Artista visual, arte-educador e professor, Antonio Obá transita por múltiplas linguagens, e seu trabalho busca recuperar e reinterpretar criticamente acontecimentos históricos relacionados à trajetória da população negra em diáspora. É o caso de Dupla autorretrato — Wade in the Water II, cujo subtítulo, que em português pode ser traduzido como “cruzem as águas”, faz referência a uma canção de mesmo nome, composta por pessoas escravizadas nos Estados Unidos e gravada por Ramsey Lewis (1935-2022) em 1966. Na letra de uma das versões, crianças vestidas de vermelho caminham sobre as águas. Na pintura, é o próprio artista que sustenta o ato simbólico de elevação e ressignificação da vida ao representar a si mesmo carregando uma dessas crianças nos ombros. Proporção, volume e perspectiva são recursos da linguagem visual que aproximam a imagem de uma configuração realista, enquanto a disposição livre da luz e o cenário aparentemente sem relação com a ação realizada pela dupla dão o caráter onírico da obra. A água também faz menção a um episódio que integrou os Monson Motor Lodge Protests (Protestos do Monson Motor Lodge), quando, em 1964, ativistas pelos direitos civis, tanto negros quanto brancos, invadiram o hotel de mesmo nome localizado na Flórida, e pularam na piscina, como forma de protesto à prisão de Martin Luther King (1929-1968), que naquele mesmo ano havia tentado almoçar em uma área segregada do restaurante do hotel. Para Obá, cruzar as águas, ou seja, atravessar essas ondas históricas, de modo a subverter todas as dificuldades intrínsecas ao processo, tal qual na pintura e na canção que a inspira, pode ser considerado um feito de ordem milagrosa. — G.B.
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