CO-1375
Costa, Álvaro M. Ribeiro da. [Carta] 1950 out. 27, Rio de Janeiro, RJ [para] Candido Portinari, Paris. 2 p. [manuscrito]
Meu caro Portinari.
Respondo com certa demora sua última carta, devido aos acontecimentos eleitorais. Os resultados mais importantes devem ser, agora, do seu conhecimento. Ficarei na Presidência do T.S.E. até janeiro. Em março, se não for impossível, irei à Europa.
Tivemos notícia de sua vilegiatura pela província francesa. Ficamos, por isso, desligados de seu endereço para comunicar o nascimento de Paulo Sérgio, que está robusto, bonito e alegre.
Você me fala de coisas assombrosas e estranhas: museus, Rembrandt, a praia de [ilegível], ruínas da Casa de Santos Dumont e a saudade de Brodowski. Desconheço essas sensações e emoções, tão radicado me sinto à nossa terra, onde não dá gosto de viver, tamanha a vulgaridade que nos cerca, vulgaridade generalizada, essa estúpida maneira de viver contemplando um mundo de sombras.
Não falarei em política porque não adianta: mergulharemos, em breve, outra vez na rotina gaúcha, a mais aviltante dominação caudilhesca que se impõe como u fatalismo à nossa vida social.
Se, infelizmente, você aí não tem inspiração e ambiente para as grandes criações, venha ao nosso meio para expandir a sua arte maravilhosa.
José Paulo publicou recentemente uma série de poemas, apreciados pelo [ilegível], Aníbal e Murilo. Em uma revista acaba de lançar trabalho crítico sobre você e sua Sra. Certamente, enviá-lo-á por esses dias. Adalita agradece sua lembrança. Todos bem – enviam saudades a Maria, João Candido e ao querido amigo. Recebemos, aqui, suas ordens.
Abraço do sempre seu
Álvaro
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