"[...] Preocupo-me com a energia e o equilíbrio das estruturas que crio. Existe energia nas coisas e entre as coisas. A natureza não é inanimada.
A luz desfigura o mundo. Cria fantasmas perecíveis. Eu me contento com o pigmento, que é simultaneamente luz e cor. Eu sinto que me transmuto nas formas que pinto. Esses retângulos escuros que boiam no nada são uma outra maneira de eu ser."
MARTINS, Vera. Iberê Camargo, prêmio de pintura da Bienal. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 12 set. 1961. (Fala de Iberê Camargo).
"As telas quase negras do início da década de 1960, as Fiadas de carretéis não provêm dos pacíficos espaços da pintura em pesquisas de cunho meramente formal. Ao contrário, são a própria convulsão em ato de pintar, pois os carretéis, em suas estranhas fiadas encadeadas pelos suportes, testemunham o embate com a matéria pictórica retraída de luz. São pinturas que testemunham em sua fatura os gestos que as constituíram, seu encadeamento próprio e sistemático, o que provém do interior dos quadros para o exterior. Um plasmar turvo ecoa na substância pictórica dessas telas, são as marcas indeléveis deste embate, ao ser precipitada compulsivamente uma camada de tinta sobre a outra, fazendo emergir os carretéis no sinistro espaço que os abriga."
ZIELINSKY, Mônica. A inquietude da arte. In: ZIELINSKY, Mônica; DUARTE, Paulo Sergio; SALZSTEIN, Sônia. Moderno no limite. Porto Alegre: Fundação Iberê Camargo, 2008. p. 18-19.