"Conheci Iberê através de Tatata Pimentel, com quem trabalhava em 1979, na Galeria do Centro Comercial. Ele visitou a galeria num sábado e fomos conhecer o ateliê dele na segunda. Houve uma imediata empatia entre nós, e, para nossa surpresa, sorte e delírio, ele nos deu um álbum de pastéis, da série Carretéis, para comercializar. Foi um começo muito poderoso e que se manteve nessa potência até a morte dele, em 1994. Foi um empurrão que ele nos deu, uma alavanca, que nos levou para frente, para tentar estar à altura de sua generosidade.
A primeira exposição de Iberê que fizemos em Porto Alegre foi muito bem-sucedida, inaugurou toda vendida, o que o surpreendeu muito. Abri minha própria galeria em abril de 1981, e, seis meses depois, já morando na cidade, Iberê começou a preparar uma nova exposição, inaugurada em abril de 1983. Foi quando lançamos, a nível nacional, a série Dados e as [mais recentes] tapeçarias realizadas por Maria Angela Magalhães – que estava presente na abertura. Elas foram uma surpresa, são extremamente sofisticadas, têm uma transcendência de cores magnífica, são muito exclusivas e têm o padrão de excelência de Iberê. Faz quase 40 anos que não são vistas…
Quando Iberê fez 70 anos, coordenei exposições nas galerias Luisa Strina, em São Paulo, e Thomas Cohn e Cláudio Gil, no Rio; ações que ajudaram a tornar Iberê um artista nacional. Sei o quanto isso se deve à qualidade da sua obra, mas também ao nosso trabalho, de conseguir penetrar em outras áreas do país – como submarinos – dizia ele. Iberê tinha as intempéries de um artista e procurava sempre o melhor, mas se tu entendesses esses meandros, fizesses tudo na máxima potência, tudo ia bem."
Depoimento de Tina Zappoli em fevereiro de 2020 para a exposição Iberê Camargo – O Fio de Ariadne. A versão estendida, em vídeo, encontra-se no YouTube da Fundação Iberê.