The Botanical Factory faz parte de um corpo de trabalho maior, The Botanist, no qual o artista usa narrativas culturais e históricas sobre a árvore fruta-pão para investigar questões referentes à transplantação, à hibridização cultural e a relação histórica entre material, invenção, trocas e migração. Sua obra, feita com folhas da fruta-pão, lembra impressões botânicas, pinturas com tinta chinesa, tecidos polinésios (conhecidos como tapa), tecidos oridos coloridos e botânicos, tudo parte de sua métissage (miscigenação) cultural, ao crescer Hakka chinês na ilha do Taiti, na Polinésia Francesa.
Durante a exposição Made by... Feito por Brasileiros, Lee apresentou The Botanical Factory, uma instalação ao vivo, em que o público era convidado a pintar folhas da fruta-pão a partir de moldes de silicone feitos da árvore de sua infância, no Taiti. A instalação consistia em uma grande mesa de workshop, em cima da qual tecidos coloridos eram postos e impressos, com a participação de um público enorme e de diversas crianças de São Paulo. Durante o processo o artista contava aos visitantes a lenda taitiana do Rua-ta’ata, que se sacrificou e transformou seu próprio corpo em uma árvore de fruta-pão para poder alimentar seus lhos e sua esposa, que estavam famintos. No m do encontro, os tecidos eram colocados para secar em grampos ao longo do teto da instalação. A árvore fruta-pão é um elemento essencial na cultura e na dieta da Polinésia. Joseph Banks, o botânico que foi à primeira Voyage of Discovery, de James Cook, reconheceu o grande valor nutricional da planta e a transplantou para o Caribe, onde os colonizadores britânicos a usavam para alimentar os escravos nas plantations. Hoje em dia é considerada uma supercomida, com potencial para erradicar a fome mundial.
Tomado como um todo, The Botanical Factory é um projeto sobre processos narrativos, sobre a perpetuação da herança cultural e sobre a maleabilidade de sinais visuais em um mundo em constantes mudanças. A fruta-pão, como um símbolo de sustento para os polinésios, torna-se uma questão de troca colonial para os britânicos e, no contexto do Brasil, uma parábola visual para transplantação e métissage. Neste projeto, o artista efetivamente construiu um espaço de encontro e reatuação de atividades comuns tradicionais, de mecanismos de contar histórias e de uma troca de processos culturais com o público brasileiro.