A azulejaria portuguesa que se enquadra na temática das chinoiseries convive no tempo com a estética rocaille, como ocorre, de resto, na Europa. No entanto, ela persistirá ainda com o advento do Neoclássico, este sim, um aspeto já particular ao espaço geográfico-artístico nacional. Esta convivência estreita não é de estranhar, visto muitos dos desenhos que serviram de base a ambos os estilos ou temas terem sido concebidos pelos mesmos artistas, como François Boucher (1703-1770) ou Jean Pillement (1728-1808), para citar somente alguns daqueles cujos trabalhos tiveram importância, mais ou menos direta, na azulejaria nacional. É precisamente a partir de desenhos de Boucher que Gabriel Huquier, filho (1730-1805), grava, cerca de 1742, doze pranchas que denominaria Scènes de la Vie Chinoise. Estes temas tiveram grande repercussão na azulejaria produzida em Lisboa a partir do último quartel do século XVIII, conhecendo-se vários conjuntos que as empregaram, de forma mais ou menos livre. Este painel, provavelmente dos anos 40-50 do século XVIII, usando apenas o azul, é uma peça que não estará muito distante da produção das famosas tapeçarias de Beauvais que, a partir de 1742, começa a produzir peças a partir de desenhos de Boucher que foram decisivos na expansão do gosto pela chinoiserie. Foram empregues neste painel duas gravuras de Arnoldus Montanus, de 1669: "Indumentária de Damas Japonesas" e um "Nobre Japonês". Nas tapeçarias de Beauvais podemos encontrar diversos elementos das gravuras de Montanus, através dos cartões de François Boucher, que aproximam as cenas destes painéis de um quotidiano mais real e menos idílico do que a forma como eram mais frequentemente apresentadas estas representações do mundo oriental.