Este é um pequeno estudo para a tela final de mesmo título datada de 1888, que valeu a Amoêdo a prorrogação de seu pensionato artístico em Paris. O trabalho final, que hoje é parte do acervo do Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, valeu ao artista o seguinte parecer da Academia Imperial de Belas Artes: “volta dessas terras tão bem fadadas para a arte, um artista completamente feito e com as provas que attestão o seu estudo, a sua applicação e o seu saber.”
Cafarnaum, na margem norte do mar da Galileia, é a cidade onde Jesus se estabeleceu após ter deixado Nazaré e onde realizou muitos de seus milagres. A tela de Amoêdo parece referir-se à estadia de Cristo na cidade, sem se prender a uma narrativa específica ou remeter a algum trecho dos Evangelhos. A tela apresenta a figura de Cristo descendo os degraus à esquerda, trajado de vestes brancas e com cabeça circundada por uma auréola. Duas figuras se destacam no estudo de Amoêdo. A primeira, que parece beijar a mão de Jesus, poderia ser o leproso por ele curado e mencionado no Evangelho segundo Mateus (Mt 8, 1-4). A segunda, representada mais à frente por um corpo inerte reclinado sobre uma esteira de palha, poderia ser o paralítico também curado por Jesus em Cafarnaum e relatado por Mateus (Mt 9, 2-8).
Grande conhecedor do ofício da arte, Amoêdo demonstra sua fluência técnica neste pequeno estudo com sua economia de efeitos, e a qualidade da fatura de suas pinturas, sempre sólidas, líricas e, acima de tudo, corretas. Gonzaga Duque escreveu a respeito da pintura final: “O assumpto, como se comprehende, estava deslocado do tempo e em contradição com a natureza do artista. Apezar dessa anomalia, o professor Amoêdo, se não pintou um quadro de fé, como lhe não era dado fazel-o, procurou compôl-o de accordo com as suas vagas sympathias pelo comtismo, considerando o Christo um mytho cultivado pela crendice”.