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az um baita sol em Salvador e contamos
com um desses jipões último tipo pra nos levar aos
lugares de interesse -e a capital baiana tem muitos.
Mas não há por que ficar aqui enrolando: o melhor
da história é que no banco do carona, dando as coor-
denadas a seu motorista, está Gilberto Gil. Há alguns
meses ele havia aceitado nossa ideia de passear em
sua cidade natal com régua e compasso, fazendo coi-
sas que costuma fazer quando está por lá e visitando
lugares que lhe marcaram a infância e a juventude.
Suas tranças amarradas pra trás e o amarelo-ovo do
carro até que nos distinguem nas ruas, mas, como to-
do mundo, estamos reféns do engarrafamento - e a
capital baiana tem muitos. Gil acha natural. “É o mo-
delo que está sendo implantado em todas as cidades
do mundo. Populações migrantes, concentração de
muita gente, cidade inchando, verticalização, asfal-
to, alimentação, shopping centers, supermercados...
É a civilização contemporânea. A gente tem um pou-
co essa ilusão de que a consciência humana destacada
do resto pode acabar encontrando fórmulas e tal, mas
a gente anda junto com todo o resto."
Gil mora no Rio faz tempo, mas mantém sempre
pronta a casa do Rio Vermelho, em Salvador. Pron-
ta mesmo: pode aparecer sem aviso a qualquer ho-
ra do dia ou da noite e vai encontrar a cama feitinha
e perfumada, a geladeira cheia, quem sabe até umas
delícias saindo do forno. Um dos quartos foi adapta-
do, tem as paredes forradas como em estúdios pro-
fissionais, e assim ele pode tocar violão e compor até
amanhecer se der na telha. Enfim, a cidade é um lu-
gar que lhe tem servido quando precisa descansar
e curtir-e era bem isso o que andava fazendo quan-
do nos encontramos pra esse rolê, repleto de filosofa-
das, emoções e reticências.
90 setembro 2009 VIAGEM E TURISMO
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