CLIENTE: Gilberto Gil
VEICULO: Folha de S. Paulo - SP
CLIPPING SEÇÃO: Ilustrada
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DATA:
26/08/2008
Crítica/show
No Rio, João Gilberto aplaude e pede bis
Acompanhado pela platéia em 'Chega de Saudade', músico surpreende ao solicitar novo 'sussurro'e diz: "Não quero mais ir embora!
Rafael Andrade imagem
O músico anteontem, no Teatro Municipal do Rio, aplaude o público,
que retribuiria com cinco minutos de aplausos ao final
Discípulos, Gil, Caetano e Macalé
exaltam a apresentação do músico
extraordinário", exaltou Gil
berto Gil. "E perceber os dife-
renciais, cada nova nuance em
cada nova canção, vê-lo garim-
par coisas extraordinárias, can-
So a lista de João Gilberto e
de sua namorada, Cláudia Fais-
sol, tinha 95 nomes. E os VIPS
de sempre voltaram a ocupar o
fosso da orquestra, na boca do
palco, como no show de Rober-
qes que nunca ouvi ou de que
não me lembrava, os melismas
que ele sutilmente fez em Rosa
Morena' e 'Samba do Avião.
Ele estabelece uma atmosfera
to Carlos e Caetano Veloso, na ouve os passos das formigas
dentro das canções."
última sexta-feira,
Dentre os convidados que
ocuparam a platéia e o balcão
nobre do Teatro Municipal, es-
tavam alguns dos mais conhe-
cidos discípulos de João.
Caetano Veloso destacou
"Treze de Ouro" e a citação de
uma canção de Severino Filho,
dos Cariocas, pois nunca tinha
ouvido João interpretá-las.
Achou muito bonito o cantor
"Ouvi-lo cantar e tocar é algo
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
MARCO AURÉLIO CANONICO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
deixar o público conduzir
"Chega de Saudade", mas disse
já ter visto a cena em outras
apresentações.
do show), porque o melhor é ele
"Não foi o melhor (momento
cantando. Mesmo nas músicas
de sempre, ele sempre faz dife-
rente", afirmou Caetano.
Outro espectador experiente
gues elegeu o show de domingo
como o melhor do artista que já
viu. "Nunca o vi tão solto, ale-
gre, feliz. Foi um sonho", disse.
Jards Macalé sentou na pri-
meira fila, bem diante do ami
go."Não roubei os acordes, mas
observei bem", brincou.
Gostei desse
sussurro. Vamos fazer
de novo?
JOOGILBERTO
o fim de Chega de Saudade', após ser
acompanhado pelo público
Não quero mais irem-
Sótem um problema.
boral
depois de acompanhar o público
ao viole
aos contracantos em Chega de Saudade
Eu disse queia, mas
não vou
antes de começar a cantar O Pato
Cadê vocês? Quém,
qüém...
improvisando, em meio ao refrão de
"O Pato
RUY CASTRO
COLUNISTADA FOLHA
om 55 minutos de atra-
so (ninguém recla-
tal ("Você Já Foi à Bahia?",
"Doralice" e "Rosa Morena") e
na pequena jóia "Treze de Ou-
ro", de Herivelto Martins e Ma-
rino Pinto, criada pelos Anjos
entrou no palco do Teatro Mu- blico mostrou que estava ao seu
nicipal do Rio, na noite de do- lado, apurando os ouvidos e se
mingo, e selou um pacto de esforçando para não respirar,
amor com a platéia carioca, pa ofegar ou ter crises de asma
ra a qual não cantava desde Em "Meditação", de Tom e
1994. Foi longamente aplaudi- Newton Mendonça, e "Precon-
do em todos os 30 sambas e ceito", de Wilson Batista e Ma-
canções que desfiou durante rino Pinto, o volume parecia
uma hora e 20 minutos, repe- restabelecido. Com "Samba do
tindo boa parte do repertório Avião", só de Tom, já estáva-
que apresentara em São Paulo mos em velocidade de cruzeiro.
na semana anterior. Mas, quase Então, a inesperada delicia:
ao fim, deu-se uma surpresa. sua interpretação de dois movi
Ao começar "Chega de Sau- mentos da "Sinfonia do Rio de
dade", de Tom e Vinicius, foi Janeiro", de Billy Blanco e Jo-
acompanhado à meia-voz pela bim, cantados originalmente,
platéia. Sabendo-se que ele não em 1954, por Dick Farney e No-
gosta de interferências exter- ra Ney. São conhecidos regis
nas enquanto canta, alguns ge- tros particulares por João Gil-
laram -como João Gilberto berto dessa antecessora direta
iria reagir? Pois ele levou o da bossa nova, mas ele nunca a
samba até o fim. Quando termi- gravou comercialmente. O ci-
nou, fez uma pausa e disse, sor- clo Jobim, com vários parcei-
rindo: "Gostei desse sussurro. ros, continuou com "Ligia",
Vamos fazer de novo?". E pu- "Caminhos Cruzados","Desa-
xou um novo "Chega de Sauda- finado", "Corcovado" e, mais
de", com a letra inteira sendo impressionante, um "Retrato
cantada duas vezes pelo públi- em Branco e Preto em que ele
co, e ele, com ar de grande satis- exibiu seus incríveis foles de 77
fação, acompanhando-o ao vio- anos, sustentando as frases
lão e aos contracantos longuíssimas e mortiferas.
Ao aplaudir a platéia, excla-
mou: "Só tem um problema.
Não quero mais ir embora!".
Então, arregaçou a manga do
braço direito, como se os traba-
Thos fossem começar ali. Ata-
cou de "Garota de Ipanema", da
qual o público também partici
pou, e fechou com um "O Pato"
cheio de quebradas diferentes,
vocalizes e truques de conjun-
tos vocais. Só então saiu do pal
co. Foi aplaudido por cinco mi-
nutos, mas não voltou. Tudo
bem. Os sorrisos nos rostos, nas
escadarias do Municipal, eram
a prova de que todos tinham
caldo no visgo do sedutor.
Mas, no começo, houve quem
temesse pelo pior. João Gilber-
to entrou cantando ainda mais
baixo que de costume, como se
não soubesse o que esperar da-
quela noite. Foi assim nos três
Caymmis com que abriu o reci-
Vendo-o ao vivo, é fácil en-
tender por que ele se diz um
"cantor de sambas". Foi com
indisfarçável prazer que se en-
tregou a "Isto Aqui, o que É?",
de Ary Barroso, "Não Vou Pra
Casa", de Antonio Almeida e
Roberto Roberti, e "Tim-tim
por Tim", de Geraldo Jacques e
Haroldo Barbosa. Nesta, lem-
brou-se dos Cariocas, que a lan-
çaram, e os chamou de "profes-
sores de música do Brasil". Ci-
tou seus nomes um por um e
perguntou, "Cadê Os Cario-
cas?". Não por acaso, dois deles,
Badeco e Quartera, integrantes
originais do conjunto, quase
chorando, estavam nos cama-
rotes, misturados às celebrida-
des, estas ignoradas pelo públi-
co diante do astro maior.
Avaliação: ótimo
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