Esta pequena tela é um estudo preliminar para a pintura "Fuga da Sacra Família para o Egito", executada por Almeida Júnior durante o período que passou em Paris como pensionista do imperador Dom Pedro II, quando trabalhava sob orientação do mestre francês Alexandre Cabanel (1823-1889). Quando retornou ao Brasil, em 1882, o artista ofereceu a tela final, de grandes dimensões, ao imperador. Em 1884, a obra passou a integrar o acervo do Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.
Este episódio, bastante comum na história da arte, é narrado no Evangelho segundo Mateus: “Após sua partida, eis que o Anjo do Senhor manifestou-se em sonho a José e lhe disse: ‘Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito. Fica lá até que eu te avise, porque Herodes procurará o menino para o matar.’ Ele se levantou, tomou o menino e sua mãe, durante a noite, e partiu para o Egito” (Mt 2, 13-14).
O estudo retrata Maria, mãe de Jesus, sobre um burrico que bebe água de uma poça, com o filho ao colo, brincando com o véu. O carpinteiro José lança um olhar em direção a eles e os acompanha a pé, carregando uma trouxa apoiada num cajado sobre o ombro direito. O grupo, que está contra a luz difusa do sol poente, aparece organizado em forma piramidal. A mesma forma se repete em escala reduzida na esfinge e na pirâmide ao fundo, indicando que a família já está no Egito. Uma figura, possivelmente um anjo, paira sobre o grupo central. Segundo tradição oral relatada por Afonso d’Escragnolle Taunay (1876- 1958), Cabanel teria aconselhado seu pupilo a removê-la da composição final. Neste belo estudo, Almeida Júnior conseguiu criar uma atmosfera de paz e tranquilidade por meio de uma paleta limitada, porém sofisticada, de tons terrosos, rosas, brancos e amarelos. A obra apresenta efeitos de luz de maneira bastante fluente, fundamentando, assim, a aproximação, tantas vezes proposta, do artista com o movimento impressionista francês.