Este é um dos diversos quadros em que José Moreno Carbonero (1860-1942) retrata cenas do Dom Quixote, de Cervantes. No final do século XIX, na Espanha, muitos artistas se empenharam em retratar temas que apelassem ao orgulho nacional e à ideia de herança cultural da Época de Ouro do império. Carbonero, que era professor catedrático de desenho na Academia de Belas Artes de San Fernando de Madri, alcançou enorme fama em sua época por trazer à vida, sem ares de fantasia, como se fossem cenas reais e presenciáveis, tanto acontecimentos históricos quanto representações desse que é um dos maiores símbolos nacionais espanhóis. Neste quadro, Quixote parece escutar o que diz ou canta seu companheiro Sancho Pança, em uma cena que, em geral desprovida de acontecimentos, foca nossa atenção apenas na carga simbólica que a presença dessas personagens é capaz de evocar. Mas note-se como, no esquema geral da composição, as cabeças do Quixote e de seu cavalo mantêm-se fora do triângulo marcado pela sua lança e que inclui totalmente Sancho Pança e seu burrico – talvez sugerindo o alheamento mental do Cavaleiro, tanto na cena quanto na vida.