é que a poesia e a transgressão
da música caíram no lugar comum do escra-
cho, com óbvias exceções, é claro?
De um lado, gravadoras questionam o do
wnload de música, afirmando que baixar mu-
sica sem pagar seria como entrar numa loja
e roubar um disco; de outro, há até um movi-
mento chamado de MPB, Movimento Música
Para Baixar, que defende a livre circulação
da música pela Web, que reúne músicos e ati-
vistas em defesa do software livre. Para eles,
leis como a que está sendo discutida no Sena-
do, que prevê até prisão para quem baixar
música sem pagar, seria uma ditadura, por
que, para eles, baixar música é uma forma de
fundir o trabalho dos músicos, o que não
inibe a compra de disco. Qual sua opinião so-
bre esse tema?
Eu acho que hojequando você tem uma si-
tuação mais transgressora no ámbito cultura, fi-
ca-se enredado em duas situações bem claras:
ou ela fica muito segmentada ou é rapidamente
cooptada pelo escracho e ai perde seu real senti-
do. Infelizmente, a sensibilidade hoje não é pre-
mlada no nosso dia a dia e sim um sucesso
pessoal conseguido a um custo que muitas ve
zes me parece uma exposição constrangedora e
mediocre, mas val se fazer o qué? São os tem-
pos. A vantagem é que também temos hoje mui-
to acesso as boas informações e, às vezes, nos
surpreendemos com o bom resultado de traba-
Thos interessantes que nem imaginavamos que
alcançariam tanta gente.
Não acho que quem baixa deva ser preso. Al-
guns artistas novos e consagrados conseguem
divulgar seus trabalhos desta forma. Mas acho
que os sites como YouTube, Google e outros
deste tipo tem de remunerar os autores e artis-
tas pelo acesso ao conteudo criado por eles, ar
tistas, e que proporciona lucros enormes em for- o consagrado Gilberto G, cantor e compositor, arrebata multidões em seus shows pelo Brasil
Skank é uma das bandas mais ouvidas no pats
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