Tambores

Composição com parte de um rosto (nariz e olho) geometrizado, parcialmente encoberto por feixes de diagonais, projectados em várias direcções e cujos pontos de convergência se perdem, já fora da composição. A obra "Tambores" é testemunho da transição para o abstracionismo puro a que o artista em breve entregaria toda a sua prática pictórica, a presença do rosto só vagamente evoca uma fisionomia, focando-se na forma da área iluminada, zona de luz modulada em triângulo, cujo vértice é a base do olho, único elemento verdadeiramente fisionómico aqui presente. A paleta é estreita, depurada, anunciando já a "paleta natural", que Lanhas definiria na década seguinte, a partir de seixos rolados, em busca de síntese e harmonia da sua produção artística com a Natureza. Outras obras de Lanhas deste período (anos 40), que poderiam situar-se num proto abstracionismo, têm títulos de referente musical, suscitando ainda algum tipo de associação de formas a sons, o que aliás caracteriza grande parte das experiencias iniciais do abstracionismo europeu. Esses títulos ("Violino", "Canção triste", etc.) seriam substituídos, pelo próprio artista, por uma combinação de siglas e números que as inseriu num "corpus" próprio de experiências, assim tornadas exercícios sistemáticos, momentos de um percurso claro e premeditado. "Tambores" escapa, por razões que desconhecemos, a essa normalização auto-imposta. Plural e multifacetada, a produção de Fernando Lanhas transcende largamente a espectável ,considerada a sua formação em arquitectura. Atento e estudioso da Natureza, do Cosmos e, enfim do Universos em seu redor, encontra aí os caminhos da pesquisa plástica que o conduziria, de modo pioneiro, ao Abstraccionismo.