John Philip Simpson Portugal, 1834-1837 Óleo sobre tela 129,8 x 102 cm Não assinado. Não datado.
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Detalhes
Título: D. Pedro, Duque de Bragança
Descrição detalhada: D. Pedro, comandante em chefe do “exército libertador”, traja uniforme militar neste retrato quase de corpo inteiro, ostentando ao pescoço a insígnia do Tosão de Ouro e ao peito as placas das Três Ordens (em cima) – que reúne numa só insígnia as Grã-Cruzes das Ordens Militares de Cristo, de Avis e de Santiago – e da Ordem da Torre e Espada, do valor, lealdade e mérito (em baixo), cujas bandas enverga (banda de seda com as cores verde, vermelho e púrpura e banda de seda azul ferrete, respetivamente). O monarca, ligeiramente a três quartos, porém de forma quase frontal, executa um movimento de ombros e de mão, com a qual segura o chapéu armado, enquanto a outra mão segura o punho da espada.
D. Pedro está penteado à moda da época, com cabelo encaracolado e apartado a um lado, e bigode, mosca e barba que delineia o maxilar.
Este quadro, propriedade da família real, foi pintado por John Simpson durante a sua estadia em Portugal em 1834 e quiçá também em 1837. Segundo Bénézit (“Dictionnaire Critique et Documentaire de Peintres…”, 1976) o pintor inglês esteve ao serviço de D. Pedro em 1834, mas não especifica se chegou a Portugal antes ou depois de 24 de setembro, data da sua morte. Certo é que foi pintor de D. Maria II, recém-coroada, de quem pintou vários retratos.
Relativamente à questão do retrato de D. Pedro se tratar de uma obra póstuma, três fatores sustentam esta hipótese:
- Os traços do rosto de D. Pedro divergem das feições captadas por João Baptista Ribeiro nos retratos que fez do natural durante a permanência do monarca no Porto (1832-1834), onde se aprecia melhor o desgaste físico causado pela exigente rotina diária durante o Cerco do Porto. Porém, esta certa idealização e expressividade contida na face do rei é uma característica comum na retratística de Simpson.
- A presença da insígnia da Ordem da Torre e Espada, do valor, lealdade e mérito, ordem militar criada por D. Pedro em 1832 que coexiste no decurso do cerco do Porto com a Ordem da Torre e Espada do Valor e Lealdade, sob alçada do rei D. Miguel. Trata-se de uma placa pentagonal de ouro, em raios abrilhantados, carregada de uma estrela da Ordem, com uma torre coberta, de ouro, entre as duas pontas superiores. Neste sentido, convém lembrar que o primeiro ato de governação da rainha D. Maria II seria a concessão da “Grã-Cruz da antiga e muito nobre Ordem da Torre e Espada do valor, lealdade e mérito” ao pai agonizante, “testemunho do vivo amor, respeito e gratidão” para com a sua augusta pessoa, como recolhido na Carta Régia escrita no Palácio de Queluz a 20 de setembro de 1834, poucos dias antes da sua morte.
- As palavras do Marquês de Resende (Elogio historico de Sua Magestade Imperial o Senhor D. Pedro…, 1837) acerca de uma cópia do quadro do pintor londrino: “(…) Mandou A Senhora Duqueza de Bragança tirar huma Copia do Quadro, onde a viveza de Sua imaginação guiando o pincel de hum artista [John Simpson], que só vîra huma vez Seu Idolatrado Espozo, fêz reproduzir perfeitamente Suas Feiçoens (…)”. Posteriormente, na edição de 1867, retifica: “(…) um artista que poucas vezes o vira (…)”. Ambos comentários refletem a ausência de convivência entre John Simpson e D. Pedro, necessária no processo de execução de um retrato oficial feito do natural. Diferente é o caso, por exemplo, de J. B. Ribeiro, cuja convivência com o monarca é bem conhecida.
SOBRE JOHN SIMPSON
Pintor especializado no género do retrato, estudou na Royal Academy e foi um dos mais importantes colaboradores de Sir Thomas Lawrence, auxiliando ativamente em vários retratos da fase final do mestre e completando diversos retratos inacabados após a sua morte. É possível que tenha dado resposta a certas encomendas que solicitavam a cópia de retratos executados por Lawrence, como se sabe ter acontecido com Richard Evans, outro dos assistentes do pintor.
Na produção de Simpson destaca-se “O escravo cativo”, arrojada pintura exposta na Royal Academy em 1827 que expressa a sua postura favorável à abolição da escravatura, que apesar de ilegal no Reino Unido ainda era uma realidade nas colónias. Tratava-se de um polémico assunto no contexto sociopolítico da época e da Royal Academy, sobretudo tendo em conta que a abolição da escravatura nas colónias só se efetivaria totalmente em 1833 através de uma lei do Parlamento, o Slavery Abolition Act.
O modelo da pintura foi Ira Aldridge, então com cerca de vinte anos, afroamericano nascido livre e primeiro ator shakespeariano de ascendência africana a trabalhar nos cenários teatrais londrinos e europeus, interpretando papéis como Shylock, Macbeth, Richard III e o Rei Lear.
Criador: John Simpson (Enfield, 1782-Londres, 1847)