Abandonada é uma interpretação ocidentalizada do século XX da ideia do amante rejeitado, com raízes nas tradições literárias do subcontinente indiano e da Pérsia. Inspirado em Nayika, personagem popularizada pelos poetas Hindus dos séculos XVI e XVII, este ideal da mulher apaixonada foi prontamente apropriado pelos pintores das cortes do Rajastão.
A modelo veste um sari azul com borda dourada estreita, cor que se acredita estar associada à decepção. O sari é usado com um choli azul-claro contrastante, com grandes círculos e um profundo decote. As longas madeixas do seu cabelo preto estão apanhadas num coque. Na sua mão esquerda, pode-se ver uma espécie de tatuagem que parece ser um mehndi. O seu pulso é ornamentado com pulseiras de desenho tradicional em ouro, o pescoço com duplo fio de ouro e as orelhas com brincos de brilhantes. Deitada no chão ao lado de uma cama coberta com uma rica colcha dourada, esta cena está carregada melancolia e rejeição. Ao fundo uma lâmpada com uma chama mortiça representado a longa espera pelo seu amante. Esta chama é também uma metáfora do coração ardente, em contrate com as longas madeixas escuras simbolizando a longa e negra noite de separação.
O impacto emocional e a importância cultural desta obra continuam a atrair a atenção do observador contemporâneo com a mesma intensidade do que na década de 1920.
Referências: Shihandi, Marcella, et al, António Xavier Trindade: An Indian Painter from Portuguese Goa (catálogo de exposição), Georgia Museum of Art, University of Georgia, 1996; Tavares, Cristina Azevedo et al, António Xavier Trindade: Um Pintor de Goa (catálogo de exposição), Lisboa, Fundação Oriente, 2005; Gracias, Fátima, Faces of Colonial India: The Work of Goan Artist António Xavier Trindade (1870-1935), Panjim, Goa, Fundação Oriente, 2014.
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