Esta figura da classe alta parisiense de fins do século dezenove repousa de tal modo atravessada na tela que seu corpo esticado parece estar afundando no divã, desacordado. Não fosse pela mão retorcida que mantém estável a xícara de café, poderíamos julgá-la absolutamente relaxada ou submersa no mais profundo desânimo. Há um forte contraste entre a opulência que a reveste e a forma como, no repouso, rende-se à total falta de brio. Trata-se de um olhar realista sobre o ambiente privado, ao mesmo tempo opulento e vago, da bourgeoisie do fim do século. A imagem, no entanto, parece encontrar um comentário irônico na mão que segura a xícara – afinal, nem repouso, nem desânimo a fizeram pôr de lado o cafezinho – e o quadro se sustenta nessa instável diagonal entre alguma profundidade psicológica e a banalidade posada que talvez lhe tire de cena. A técnica pictórica de Ernest Ange Duez (1843-1896) era chamada de “juste milieu”, algo como um “bom meio-termo”, por tentar equilibrar o estilo acadêmico dos Salões com a influência impressionista.