CLIPPING
SERVICE
CLIENTE: Gilberto Gil
VEÍCULO: Jornal do Comércio - Porto Alegre
SEÇÃO: Panorama
DATA: 23/07/2007
MÚSICA ERUDITA
Espaço
preservado pela
fidelidade
D
écimo mercado
consumidor de música
no mundo, em 2005
o Brasil movimentou, por
meio de sua indústria
fonográfica, R$ 650 milhões,
com exportações cujo valor
chegou a R$ 70 milhões. E,
em 2006, só a arrecadação
com direitos autorais chegou
a R$ 275 milhões. Segundo o
ministro da Cultura, Gilberto
Gil, o Brasil tem outro motivo
para comemorar: um mercado
interno "fortissimo", no qual
a música produzida no País
representa 80% do consumo:
"Em outros países latino-
americanos, o percentual
de música própria no total
consumido não passa de 5%",
diz, acrescentando que as
gravadoras brasileiras têm
hoje 40% do mercado.
Mas Gil fala especificamente
da Música Popular Brasileira.
E quanto à música erudita?
Qual é a situação dela no País?
O que se observa é que ela está
praticamente restrita às salas
de concertos e à reprodução
das composições de mestres
como Bach, Verdi, Beethoven
e Mozart. E não vai morrer.
Margarida Prates, há 10 anos
dona da Sala dos Clássicos
Eruditos, na Galeria Chaves,
afirma que a música erudita
tem um público limitado,
mas fiel. Ele volta sempre.
Geralmente são músicos,
maestros e pessoas que têm
boas condições financeiras. "A
minha clientela é formada por
pessoas d
as de 8 a 80 anos de idade",
conta. E acrescenta que 50% dos
clientes são médicos e outros
profissionais liberais. Uma das
mais especializadas em Porto
Alegre e no Brasil quando se
trata desse gênero musical, a
loja" vende para todo Interior
do Estado e todo o País também,
através de Sedex".
Margarida não vê a internet
como ameaça. Pelo menos na
loja dela, a música erudita
preservou a demanda que
tinha antes das facilidades
que essa mídia oferece. Aliás,
ao contrário do que possa
parecer, os frequentadores
mais assíduos são os jovens
que têm em torno de 20 anos.
PÁG.: 01
Prates ama sua rotina entre os discos que reproduzem as obras de mestres como Bach e Verdi
Por isso, a dona da Sala dos
Clássicos Eruditos admite que
o acesso generalizado à música
na internet fez com que muitas
pessoas abandonassem as
lojas de CDs, mas observa: "Os
estudantes que precisam escutar
alguma obra para realizar
uma prova, ou o músico que se
apresenta com uma orquestra
vão primeiro à internet e, se lá
não encontram o que procuram,
vêm procurar aqui". Mas poderia
ser melhor: "O erudito é apenas
uma terça parte do popular,
porque tem poucas opções" e até
nas emissoras de rádio, como a
da Ufrgs, ele é mesclado com o
popular. No caso, o jazz. O que
A soprano russa Anna Netrebko, como Manon, de Jules Massenet, em montagem apresentada em Berlim
até serve como consolo, porque,
"pelo menos, o jazz é uma
continuação da música clássica".
Segundo Margarida, os
compositores mais procurados
são Mozart, Beethoven
e Bach. Quando se trata
especificamente de
ópera, a
liderança é de Giuseppe Verdi,
Giacomo Puccini, Vincenzo
Bellini e Gioacchino Rossini,
grande admirador de Mozart.
Mas há demanda também
para as obras de compositores
recentes. O austríaco
Schoenberg é um deles. Outro
é o francês Pierre Boulez,
em cuja obra a literatura
desempenhou um papel
extremamente importante. Na
categoria dos intérpretes, duas
sopranos estão entre as que o
público mais busca. Uma delas
é Maria Bayo, espanhola de
repertório muito amplo. Ela
canta ritmos de Portugal e da
Espanha, como a zarzuela,
mas também se apresenta nas
grandes salas de espetáculos
do mundo, encarnando
personagens de operetas. A
outra é a russa Anna Netrebko.
Entre os instrumentistas,
Margarida também cita dois.
Yo-Yo Ma, um virtuose no
violoncelo, lidera. De origem
chinesa, ele nasceu na França.
Sua mãe, Marina Lu, era
cantora, e seu pai, Hiao-Tsiun
Ma, era maestro e compositor.
Outro é o pianista brasileiro
Antonio Meneses.
Novidades? Margarida
Prates responde que compra
do mundo inteiro, mas que
não há como fazer uma
média de lançamentos por
ano. "São muitos os selos,
em vários países europeus:
França, Inglaterra, Alemanha,
Holanda, Canadá. Não dá pra
dizer. É uma continuidade,
surgem músicos todo ano".
Mas os selos variam. E são
de dois tipos. Um deles é
o independente, entre os
quais se destaca a Naxos.
Margarida explica que
este selo tem dificuldade
na busca por músicos que
estão no auge da fama e que,
por isso, seus produtos têm
preço mais acessível e são
mais diversificados do que a
oferta da Sony, BMG, Erato,
Teldec, Warner Classic e
Lakatos, internacionalmente
reconhecidos. Também por isso,
segundo ela, é muito difícil
conhecer todos os músicos que
surgem. "E muitos deles são
bons". Para que os amantes
desse gênero musical saibam
o que vem por aí, ela sugere
as revistas Gramophone,
Diapason, Classic CD, Opera,
Sommaire e Music como fonte
de informação.
Mas Margarida Prates
acredita que a música erudita
merece um público maior.
E, segundo ela, alguns pais
contribuem muito para isso
porque colocam os filhos, de 5
ou 6 anos, em aulas de piano e
violino. Depois a criança pode
optar por outro instrumento.
O importante é que seja
estimulada a continuar,
porque a
música clássica
ajuda também nos estudos.
"A Sonata K 488 para dois
pianos, de Mozart, se ouvida
continuamente, aguça as
percepções, a memória, além
de ser relaxante e aliviar as
tensões. As mães procuram
por ela para melhorar o
rendimento dos filhos no
estudo", conclui Margarida.